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Sua Majestade, Roberto Carlos - O imutável

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 15 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 6 dias

Detalhes de um mito imóvel


Roberto Carlos é um fenômeno brasileiro inexplicável, como o Guaraná Jesus ou a Novena de Santa Rita transmitida pelo YouTube. Há décadas ele canta o mesmo repertório, com o mesmo terno azul-marinho e a mesma emoção calibrada. Há algo de Edir Macedo em sua compostura e de Madre Teresa em seu olhar cândido. Ou Netuno, com roupa de marinheiro, animando cruzeiros de velhinhos aposentados sem rumo no mar bravio. Só falta levitar.


Quando jovem, ele quis ser Elvis. Depois, virou padre. Não literalmente, claro, mas na prática: oficia missas sentimentais pra um rebanho de fiéis que choram quando ele canta “Detalhes”. É o único artista que envelhece pra trás: canta como um moço, age como um anjo e se move como um holograma.


Eu o respeito. Mas respeito também o mico-leão-dourado, e nem por isso ouço seus discos. Há algo de incômodo nessa perfeição domesticada. Tudo nele é controlado, limpo, previsível. O palco é um altar, o microfone, um cetro. Nunca tropeça, nunca desafina, nunca surpreende. É como visitar o túmulo de si mesmo todos os anos: flores, silêncio e reverência.


Ele tem talento, claro. Não se sobrevive tanto tempo apenas com carisma e gel no cabelo. Mas é um talento mumificado. Roberto é o rei, disso ninguém duvida. Mas é rei de um império onde nada muda, onde a rebeldia foi domesticada e transformada em trilha sonora de casamento no civil.


A cada dezembro, ele surge como um cometa programado, oferecendo flores e canções. E nós, súditos sentimentais, fingimos surpresa. É bonito. É comovente. Mas, no fundo, é sempre o mesmo disco arranhado, tocando no rádio do

tempo ֎


 

 
 
 

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