Picasso - Entre terremotos e pincéis
- Paulo Pereira de Araujo
- há 6 dias
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A verdade fragmentada e a libido como tinta
Pablo Picasso, ah, esse sim era um terremoto com pincel na mão. Um espanhol furioso que pintava como quem mastiga o mundo e cospe em formas novas. Quando jovem, tentei detestá-lo, por puro preconceito acadêmico, admito. Aqueles rostos desmontados, os olhos no lugar errado, os corpos virados em ângulos que desafiam até o esqueleto. Parecia que ele pintava durante um terremoto, com as mãos tremendo de raiva ou desejo. Só que depois percebi: era justamente isso o gênio, pintar o mundo tal como o mundo se sente, não como se vê.
Picasso não fazia quadros. Ele desafiava o conceito de forma. Era como se dissesse: “vocês querem beleza? Pois eu lhes dou verdade e a verdade é fragmentada, torta, às vezes feia”. Foi um artesão da ruptura. Inventou fases como quem muda de pele: azul, rosa, africana, cubista, surrealista, clássica… até quando parecia voltar ao tradicional, tava provocando.
Mas o que me intriga, mesmo, é sua energia. Uma espécie de vitalidade caótica, quase sexual, que atravessava tudo que ele tocava. Pintava como quem amava e amava como quem pintava. A libido era tinta. E o mundo, sua eterna amante ou inimiga.
Nunca fui homem de formas partidas, sou mais das linhas firmes de um Caravaggio ou da ternura velada de um Morandi. Mas há dias, esses dias velhos e moles que me acompanham, em que olho um quadro do Picasso e penso: “sim, é assim que me sinto por dentro”. Fragmentado, desalinhado, mas ainda inteiro, de algum modo misterioso. Picasso era isso: o caos com assinatura. O pintor que não buscava agradar e sim inquietar. E conseguiu. Ainda hoje, gera mais perguntas do que respostas. Como todo grande artista deve ser ֎
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