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Mamonas Assassinas - A gargalhada que o céu engoliu

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • 29 de mai.
  • 2 min de leitura

O Brasil ria de si mesmo, numa Brasília amarela


Lembro bem do dia em que os Mamonas Assassinas caíram do céu, literalmente. Eu já não era jovem, mas aquilo me pegou de jeito. Não que eu fosse exatamente fã deles. Nunca tive o hábito de cantar Pelados em Santos no chuveiro. Mas havia algo neles que me fascinava: aquela mistura de palhaçada e talento genuíno, como se os Monty Python tivessem nascido em Guarulhos e aprendido a tocar guitarra elétrica com o Zé Ramalho. Cinco jovens irreverentes de Guarulhos: Dinho, vocalista; Bento Hinoto, guitarrista; Samuel Reoli, baixista; Júlio Rasec, tecladista e Sérgio Reoli, baterista.


Os Mamonas eram o caos encarnado em forma de banda. Tiravam sarro de tudo: portugueses, machões, modinhas de academia, até da própria morte, sem saber que ela os espreitava com pressa. E faziam isso sem precisar de cinismo ou pose de rebelde. Era uma anarquia quase infantil, do tipo que desarma até o mais azedo dos intelectuais. Até eu, ranzinza de nascença, me peguei rindo com aquele Vira-vira danado.


Misturavam rock, pagode, sertanejo, música portuguesa, forró, tudo com letras cheias de duplo sentido, sátira e absurdos, um deboche generalizado. Zombavam de estereótipos, modismos, comportamento masculino, e até de si mesmos. Apareceram como um sopro de gargalhada num país afundado nos anos FHC, com planos econômicos, desemprego e aquele ar de eterna espera por dias melhores. A gente precisava rir, e eles sabiam disso. Foram palhaços em tempos cinzentos. E, como bons palhaços trágicos, saíram de cena no auge, deixando eco de riso preso na garganta do país.


Foram embora do jeito que viveram: num exagero. Um jatinho pequeno demais pra tanto talento, pra tanta bagunça, pra tanta vida. Em 2 de março de 1996, subiram ao céu, não em sentido figurado, mas com turbina mesmo e a Serra da Cantareira, essa senhora sem senso de humor, não achou graça nenhuma. Pousaram direto no fim. E o Brasil, que andava com os ombros pesados, ficou de luto por cinco moleques que só queriam fazer a gente rir com palavrão, cueca aparecendo e guitarra distorcida. Morreu a banda, nasceu o mito. E eu, que sempre desconfiei de mitos, admito: esses aí mereceram o exagero. Porque, no fundo, talvez só nos reste rir antes do impacto da realidade.


 
 
 

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