Malcolm X, a raiz do desconforto estadunidense
- Paulo Pereira de Araujo
- 4 de jun.
- 2 min de leitura

O grito de um homem rouco
Malcolm X foi o tipo de homem que nasceu pra incomodar, e cumpriu a missão com excelência. Negro, pobre, preso, convertido, incendiário e depois pacificado, mas nunca domesticado. Era o espinho na garganta da América hipócrita, aquela que dizia “liberdade pra todos” com uma mão enquanto enforcava com a outra.
Martin Luther King sonhava, Malcolm X acordava a gente com tapa na cara. Sem terninho apertado nem discurso de pastor. Era punho cerrado, olhar cortante e frases como navalha: “pela paz, se possível; pela justiça, a qualquer custo”. E isso apavorava. Porque ninguém teme um sonhador, mas teme, se pela de medo de um homem lúcido e furioso.
Ele começou a vida no submundo, foi presidiário, virou Malcolm X ao rejeitar o sobrenome dos donos de escravo. O “X” era a negação do apagamento, como se dissesse: "Não sei de onde vim, mas sei que não vim pra obedecer”. Claro, cometeu excessos, foi radical, flertou com o rancor. Mas quem não flerta com o rancor quando passou a vida levando tapa?
Depois, se afastou da Nação do Islã, foi à Meca, viu muçulmanos brancos e percebeu que o inimigo não era a cor, mas a estrutura. Tornou-se mais generoso. E foi assassinado logo depois. É sempre assim: quando o sujeito encontra a lucidez, aparece alguém com medo dela e com uma arma na mão.
Malcolm X foi, no fim, o grito de quem já tava rouco. E quando olho o Brasil de hoje, com os racistas reciclados e os discursos lavados em sabão neutro, penso: falta um Malcolm X. Botox me encara enquanto escrevo isso. Ele não entende de raça, só de cheiro. E talvez isso já diga tudo ֎
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