Safo, de Lesbos - Versos com a alma molhada de desejo
- Paulo Pereira de Araujo
- 14 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de mai.
Poesia feita como quem arde
Ah, Safo de Lesbos! Essa sim entendia de amor, paixão, versos e, acima de tudo, de escândalo. A mulher fazia poesia como quem arde. Não com essa rima de Instagram, mas com a alma molhada de desejo e cheiro de sal do Egeu. Enquanto os marmanjos da época batiam no peito com seus épicos intermináveis sobre guerras e deuses, Safo cantava as pernas da amiga, os cabelos da amante, a ausência que corta como faca cega. E fazia isso sem pedir licença.
Diziam que ela era ‘professora’ de moças (aham!) e que vivia rodeada por meninas belas, todas suspirando entre aulas de lira e suspiros clandestinos. Moralistas chamam isso de escola. Poetas, de paraíso. Mas aí veio a patrulha histórica, vestiu túnica de moral e tentou apagar sua voz. Tarde demais. As palavras de Safo já tinham queimado a eternidade. Chamam-na de lésbica, não por acaso, Lesbos virou substantivo.
Claro que depois vieram séculos de silêncio, de padres tossindo constrangidos e tradutores ‘corrigindo’ os versos mais ousados. Mas basta um fragmento safiano para desmontar essa caretice toda. Um só: "Parece-me igual aos deuses aquele homem que se senta diante de ti...” e pronto, o coração derrete.
Ela era um escândalo com métrica, um orgasmo em dáctilos.
Dáctilo, meu caro, ou minha cara, é só um pé métrico da poesia: uma sílaba forte seguida de duas fracas. Tipo um tambor que bate “tum-ta-ta”. Os gregos usavam isso como quem respira, e Safo fazia isso gemer. E no fim das contas, Safo é a prova de que o amor não precisa ser hétero, contido ou explicado. Só precisa ser dito e sentido. De preferência, com poesia ֎
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