Claudia Sheinbaum, a mulher que diz não a Trump, com ou sem pimenta
- Paulo Pereira de Araujo
- 18 de jul.
- 2 min de leitura

Trump grita. Ela pensa, e diz não
O México elegeu Claudia Sheinbaum, sua primeira mulher presidente em 200 anos de república. Cientista, judia, neta de imigrantes e ex-prefeita da Cidade do México, ela agora lidera um país onde o machismo ainda ruge e a violência tenta calar. Mas Claudia fala. E o mais impressionante: fala baixo, com serenidade, precisão e sem desespero de aplauso.
Enquanto isso, do lado de cima do muro, Trump volta a ameaçar o planeta com seu bronzeado de maracujá radioativo e o ego inflável que nem a Goodyear quis patentear. Claudia responde com o que ele menos suporta: racionalidade. Recusa o muro, reafirma a soberania mexicana, enfrenta o bufão com compostura e firmeza. Não faz cena, não grita, não precisa de power point nem três bandeiras tremulando atrás.
Claudia simplesmente diz não. Diz que o México não vai bancar muro de ninguém, que não será submisso a um império decadente governado por um bufão com fixação em cercas. Diz que o tempo dos machos manitos mandando e desmandando já passou.
Claudia representa uma virada simbólica e concreta: o México cansou de discursos messiânicos e apostou numa mulher de dados, não de dogmas. Seu governo ainda tá no começo e eu, velho que sou, já aprendi a desconfiar dos entusiasmos políticos. Algo nela, porém, me faz parar o café e prestar atenção.
Ela não é popstar, nem mártir de Instagram. Carrega a estranha força dos que sabem o que dizem. E, por enquanto, diz o que precisa ser dito. Se Trump voltar a rugir, ou latir, encontrará uma mulher que não se assusta com bufões, nem abaixa a cabeça pra machos com grife. Claudia tem algo raro na política latino-americana: compostura sem covardia.
Ah, se eu fosse mais novo, juro que me candidatava a assessor de imprensa dela, nem que fosse pra carregar papel sulfite ou latinha de jalapeño, uma pimenta verde, às vezes vermelha, que parece inofensiva, mas entra pela boca como quem pede licença e depois incendeia a alma como se estivesse em guerra santa contra suas papilas gustativas. Os gringos acham “exótico”. Os mexicanos chamam de almoço.
Talvez o México tenha descoberto que a firmeza pode vir sem berros. E que o futuro, às vezes, veste tailleur e pensa com calma.
Comments