Escolas filosóficas - Parte 1
- campusaraujo
- 30 de mai. de 2023
- 11 min de leitura
Atualizado: 16 de abr.
Esquentando os Motores
Agora que já entendemos o que é e para que serve a filosofia, vamos conhecer algumas escolas e movimentos filosóficos. Um movimento filosófico começa com uma aparente mudança ou com o aumento da popularidade de uma determinada linha de pensamento filosófico sobre um assunto em particular.
A escola filosófica normalmente começava como um agrupamento informal de discípulos ao redor de um filósofo. As fronteiras de identidade e crenças, especialmente na filosofia pré-socrática e na primeira geração após Sócrates (470 a.C.-399 a.C.) geravam discórdias sobre questões centrais.
As principais escolas filosóficas do Período Helenístico foram o estoicismo, o cinismo, o ceticismo e o epicurismo. Todas procuravam estabelecer um conjunto de normas racionais para dirigir a vida individual por meio da ausência do sofrimento para alcançar a felicidade e o bem-estar.
Para aquecermos os motores vou apresentar de forma bem resumida algumas das escolas de pensamento. Não se preocupe com os termos e palavras complicadas porque não há como fugir deles. Isso é importante para termos uma primeira visão da filosofia ao longo do tempo. Trataremos disso com mais detalhes à medida que formos avançando nas próximas postagens.
Estoicismo
Fundado por Zenão de Cítio (333 a.C. – 263 a.C.), tem como foco o ideal do ser humano e confia em um ser autossuficiente. Os fenômenos exteriores à vida como a emoção, o prazer e o sofrimento, deviam ser deixados de lado. A sabedoria está na capacidade do ser de alcançar a felicidade sem precisar de nada nem de ninguém. Aquele que conseguir isso de forma autossuficiente, sem precisar de bens materiais, será mais sábio.
O estoico deve se concentrar em como viver em um mundo onde as coisas não acontecem do seu jeito. A ideia central é a aceitação de todas as coisas que estão além do seu controle. A dor vai passar, você vai permanecer, então o melhor a se fazer é focar no que você pode controlar.
Representantes: Zenón de Citio (333 a.C. – 263 a.C.), Marco Aurélio (121 – 180), Sêneca (04 a.C. – 65 d.C.), Posidonio (135 - 51 a.C.) e Epicteto (50 – 138).
Escola Jônica e a Escola Itálica
A Escola Jônica e a Escola Itálica foram os dois principais ramos do pensamento pré-socrático na Grécia Antiga. A Escola Jônica, representada por Tales, Anaximandro e Anaxímenes, buscava explicações racionais para a origem do universo, focando nos elementos naturais como água, apeíron e ar. Já a Escola Itálica, ligada a Pitágoras e seus seguidores, enfatizava a matemática, a harmonia e a crença na reencarnação da alma. Enquanto os jônicos investigavam o cosmos físico, os itálicos uniam ciência, religião e ética. Ambas as escolas marcaram o início da filosofia ocidental, ao abandonarem a mitologia em favor de uma explicação racional da realidade. |
Cinismo
A palavra cinismo tem origem no termo grego kynismós e é a doutrina filosófica dos cínicos que pregavam o total desprezo pelos bens materiais e pelo prazer. Para os cínicos, a filosofia moral não poderia estar separada do modo de vida dos filósofos. Eles deveriam ser exemplos daquilo que afirmam.
O termo cínico é muito utilizado para se referir a alguém que demonstra, em suas ações e comportamento, algum tipo de descaramento, sarcasmo ou deboche. Em sentido figurado, o cinismo tem uma conotação pejorativa, pois designa uma pessoa aguda e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais.
Ceticismo
Corrente filosófica na Grécia Clássica fundada pelo filósofo grego Pirro (318-272 a.C.). A palavra ceticismo vem do grego, sképsis, que significa "exame, investigação". Para os céticos, não é possível alcançar a certeza absoluta a respeito da verdade porque é necessário o constante questionamento e investigação sobre os fenômenos que ocorrem na existência humana.
O ceticismo critica a capacidade da razão humana em estabelecer provas filosóficas. Ele se opõe não à religião, mas ao dogmatismo. Dogma, em grego, significa acreditar. Os primeiros pensadores que colaboraram para o desenvolvimento do conceito foram Carnéades (214 a.C. - 129 a.C.) e Sexto Empírico (160 - 210).
Hedonismo
Surgida na Grécia Antiga, é uma doutrina moral em que a busca pelo prazer é o único propósito da vida. Seus idealizadores acreditavam que a vida tem duas condições principais: dor e prazer. A condição do prazer seria o único caminho para a felicidade. O prazer supremo é o objetivo último da ação. Então, o prazer significa algo mais do que o mero prazer sensual.
O hedonismo é muitas vezes visto como sinônimo de epicurismo; no entanto, existem algumas diferenças entre eles. Epicuro (341 – 270 a.C.) criou o epicurismo para aperfeiçoar o hedonismo. Ele vinculou a busca do prazer a um sistema de ética da virtude baseado na moderação, pois a moderação leva ao máximo de felicidade para o indivíduo a longo prazo. Hedonistas famosos incluem Jeremy Bentham (1748 – 1832) John Stuart Mill (1806 - 1873) e Michel Onfray (1959 – 2018).
Jeremy Bentham, John Stuart Mill e Michel Onfray são pensadores que, embora distintos no tempo e na abordagem, refletem sobre ética, prazer e o papel do indivíduo na sociedade. Bentham, fundador do utilitarismo, defendia que a ação moral é aquela que produz "a maior felicidade para o maior número de pessoas", baseando a ética no cálculo racional de prazer e dor. Mill refinou essa teoria, distinguindo prazeres superiores e inferiores, e valorizando a liberdade individual como essencial para o bem-estar coletivo. Já Michel Onfray, filósofo francês contemporâneo, critica a tradição idealista e valoriza uma ética hedonista inspirada em pensadores como Epicuro e Nietzsche. Onfray propõe uma filosofia do corpo, da imanência e da alegria, voltada para a vida concreta e sensível. Enquanto Bentham e Mill operam no campo do dever e da utilidade, Onfray defende uma ética estética e libertária. Juntos, os três oferecem perspectivas provocadoras sobre como viver bem e com sentido. |
Epicurismo
Filosofia iniciada por Epicuro de Samos (341-270 a.C.) e intimamente associada ao hedonismo. Para ele, a sabedoria consiste em aprender a dominar bem os prazeres para não se deixar dominar por eles. Epicuro era cético em relação à superstição e à divindade. Ele propôs que o único significado da existência era o auto prazer, ou mais precisamente, a ausência de dor e medo, cuja combinação levaria à felicidade em sua forma mais elevada. O corpo e a alma não deveriam sofrer para, desta forma, chegar-se ao prazer.
O maior prazer era obtido pelo conhecimento, amizade e virtude – assim como sexo e comida. Nesse sentido, o objetivo das pessoas reside em alcançar o bem-estar por meio do corpo e da mente para alcançar a “ausência de perturbação” (ataraxia).
Não estrague o que você tem, desejando o que você não tem; lembre-se de que o que você tem agora já esteve entre as coisas que você apenas esperava.
Epicuro |
Niilismo
O niilismo é uma visão filosófica (antifilosófica para alguns) de que a vida não tem significado objetivo, propósito, valor ou verdade. Sua ideia central é a falta de crença no significado ou substância em uma área da filosofia. Para eles, a vida é literalmente sem sentido.
A palavra niilismo é derivada do latim nihil, que significa nada, e é mais uma série de posições e problemas relacionados do que uma única escola de pensamento. Eles rejeitam a crença em um criador superior e afirmam que a ética secular objetiva é impossível.
É a principal filosofia entre adolescentes angustiados que não entendem Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) porque, ao contrário do entendimento popular, Nietzsche não era um niilista. Em vez disso, ele escreveu sobre os perigos representados pelo niilismo e ofereceu soluções para eles.
Friedrich Nietzsche - a verdade é uma construção
Friedrich Nietzsche foi um dos filósofos mais influentes e provocadores do século XIX. Crítico da moral cristã, do idealismo e das convenções sociais, propôs uma filosofia da vida baseada na afirmação, na vontade de potência e na superação de limites. Defensor do pensamento livre, cunhou conceitos como “além do bem e do mal”, “eterno retorno” e “Übermensch” (além-do-homem) e desafiou valores estabelecidos. Para Nietzsche, a verdade é uma construção, e a arte, uma forma superior de expressão da existência. Sua escrita poética, aforística e rebelde marcou gerações, ao propor a coragem de viver sem ilusões e criar novos sentidos para a vida. |
Existencialismo
Escola de pensamento originária da obra de Soren Kierkegaard (1813 – 1855) e de Friedrich Nietzsche (1844 – 1900). O foco do existencialismo está nos problemas colocados pelo niilismo existencial. Os existencialistas estão fundamentalmente focados na análise da condição humana e na importância do indivíduo e não em padrões externos. O ser humano individual cria o significado e a essência de sua vida. São suas ações que determinam quem ele é e o significado da sua existência.
Um dos princípios básicos defendidos pelos filósofos existencialistas é que "a existência precede a essência". O ser humano não tem uma condição firme, ou seja, não existe uma natureza que o leve a ser de uma forma ou de outra. O ponto de partida é a sua existência. Como ele não tem uma natureza estabelecida, tem a liberdade de construí-la ao longo da vida.
Principais filósofos: Soren Kierkegaard (1813 – 1855), considerado o fundador do existencialismo, Henri Bergson (1859 – 1941), Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), Simone de Beauvoir (1908 – 1986) e Martin Heidegger (1889 – 1976). Albert Camus (1913 – 1960) esteve associado ao movimento, mas se considerava independente dele.
Albert Camus e a falta de sentido do mundo
Albert Camus foi um escritor e filósofo francês fundamental no pensamento existencialista e absurdista do século XX. Ele rejeitou sistemas filosóficos fechados e buscou compreender a condição humana diante da falta de sentido do mundo. Em obras como O Estrangeiro e O Mito de Sísifo, abordou o absurdo da existência e a necessidade de uma resposta ética e corajosa: viver apesar do absurdo, sem apelar a falsas esperanças. Camus defendia a lucidez, a revolta e a compaixão como caminhos para uma vida autêntica. Sua prosa clara e comprometida fez da sua voz uma das mais humanistas da filosofia moderna. |
Absurdismo
Filosofia baseada na afirmação de que os esforços da humanidade para encontrar significado no universo acabarão falhando porque tal significado não existe, pelo menos em relação à humanidade. O absurdo afirma que, embora tal significado possa existir, a busca por ele não é essencial. Distingue-se do niilismo por sua visão subjetiva da humanidade, teologia e significado. É melhor pensar nisso como o estágio 'agnóstico' entre o existencialismo e o niilismo.
Soren Kierkegaard (1813 – 1855) escreveu extensivamente sobre o absurdismo em meados do século XIX, mas a filosofia é mais associada a Albert Camus (1913-1960) e seus romances O Estranho e O Mito de Sísifo.
Humanismo
O humanismo é um movimento intelectual ocorrido nos séculos XIV e XV durante o Renascimento. A filosofia humanística ocorre em um período transitório entre a Idade Média e a Modernidade. Para os humanistas, o ser humano é o centro da natureza, por isso buscam entender como ele age, seus pensamentos e habilidades para dar sentido racional à vida. Esse movimento resgata e estuda os clássicos gregos e latinos e os toma como referência.
Representantes: Leonardo Bruni (1370 - 1444), Marsílio Ficino (1433 - 1499 Giovanni Pico della Mirandola (1463 – 1494) e Erasmo de Roterdam (1466 - 1536).
Humanismo Secular
Filosofia ateísta que sustenta a razão, a ética e a justiça como os princípios da vida. Como o conceito de um criador sobrenatural é rejeitado, o sentido da vida deve ser encontrado puramente em termos humanos. Não há verdade absoluta ou moralidade absoluta; verdade, significado e moralidade são únicos para cada pessoa. Pensadores associados ao humanismo secular incluem Friedrich Nietzsche (1844 - 1900), Bertrand Russell (1872 – 1970) e Richard Dawkins (1941).
Utilitarismo
Doutrina ética de que o valor moral de uma ação é determinado exclusivamente por sua contribuição para a utilidade geral. A adaptação das decisões às suas consequências na realidade para as quais são destinadas, com flexibilização do entendimento tecnológico das normas, na busca de uma justiça transcendente.
Isso significa que o valor moral de uma ação é determinado por seu resultado. O utilitarismo foi teorizado pela primeira vez por Jeremy Bentham (1748 – 1832), ao declarar que 'bom' era o que trazia a maior felicidade para o maior número de pessoas. No entanto, a filosofia está mais associada a John Stuart Mill (1806 - 1873) e seu livro Utilitarismo (1863).
Existencialismo, absurdismo, utilitarismo,humanismo secular e confucionismo |
Existencialismo – corrente filosófica que valoriza a liberdade individual, a responsabilidade e a criação de sentido em um mundo sem verdades absolutas. Filósofos como Sartre e Simone de Beauvoir enfatizam a angústia e a escolha como centrais à existência humana. |
Absurdismo – associado a Albert Camus, reconhece o conflito entre o desejo humano por sentido e o silêncio do universo, propondo a lucidez e a rebelião como respostas. |
Utilitarismo – formulado por Jeremy Bentham e desenvolvido por John Stuart Mill, busca maximizar a felicidade coletiva, avaliando as ações por suas consequências |
Humanismo secular – rejeita explicações sobrenaturais e propõe uma ética baseada na razão, ciência e compaixão, valorizando os direitos humanos, a liberdade e o progresso |
Confucionismo – nascido na China com Confúcio, propõe uma ética centrada na harmonia social, nas virtudes pessoais e na importância da família e da educação. Ao valorizar o respeito, a justiça e a tradição, o confucionismo influenciou profundamente a cultura e a política do Leste Asiático |
Marxismo
A palavra marxismo designa dubiamente a doutrina política elaborada por Karl Marx (1818–1883) e Friedrich Engels (1820–1895) e o método da análise socioeconômica baseada no que Marx chamou de materialismo histórico-dialético, caracterizado pelo movimento do pensamento por meio da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade.
Marx afirmava que, entre as classes de cada sociedade, existe uma luta constante por interesses opostos. Na sociedade capitalista, a divisão social ocorreu devido à apropriação dos meios de produção para um grupo específico, os burgueses, e outro grupo explorado devido à sua capacidade e força de trabalho, o proletariado.
A burguesia operou o capitalismo de forma totalmente destrutível para as relações entre os homens e transformou toda dignidade humana em um simples favor de troca. A classe dominante explora e suga as forças da classe dominada em troca de um valor muito abaixo do que realmente vale seu trabalho.
Karl Marx e o materialismo histórico
Karl Marx foi um dos pensadores mais influentes do século XIX, fundador do materialismo histórico e do socialismo científico. Ele analisou as contradições do capitalismo e destacou a luta de classes como motor da história. Para Marx, a exploração do proletariado pela burguesia geraria desigualdades e crises e exigiria uma revolução para instaurar uma sociedade sem classes. Em obras como O Manifesto Comunista e O Capital, ele propôs que as condições materiais moldam a consciência e que a economia determina a estrutura social. Seu pensamento impactou profundamente a política, a sociologia e os movimentos operários do mundo contemporâneo. |
Racionalismo
Doutrina filosófica baseada no fato de que a razão é a origem do conhecimento, e não a experiência, como defende o empirismo. Ou seja, só podemos considerar como certo o que tem origem no nosso próprio entendimento. O racionalismo surgiu no século XVII pelas mãos de René Descartes (1596 – 1650), que tentava encontrar um verdadeiro conhecimento feito a partir da razão.
Se nossos sentidos muitas vezes estão errados, como podemos confiar neles para acertar a realidade? Este é o princípio fundamental do racionalismo, a ideia de que o conhecimento deve vir principalmente da razão e do pensamento, e não da evidência empírica. Hoje, a maioria dos pensadores combina noções racionalistas com dados empíricos.
Os pensadores que defendiam o racionalismo incluíam também Sócrates (469/470 – 399 a.C.), Baruch de Espinosa (1632 - 1677) e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 - 1716) ֎
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