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O que é e para que serve a filosofia?

Atualizado: 10 de jul. de 2023



Bem-vindo à complicada filosofia


Se você veio até aqui é porque de alguma forma foi atraído pela minha promessa de descomplicar a complicada Filosofia. Por mais que eu diga que a minha missão é tornar mais fácil o seu estudo isso não quer dizer que eu vá jogar fora todas aquelas esquisitas e complicadas palavras, a maioria delas de origem grega. Não tem como, você não ficará livre delas. Vamos lá!


O que é filosofia? A eterna pergunta


Entenda, desde já, que não é nada fácil definir o que é filosofia. Ao fazer isso, já estamos filosofando e uma das coisas mais difíceis nesta matéria é o consenso. Isso, no entanto, é muito positivo porque filosofar é não se contentar com respostas prontas. Mesmo sendo difícil, é extremamente importante explicar o que é afinal essa coisa que anda na cabeça das pessoas.


A palavra filosofia, de origem grega, significa amor à sabedoria. Por meio de argumentos que utilizam a razão e a lógica, busca-se compreender o pensamento humano e os conhecimentos desenvolvidos pelas sociedades. Ela foi essencial para o surgimento de uma atitude crítica sobre o mundo e os homens com o objetivo de aprofundar o entendimento por meio do pensamento organizado, conceitual, crítico e reflexivo.



O pensamento reflexivo faz a Filosofia desdobrar-se sobre si mesma a fim de criar problemas para um melhor entendimento do mundo. É um tipo de pensamento conceitual, pois trabalha por meio da formulação e reformulação de conceitos, criando e revisando os significados que damos para o mundo. Em um sentido amplo, é uma atividade que as pessoas realizam quando procuram entender verdades fundamentais sobre si mesmas, sobre tudo que as rodeia, suas relações com o mundo e das pessoas entre si.


Origem da filosofia


Antes de as cidades-estados surgirem na Grécia Antiga, a religião, a mitologia, a história dos deuses e até mesmo os fenômenos da natureza é que davam as explicações para a existência humana, seu pensamento e os problemas do mundo. O pensamento mítico foi dando lugar ao racional e crítico, daí surgiu a filosofia.


Os termos filosofia, filósofo e matemática foram criados por Pitágoras, filosofo pré-socrático grego. Segundo ele: o filósofo não é dono da verdade, nem detém todo conhecimento do mundo. Ele é apenas uma pessoa que é amiga do saber.


Tales de Mileto foi o primeiro filósofo do Ocidente. Ele nasceu na cidade de Mileto, viveu entre 624 e 546 a.C. e foi um bem-sucedido comerciante da Ásia Menor. Nas suas inúmeras viagens conheceu a astronomia babilônica e a matemática egípcia, de inspiração hindu.


Alguns historiadores ressaltam o contato dos gregos com o pensamento oriental no período inicial da filosofia e sua importância naquilo que pensadores chineses, como Lao Tsé, Confúcio e Mo Tzu fizeram. Portanto, apesar de os gregos terem criado o pensamento filosófico, a sua inspiração veio do contato com povos orientais.



O conceito e o objeto de estudo da filosofia


Na maioria das vezes a filosofia lida com elementos abstratos. Por isso, uma das perguntas mais fundamentais é, justamente, sobre a essência das coisas, ou seja, “o que é?”. Essa pergunta pode levar a outras como “por que é?” e “como é?”. Com isso, cria-se uma espécie de teia de conceitos e de problemas que dão movimento ao trabalho do filósofo, criando, recriando e estabelecendo um plano de conceitos que apresentam os significados do mundo e sobre o mundo.


Não existem respostas unânimes na filosofia. Para os pré-socráticos, o objeto de estudo era o universo e a natureza, ou seja, a cosmologia, o estudo da origem e da composição do Universo (cosmos, em grego), sua organização e a sua origem. Atualmente a cosmologia é uma vertente de estudos da astronomia que lida diretamente com a origem do Universo por meio do uso de aparelhos tecnológicos e de cálculos físicos avançados.


Para Sócrates, o objeto de estudo da filosofia seria as questões resultantes da atividade humana como a política, o conhecimento e a justiça. Para os filósofos do helenismo, período de domínio da cultura grega no mundo antigo, após a morte do imperador Alexandre, era uma doutrina que deveria buscar a felicidade e o bem viver.


A filosofia deve estar em conformidade com o pensamento cristão, afirmavam os patrísticos, primeiros padres da Igreja Católica dedicados a desenvolver uma filosofia que se aproximasse do pensamento cristão e do conhecimento religioso. Para os escolásticos, pensadores que buscavam conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega, essa concordância era necessária, mas os olhares deveriam estar voltados para a observação da natureza.



Os modernos problematizaram as ciências e o modo como o ser humano reflete sobre elas, além de especularem sobre a política de sua época. Os contemporâneos, do século XIX até hoje, utilizaram a filosofia para pensar questões sobre a sua época, como as implicações éticas sobre a vida, a linguagem, a utilização das tecnologias e o poder político entre outras.


Para que serve a filosofia?


Muitas pessoas perguntam sobre a utilidade da filosofia, sendo que para as outras ciências e ramos do saber essa pergunta não seja frequente. Polêmica e muitas vezes irônica, essa pergunta parece passar a ideia de que essa área é inútil. Em certo sentido e tomando por base o conceito contemporâneo de utilidade, ela realmente não serve para nada, pois ela não constrói objetos, não cria coisas concretas, não interfere imediatamente no mundo físico e não rende lucro. Assim, ela não tem utilidade.


Em filosofia, quanto mais nos conhecemos, mais insatisfeitos ficamos. Isso acontece porque ela existe para perturbar, para espantar. Ela não quer gerar conforto e sim tirar as pessoas da zona de conforto. É isso que mantém o pensamento em movimento e é isso que gera a evolução intelectual do mundo, mesmo que vagarosamente.


A todo momento ela nos relaciona com o conhecimento crítico. Acredite ou não, ela nos leva pela mão ao conhecimento e nos separa da ignorância. E o faz não com respostas, mas com um superpoder intelectual essencial: fazer as perguntas certas.


Alguns a consideram uma disciplina inútil em uma sociedade onde a ciência, a tecnologia e a internet são os principais protagonistas. Mas, na realidade, a filosofia remete ao que há de mais profundo e genuíno no ser humano. Ela nos ajuda a entender nosso ambiente e nos oferece respostas para resolver nossos conflitos existenciais.


Segundo Marilena Chauí, escritora, filósofa e professora de filosofia política e estética da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, costumamos pensar erroneamente que algo que não tem utilidade prática não deve existir. Mas a filosofia orgulha-se de não fazer parte desse conjunto de ciências práticas que servem apenas de pontes para a evolução das técnicas.


O filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), afirma que a filosofia não é subserviente. Ela não serve de base para as outras ciências e, se em algum momento isso aconteceu, não foi por vontade dela. Esse ramo do saber é autônomo, é crítico, é feito por um pensamento independente. Ela não serve nem ao Estado, nem à Igreja. Não serve a nenhum poder estabelecido. Ela serve para entristecer. Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é filosofia. Ela serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas.



Filosofia acadêmica e suas áreas de estudo


É a filosofia estudada, ensinada e discutida nas universidades. Quem estuda filosofia está perpetuamente engajado em perguntar, responder e argumentar por suas respostas às questões mais básicas da vida. Cada pergunta respondida traz novas perguntas que serão ou não respondidas plenamente, o que leva a novas perguntas num ciclo que parece nunca se fechar. Para tornar essa busca mais sistemática, ela é tradicionalmente dividida em grandes áreas de estudo.


Epistemologia ou Teoria do Conhecimento - estuda a natureza do conhecimento humano, seus fundamentos, variedades e limites. Faz reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo. Em sentido estrito, refere-se ao ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento científico; é o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, com a finalidade de determinar seus fundamentos lógicos, seu valor e sua importância objetiva.


Metafísica - é a área que estuda e tenta explicar as principais questões do pensamento filosófico, o fundamento comum de tudo o que existe, a alma, Deus, a finalidade da existência e o ser enquanto ser, a causa e o sentido da realidade, e os aspectos ligados a natureza.


Ética - campo de estudo que se dedica a pensar sobre as ações adotadas pelos indivíduos e os princípios que as orientam. Nela, se estuda os princípios que orientam as ações humanas, a capacidade de avaliar essas ações e os fundamentos dos juízos morais. O estudo da ética geralmente diz respeito ao que devemos fazer e ao que seria melhor fazer. Ao se debruçar sobre essa questão, surgem outras maiores sobre o que é bom e correto.


Lógica - estuda as formas de raciocínio correto, diferenciando-as das formas equivocadas e muitas vezes enganosas. Esse é um aspecto importante no estudo da filosofia, ou seja, compreender os argumentos ou razões dadas nas respostas a determinadas questões. Os filósofos empregam a lógica para estudar a natureza e a estrutura dos argumentos.


Ontologia - ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. É classificada como o ramo geral da metafísica (diferente da cosmologia, psicologia e teologia, que são ramos específicos), pois se ocupa dos temas mais abrangentes e abstratos da área. Por esse motivo, é comum que os termos ontologia e metafísica sejam utilizados como sinônimos, embora a antologia esteja inserida na metafísica.


Filosofia política - é uma vertente filosófica que tem por objetivo entender as questões da convivência humana em todos os seus aspectos, principalmente a relação que existe entre os grupos humanos e as instituições de poder.


Filosofia da linguagem - é o ramo que estuda a essência e natureza dos fenômenos linguísticos. Uma das principais características da Filosofia da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros seres que existem no mundo.


Estética - também chamada de ciência do belo ou filosofia da arte se dedica a estudar e compreender a partir da racionalidade aquilo que é belo tanto nas manifestações da natureza quanto nas manifestações artísticas produzidas pelos seres sociais.


Teologia - é o estudo da fé e das religiões. O prefixo “teo”, em grego, significa “Deus”. Essa ciência humana analisa como as crenças influenciam culturas e sociedades, sob pontos de vistas e contextos históricos.



A filosofia no mundo atual


A filosofia tem muito a contribuir em quase todas as questões importantes do momento como a engenharia genética e seus riscos; o direito à privacidade versus segurança coletiva; a identidade de gênero; o reconhecimento e o respeito das diferenças entre as pessoas; as novas formas de participação cidadã; o desenvolvimento sustentável; a interculturalidade que promove políticas e práticas que estimulam a interação, compreensão e o respeito entre as diferentes culturas e grupos étnicos e até a inteligência artificial. Tudo tem um fundo filosófico importante.


Muitas reflexões dos filósofos clássicos ainda são válidas. Especialmente aplicáveis ​​são aquelas que se concentraram na filosofia prática. A filosofia continua a ser um motor de mudança, crescimento pessoal e desenvolvimento coletivo. Retirá-la de nossas vidas significa nos limitar e nos sobrecarregar. Se a verdade nos liberta, a filosofia é o caminho mais direto para alcançá-la, mesmo que não seja o mais curto nem o mais agradável.


A Filosofia e o conhecimento científico


De um ponto de vista pragmático, a filosofia também é necessária para o avanço científico. Não só para fundamentar esse tipo de conhecimento, mas também para explorar e tirar partido de novos modelos de investigação e possibilidades tecnológicas. Pense na inteligência artificial, nos robôs que virão em breve. Você realmente acha que o trabalho científico pode ser normalizado e promovido sem suporte filosófico?


Graças a ela, desenvolve-se o pensamento analítico, a visão ética, a orientação moral e a capacidade de crítica. São habilidades essenciais em todos os momentos, mas especialmente em nossa era, onde a desinformação e as falsificações são desenfreadas.


Pensamento crítico e mente aberta são essenciais para o desenvolvimento do ser humano. A filosofia os alimenta e os estimula. Por isso é a base existencial das ciências, metodologias e teorias voltadas para o aumento da sabedoria humana. Além dos avanços tecnológicos e científicos, a busca pelo conhecimento é contínua e transversal. Só assim, de forma global, o desenvolvimento humano se materializará em autênticas conquistas e avanços, social, individual e cientificamente.


Outro grande pensador, Manuel Cruz, professor de filosofia da Universidade de Barcelona, depois de afirmar que a filosofia não oferece felicidade, faz uma reflexão muito necessária. "Descobrir, mesmo sofrendo, é sempre melhor do que viver no escuro."


O francês Michel Onfray, fundador da Universidade Popular de Caen, cujo pensamento se caracteriza pela afirmação da razão, do hedonismo (doutrina moral e filosófica que prega a ideia de prazer extremo, que traz sentido para a vida e existência humana), e de um ateísmo militante, advertiu no final do século passado que uma filosofia sem aplicação prática é inútil.


Por fim, a espanhola Marina Garcés, filósofa e ensaísta espanhola, professora de filosofia na Universidade de Zaragoza, completou incontestavelmente esta reflexão: a Filosofia é uma linguagem fundamental para aprender a pensar criticamente. A filosofia não é útil nem inútil, é necessária.


A filosofia tem lugar no futuro?


É quase impossível não ver que a tecnologia e a inteligência artificial serão cada vez mais desenvolvidas para transformar totalmente a nossa qualidade de vida. A história mostra que somente por meio da tecnologia poderemos alcançar esse patamar quase utópico de vida. Várias discussões éticas, morais e até econômicas sobre esse tema já vem acontecendo porque a constante automação pode acabar com muitos empregos que conhecemos hoje.


Estima-se que em torno de 27 milhões de postos de trabalhos irão acabar nas próximas duas décadas. Por que uma empresa contrataria um funcionário para fazer algo que um robô pode fazer melhor e com custo bem mais baixo? Caminhoneiros, por exemplo, não terão mais razão de existir já que os caminhões serão controlados por inteligências artificiais que não precisam parar para dormir, que dirigem sempre respeitando os limites de velocidade nas rodovias e não causam acidentes por imprudência. Isso, é claro, vai gerar muitos debates e é aí que entra a filosofia. Existe um misto de medo e esperança quanto ao que a inteligência artificial possa fazer com a nossa espécie no futuro.


Os debates sobre as soluções para problemas do futuro são pertinentes porque o desenvolvimento da tecnologia sempre acabou com empregos, mas gerou novos. A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico com início na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII e que se espalhou pelo mundo, causando grandes transformações. Ela garantiu o surgimento da indústria e consolidou o processo de formação do capitalismo. Muitos achavam que os empregos iriam acabar, teve inclusive um movimento para destruir as máquinas.


Uma coisa é certa, a filosofia sempre existirá porque todas essas mudanças implicam em infindáveis questionamentos filosóficos e éticos. Pode ser que o homem do futuro não fique tanto tempo no trabalho como ficamos hoje. Com mais tempo livre, mais tempo ele terá para pensar, no passado, no presente e no futuro. Para isso, ele sempre recorrerá à filosofia.



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