Michele Bolsonaro, a beata do bolsonarismo
- Paulo Pereira de Araujo
- há 9 horas
- 2 min de leitura

Fé, família e farsa
Senhoras e senhores, preparem-se pra conhecer a figura celestial que nos foi presenteada pelo destino, ou, quem sabe, por alguma pegadinha cósmica. Eis ela, o exemplo da moralidade seletiva, a ungida do WhatsApp, a primeira-dama de versículos, emojis de oração e frases motivacionais do Pinterest: Michele Bolsonaro.
Ah, Michele... a mulher que transformou o silêncio cúmplice em arte. Esposa do ex-mito (hoje mais conhecido por suas aventuras em galáxias paralelas de fake news), ela reinou no Planalto com sua Bíblia debaixo do braço e uma expressão que misturava beatitude evangélica com quem acabou de cheirar vinagre.
Com um dom inquestionável pra desaparecer nos momentos importantes, Michele foi a primeira-dama que mais falou sem dizer nada. Sempre pronta a postar uma citação de Isaías enquanto o marido distribuía pérolas como “e daí?” diante de milhares de mortes. Uma dupla afinada, como um culto em que só a caixa de dízimo fala.
Aliás, sua atuação política foi digna de notas, de cem reais, ou de um reality show da Record. Com ares de missionária em missão secreta, ela articulava com pastores, bispos e líderes de seitas que confundem fé com franquia. Sempre preocupada com a família, desde que fosse a família tradicional, claro: aquela versão de comercial de margarina com censura prévia.
Mas, justiça seja feita: Michele foi uma das poucas figuras que conseguiu parecer mais preocupada com a “moral e os bons costumes” do que o próprio Jair. Um feito. Era quase comovente vê-la defender os valores cristãos enquanto o marido soltava palavrões em lives e imitava pessoas com falta de ar. Uma santa entre ogros, ou, quem sabe, só uma excelente atriz no teatro da conveniência.
E agora, com ambições políticas próprias, Michele talvez queira repetir a fórmula do lar, Bíblia e bancada. Quem sabe um dia venha a ser a “primeira-dama-presidente”? Não seria a primeira vez que confundem fé com má gestão. Aplaudam, então, com palmas e glórias: Michele Bolsonaro, a Beata de Brasília, que fala em Deus, esquece o próximo — desde que o próximo não seja pobre ֎
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