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Carlos Alberto Brilhante Ulstra, O coronel que fez da dor um método

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 19 de set.
  • 2 min de leitura
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Ulstra: memória sombria da ditadura brasileira


Brilhante de nome, sombrio de ofício. Carlos Alberto Brilhante Ulstra (1932–2015) foi coronel do Exército brasileiro e chefe do DOI-CODI de São Paulo entre 1970 e 1974, anos em que o regime militar escolheu fazer da tortura um método administrativo, quase um carimbo de repartição. Enquanto alguns sonhavam com democracia, Ulstra e seus homens aperfeiçoavam a técnica de transformar corpos em laboratório da dor.


Ex-presos políticos o reconheceram como um dos principais torturadores do período. Nomes, datas, detalhes. Gritos que não se apagam. Em 2008, a Justiça brasileira confirmou oficialmente o que todos já sabiam: Ulstra praticou tortura. Não foi condenado criminalmente, porque a Lei da Anistia de 1979, essa borracha seletiva da História, o blindou. A Justiça, nesse caso, serviu como café morno pra digestão ruim: reconhece o crime, mas finge que a pena não existe.


Morreu em 2015, aos 83 anos, de câncer, e não de remorso. Curioso destino: o corpo se revolta por dentro, enquanto a biografia já apodrecia por fora.

Ulstra, no entanto, não é unanimidade. Pros que sofreram nas mãos dele, é a lembrança viva do terror de Estado. Pra parte da direita brasileira, virou “herói”. Jair Bolsonaro, no auge de sua carreira parlamentar, homenageou o coronel no voto pelo impeachment de Dilma Rousseff, lembrando que ela mesma fora presa e torturada naqueles anos. Brincadeira macabra: exaltar o algoz diante da vítima.


O caso de Ulstra é um espelho desconfortável do Brasil. Um país que não julgou seus torturadores, que convive com o negacionismo como se fosse opinião e não ofensa. Um país em que a palavra “anistia” se converteu em salvo-conduto pra crimes contra a humanidade.


Quem foi Ulstra? Um torturador reconhecido pela Justiça, mas protegido pelo esquecimento institucional. O “Brilhante” do nome não ilumina: queima. E seu maior legado é lembrar-nos do perigo de quando a violência veste farda e ganha aplauso.


 
 
 

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