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Jango no Ataque: As Reformas de Base Que a Elite Tentou Marcar a Ferro

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 29 de nov.
  • 3 min de leitura
Jango avança com as reformas de base e leva um carrinho por trás, das elites golpistas.
Jango avança com as reformas de base e leva um carrinho por trás, das elites golpistas.

Em março de 1964, João Goulart entrou em campo como quem herda um time desmontado, gramado esburacado e torcida dividida. Mas resolveu que ia jogar pra frente. O plano dele? Um conjunto de reformas de base, que, se fossem um esquema tático, dariam algo entre um 4–3–3 ousado e um ataque total do futebol holandês. Chamavam aquilo de “reformas de base”. Eu chamaria de “treino tático de pré-temporada que a diretoria morre de medo”.


Reforma Eleitoral pra Botar Mais Gente no Estádio


A Constituição de 1946 deixava analfabeto e soldado raso do lado de fora, como quem barra o torcedor sem ingresso. João Goulart queria abrir os portões. Mais gente na arquibancada, mais voz na partida. A elite olhou aquilo como quem vê a torcida organizada chegando: lá vem confusão.


Reforma Administrativa com troca de técnico e preparação física


O Estado era um time que tava jogando com esquema da década passada. Industrialização, Juscelino Kubitschek e tudo mais tinham mudado o ritmo da partida, mas a equipe seguia marcando em linha. Jango pediu: “vamos contratar quem entende do jogo”. Técnico, fisiologista, analista de desempenho. A oposição gritou que era modernidade demais pra tão pouco campo.


Reforma Tributária, o Cartão Amarelo pros Ricaços


Aqui Jango resolveu apitar o jogo com firmeza: quem ganha muito, paga mais. Quem ganha pouco, paga menos. Simples como impedimento bem marcado. Mas os cartolas da elite não gostaram de tomar bronca do árbitro. Reclamaram no microfone, correram pro VAR, pro Congresso, pro vestiário e pra onde mais desse.


Reforma bancária pra Abrir Espaço pros Pequenos Tocarem a Bola


Crédito pro campo, Banco Central como volante fixo segurando o meio, organizando a partida e segurando o ímpeto da inflação, um atacante desgovernado. A turma do dinheiro torceu o nariz: preferia jogo sem juiz e sem regra.


Reforma cambial pra Fechar a Defesa


O Brasil tava tomando contra-ataque de moeda estrangeira o tempo inteiro. Jango quis botar dois zagueiros brutos na entrada da área: controlar câmbio, segurar importação de luxo. O povão achou razoável; a elite chamou de retranca socialista.


Reforma universitária, uma Peneira Aberta


Jango queria universidade pra mais gente, liberdade pro professor, mais autonomia. Era como abrir peneira pra todos os aspirantes, não só os filhos dos dirigentes. E ainda por cima com o método Paulo Freire, que ensinava a pensar o jogo. Aí a galera conservadora enlouqueceu: “Vão transformar estudante em camisa 10 consciente!”.


Reforma Urbana, o Impedimento pra Especulação


Limitar o número de imóveis por pessoa. Desapropriar excedentes. Vender pra trabalhador. Jango jogou bola na área e gritou: “quem segura?”. O mercado respondeu: “ninguém toca no meu patrimônio”. Foram direto ao juiz.


Reforma agrária, o Gol que Faria o Estádio Cair


Essa era o pênalti decisivo aos 49 do segundo tempo. Terra improdutiva perderia vaga no elenco. Governo poderia desapropriar. Pagamento seria em títulos públicos, não em malotes de dinheiro vivo. Trabalhador rural ganharia direitos de jogador profissional. Os latifundiários sentiram cheiro de virada no placar e chamaram meio mundo pra pressionar a arbitragem.


E antes mesmo de subir no palanque da Central do Brasil, Jango deu canetada como quem dá carrinho sem pedir desculpa: tomou refinarias privadas de petróleo, desapropriou terras ao redor de rodovias e ferrovias. O juiz nem teve tempo de apitar. O estádio polarizou. Metade vibrou; metade pediu sua expulsão sumária.


Foi ali, naquele jogo conturbado, que aliados viraram rivais, rivais viraram conspiradores e conspiradores começaram a ensaiar o Golpe de 1964. A partida seguia, mas o árbitro, que nunca fora neutro, já soprava o apito com a boca meio torta.


E assim começou a substituição autoritária que logo tiraria João Goulart de campo. Nos vestiários da história do Brasil, seguem discutindo até hoje se aquelas reformas eram o passe que mudaria o campeonato ou apenas o início de uma briga feia na arquibancada.



 
 
 

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