Comício na Central do Brasil, Último Grande Lance de João Goulart Contra o Golpismo
- Paulo Pereira de Araujo

- 29 de nov.
- 3 min de leitura

Jango no Palanque: o Discurso que Virou Ameaça para Seus Adversários
Sexta-feira 13 de março de 1964. Se tem um dia perfeito pra virada improvável, bola desviada pelo destino e gol contra da própria democracia, foi aquele. A Central do Brasil virou estádio lotado: arquibancadas improvisadas, bandeiras tremulando, povo apertado como torcida em clássico.
E lá tava Jango, nosso camisa 10 em campo enlameado, tentando virar um jogo que tava sendo apitado por juiz comprado nos bastidores. Meio milhão de olhos fixos no gramado, ou melhor, no palanque, esperando a jogada que mudaria o placar da história.
Multidão, Tensão e um Brasil à Beira da Ruptura
Jango entrou falando como quem sabe que tá com o relógio correndo contra: “só conquistaremos a paz social pela justiça social”. Palavra bonita, passe preciso, mas o outro time, aquele das elites, dos militares nervosos e dos engravatados que tremem quando ouvem a palavra reforma, já tava se enfileirando na barreira, pronto pra transformar qualquer chute em motivo pra cartão vermelho.
Desde 1961, o homem jogava com o regulamento debaixo do braço dos outros. Assumiu como vice-presidente puxado às pressas, entrou no campo com esquema tático remendado, e ainda teve que engolir o parlamentarismo, uma espécie de técnico autoritário dizendo quem deve correr, quem deve sentar no banco, quem deve calar a boca. Quando o povo mandou esse técnico embora no famoso plebiscito de 1963, Jango retomou seus passes, mas o clima no vestiário já tava contaminado.
O comício de 13 de março era esperado como final de campeonato. A CGT - Comando Geral dos Trabalhadores fazendo a mobilização, estudantes afinando os cantos, camponeses chegando de trem como torcidas organizadas de regiões distantes. No microfone, Miguel Arraes, José Serra e Leonel Brizola jogavam como pontas incendiários, levantando a galera, talvez até demais.
Brizola, em especial, resolveu chutar de fora da área pedindo o fechamento do Congresso. E olha… em jogo tenso, chute assim costuma virar munição pro adversário.
Jango só entrou às 20h46, com o estádio já fervendo. A primeira-dama Maria Thereza Goulart no banco de reservas, ministros tensos olhando pro juiz, e o presidente falando por mais de uma hora, repetindo “povo” como se fosse mantra, como se isso pudesse fazer as arquibancadas empurrarem o time pra frente. Era um apelo legítimo. Ele precisava do torcedor pressionando o Congresso Nacional, porque o meio-campo parlamentar simplesmente não tocava a bola.
Os ministros militares tavam ali, uma cena curiosa, como ver zagueiro adversário sentado no seu banco. Jango elogiou as Forças Armadas, fez aceno, tentou manter o clima de jogo limpo. Mas elogio nenhum funcionaria pra quem já tinha decidido dar carrinho por trás. No vestiário paralelo, os generais já afiavam suas chuteiras.
Historiadores repetem que o comício foi o estopim. Talvez. Há quem diga que o golpe de 1964 já tava sendo cozinhado desde 1961, quando tentaram impedir sua posse. E, francamente, nunca vi golpe que não tivesse sendo preparado antes da prorrogação.
Três ex-ministros o acusaram de “agitações” e de colocar “agentes do comunismo” nos sindicatos, nada mais que a velha tática do time conservador: inventar que o adversário vai incendiar o estádio pra justificar entrada violenta. O fantasma do comunismo era o VAR da Guerra Fria: sempre acionado quando interessava, sempre decidindo a favor dos mesmos.
Jango endureceu o discurso sim. Falou de paz social e de risco de sangue. Mas logo depois reafirmou que queria caminho pacífico. O problema? O outro lado já tinha decidido que esse jogo não terminaria no apito final legítimo.
O Papel da Imprensa e das Forças Armadas na Desestabilização do Governo
Quando, no dia seguinte, os jornais destacaram a encampação das refinarias de petróleo e berraram que Jango queria violar a Constituição, ficou claro: a crônica esportiva da imprensa brasileira tinha virado torcida organizada disfarçada. Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, todos correram pra dizer que o comício era golpe. Era como acusar o atacante de simular pênalti enquanto o zagueiro adversário vinha com o pé no peito.
A partir dali, cada movimento de Jango virou suspeito. O juiz já soprava o apito antes mesmo da falta acontecer. E pouco depois, o time da democracia foi simplesmente expulso de campo. O resto, meu amigo? O resto foi prorrogação sem torcida e longa demais pra ser esquecida.
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