top of page
Buscar

Stephen King - As virtudes e os tropeços

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 2 de jul.
  • 2 min de leitura

Entre o medo e o exagero


Stephen King é aquele cara que você encontra no boteco, pede um café preto e começa a contar uma história que te faz esquecer dos problemas do mundo, da conta atrasada ao Bolsonaro e à morte. Ele escreve com uma naturalidade que poucos conseguem, sem firulas, sem pretensão de gênio, e talvez por isso seja tão genial.


O sucesso comercial incomoda os intelectuais empinados, que parecem achar que vender muito é pecado literário. Mas King é um mestre em transformar o banal em terror: um palhaço, um carro, um cachorro, uma máquina de escrever. Não é o sobrenatural que assusta, somos nós mesmos, os monstros. Ele entende que o verdadeiro horror está no humano, no rancor oculto atrás do olhar de um pai, no corredor vazio de um hotel.


Por outro lado, King não escapa das suas contradições. Ele é famoso por não saber terminar uma história. Depois de hipnotizar o leitor nas primeiras centenas de páginas, muitas vezes ele se perde e conclui com finais exagerados, monstros cósmicos ou situações que beiram o ridículo, como naquele final de It que muitos preferem fingir que não existe.


Seus personagens, embora cativantes, às vezes caem em arquétipos simplistas: o bêbado redimido, a criança pura, o mal absoluto. Falta nuance e a ambiguidade que fazem de Dostoiévski ou Clarice Lispector uma experiência literária mais complexa.


Mesmo assim, King é disciplinado. Ele escreve todos os dias, como quem capina um campo que cresce rápido demais. Seus livros são vastos territórios onde o leitor pode tanto se perder quanto se encontrar. E ele não tem medo do ridículo, arrisca, exagera, erra, mas vai em frente. Isso é raro e honesto. Mesmo com tropeços, ele continua valendo a leitura. Porque no fundo, Stephen King não se esconde atrás do estilo; ele escreve porque precisa, e essa urgência é o que mantém seu lugar cativo na literatura popular e no coração dos leitores ֎



 
 
 

Comments


bottom of page