top of page
Buscar

Sandra de Sá, pele preta sim, com muito orgulho

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 17 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 4 dias

Olhos coloridos e pele preta


Sandra de Sá. Ah, essa sim é daquelas figuras que não pedem licença pra existir, ela simplesmente chega, toma o microfone e diz: “agora escuta”. Voz de trovão com abraço de colo de vó. Tem aquela cara de quem já fumou cigarro vendo o mundo desabar, mesmo assim levantou-se pra preparar um café e seguir o baile. Negra, suburbana, cantora de alma rasgada e sorriso largo, Sandra nunca precisou de rótulo. Era soul, era funk, era samba, era groove, era o que bem quisesse, uma dessas artistas que não cabem nos pastos da indústria fonográfica, porque são mais bicho-do-mato do que vaca premiada.


Lembro dela nos anos 1980, explodindo com aquele Olhos Coloridos, que virou quase um hino informal dos que não se encaixam na paleta bege da elite cultural. E o que ela dizia com aquela música? Que era pele preta, sim, com muito orgulho, muito amor. E não estava pedindo desculpas por isso. Pelo contrário, esfregava na cara da audiência a beleza que o Brasil tenta apagar com desodorante e novela das nove.


Sandra não é dessas que fazem pose de diva, ela canta de chinelo, se quiser. Toca o coração com a mesma força com que faria uma feijoada pros amigos. Nunca se deixou pasteurizar. E talvez por isso nunca foi devidamente celebrada pelos salões engomados da MPB gourmet. Mas quem liga? Ela canta pra quem sente, não pra quem posa.


Sandra de Sá é daquelas que resistem, não no sentido chato e marqueteiro de "resiliência", essa palavra que já critiquei mais de uma vez, mas no sentido bonito de continuar sendo quem é, mesmo quando o mundo tenta descolorir.



 
 
 

Comments


bottom of page