Luiz Fux e a ópera do absurdo
- Paulo Pereira de Araujo
- 13 de set.
- 2 min de leitura

O golpe de mestre de Fux
Ah, minha Senhora Soledá, Luiz Fux, aquele ministro que parece viver em constante modo “controle de danos”. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1953, filho de imigrantes romenos. Estudou Direito como quem coleciona selos raros e, ao longo da vida, acumulou títulos, cargos e medalhas que ninguém se atreveria a questionar. Mas o que realmente o faz interessante, para quem gosta de observar o teatro grotesco da política brasileira, é seu papel recente na ópera do absurdo que foi o julgamento de Bolsonaro.
Enquanto a primeira turma do STF parecia inclinada a chamar o ex-presidente de conspirador de plantão, Fux resolveu dar o golpe de mestre da ironia: absolveu o golpista. Sim, absolveu, sob o argumento de que, como Bolsonaro não ocupava mais cargo público, o tribunal não teria jurisdição. Traduzindo pro idioma que todos entendem: “Nada a ver comigo, prossigam com a bagunça em outro canto”. Uma decisão que fez a democracia engasgar e os jornalistas coçarem a cabeça, enquanto o mundo político se dividia entre indignação e alívio constrangido.
E há algo deliciosamente cômico nesse homem que passa a vida pregando disciplina processual e, no momento em que a pátria treme, levanta a mão e diz: “Não é da minha conta”. Fux, com seu corpo disciplinado pelo jiu-jitsu, talvez tenha entendido que lidar com Bolsonaro é como lutar com um inimigo invisível: muito barulho, pouca técnica e a inevitável queda do senso comum.
Não me entendam mal: Fux não é herói, santo ou sábio. Ele é apenas a caricatura viva da formalidade judicial, perfeitamente treinado pra contornar crises, impecável na etiqueta, porém, quando a democracia pedia um gesto corajoso, escolheu a ironia como arma. Absolver Bolsonaro não é um ato de justiça; é um escárnio, uma piscadela da lei pros que ainda acreditam que a instituição tá acima do circo.
E eu, Horácio, sentado com Botox sobre meus pés, vejo essa farsa com a paciência de quem conhece o mundo, rir do absurdo, registrar a ironia, lembrar que, na política brasileira, os heróis costumam ser comediantes involuntários, e os vilões, frequentemente, mestres do improviso. Fux, nesse episódio, se garante como ambos, juiz e piada, ao mesmo tempo.
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