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Jânio Quadros e as Forças Ocultas: o Gol Contra da História

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 22 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 29 de nov.

Jânio Quadros, recém-eleito presidente do escrete brasileiro e sua famosa vassourinha anti- corrupção.
Jânio Quadros, recém-eleito presidente do escrete brasileiro e sua famosa vassourinha anti-corrupção.

O craque da moralidade tropeçou na própria vassoura


Jânio Quadros entrou em campo na política brasileira como quem promete mudar o placar de um campeonato inteiro. Eleito presidente em 1960, assumiu em 1961 ostentando a famosa vassoura e o terno amassado, símbolo de sua cruzada moralizadora.


Era o novo ídolo da arquibancada nacional, o jogador que jurava varrer a corrupção, organizar o time e devolver esperança à torcida cansada de tantos empates, viradas suspeitas e decisões por tapetão. O país, naquele momento, queria acreditar. Mas, como em muitas partidas decisivas, o gramado era mais escorregadio do que parecia.


Logo nos primeiros meses, o moralista descobriu que governar não era como executar um drible de efeito. As promessas começaram a se transformar em tropeços e o técnico que declarava estar acima da política acabou enredado nas próprias chuteiras.


Dribles Arriscados e a Ilusão de Jogar Sozinho


O governo de Jânio Quadros foi uma sequência de passes arriscados, alguns brilhantes, outros completamente desastrosos. Sua principal falha talvez tenha sido tentar jogar como um solista em um esporte coletivo. Ignorou o time, desprezou o banco de reservas e acreditou que apenas sua “vontade limpa” seria suficiente pra mudar o destino das partidas num campeonato nacional muito disputado.


As jogadas perigosas não tardaram a aparecer. Entre decretos inusitados, embates com militares, atritos com empresários e decisões desconcertantes, Jânio acumulou adversários. A política externa independente, que buscava reaproximar o Brasil do bloco socialista, deixou conservadores em estado de alerta.


O Dia em que Jânio Condecorou Che Guevara


O presidente Jânio Quadros entrega medalha a Ernesto Che Guevara, o que desagradou bastante o time dos militares brasileiros.
O presidente Jânio Quadros entrega medalha a Ernesto Che Guevara, o que desagradou bastante o time dos militares brasileiros.

E o lance mais polêmico veio em agosto de 1961: a condecoração de Ernesto Che Guevara. O drible ousado irritou profundamente a direita, inquietou empresários, alarmou militares e, ironicamente, nem garantiu o aplauso automático da esquerda.


A Renúncia Teatral e o Silêncio das Arquibancadas


Em vez de unir o vestiário, Jânio aprofundou fissuras. Quando o placar começou a virar contra ele, Jânio apelou pro golpe teatral. Em 25 de agosto de 1961, renunciou à Presidência alegando estar cercado por “forças terríveis e ocultas”, seja lá o que fosse isso.


Imaginou ser carregado de volta pela torcida, como um craque incompreendido que sai do campo esperando o clamor pra retornar por cima. Só que o estádio ficou em silêncio. A renúncia de Jânio Quadros, que pretendia ser um xeque-mate moral, virou um ato de isolamento. O país seguiu o jogo sem ele.


Substituição na Equipe: Sai Jânio, Entra Jango


No vácuo de sua saída abriu-se uma crise política, que só se resolveu com a posse de João Goulart sob o parlamentarismo. O clima de instabilidade se arrastou até 1964, quando o golpe militar assumiu o comando da partida. Jânio, sem querer, ou talvez querendo mais do que imaginava, chutou a bola pro campo dos generais.


Sua trajetória até o Planalto ajuda a explicar seu estilo errático. Formado em Direito e inicialmente eleito suplente de vereador em 1948 após cassações do PCB - Partido Comunista Brasileiro, Jânio construiu sua reputação como defensor radical da moralização do serviço público.


Como prefeito de São Paulo, em 1953, promoveu demissões em massa dentro de sua “cruzada moral”. Depois, como governador de São Paulo, manteve postura oposicionista mesmo sendo o estado o maior beneficiado pelo Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Desde o início, era um político que confiava mais na própria imagem de “faxineiro da República” do que no trabalho coletivo.


O Retorno nos Anos 1980 e o Fim da Carreira


Após a renúncia e o período de isolamento, retornou à vida pública na redemocratização e foi eleito novamente prefeito de São Paulo em 1985, cumprindo mandato até 1988. Jânio Quadros morreu em 1992, deixando uma trajetória marcada por moralismo, teatralidade e imprevisibilidade.


As “Forças Ocultas” e o Brasil que Ainda Busca Salvadores


E as famosas forças ocultas? Continuam jogando. Com novos uniformes, marketing digital, robôs e discursos inflamados, permanecem ativas em campo. O Brasil, fã de salvadores e de craques solitários, segue acreditando em gols de mão e técnicos milagrosos.


No fim, Jânio Quadros foi o jogador que quis vencer sozinho e acabou expulso por simulação. Um personagem tragicômico de um país que ainda hesita em entender que política é jogo coletivo e que quem joga contra o próprio time entra pra história quase sempre como autor de um gol contra memorável.



 
 
 

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