top of page
Buscar

Garrinha - O anjo das pernas tortas

  • Foto do escritor: Paulo Pereira de Araujo
    Paulo Pereira de Araujo
  • há 6 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 4 dias


Manuel Francisco dos Santos, ou melhor, Garrincha


Garrincha não foi apenas um jogador de futebol. Foi um capítulo à parte da alma brasileira, escrito com pernas tortas e dribles impossíveis. Mané Garrincha, porque só o Brasil transforma Manuel Francisco dos Santos em poesia. Nasceu em Pau Grande, uma vila que já parece ter sido batizada por um cronista malandro. Tinha as pernas arqueadas, uma mais curta que a outra, defeito pro mundo, milagre programado. Dizem que quando ele chegou no Botafogo, Nilton Santos falou: "Quando a a fase tá ruim, até aleijado aparece". Arrependeu-se do que disse assim que Garrincha tocou na bola. Foi no Botafogo que virou lenda.


Quando era menino, ele adorava caçar passarinhos com estilingue. Um dia, sua irmã mais velha viu que ele tinha abatido um garrincha (passarinho pequeno), inquieto e muito ágil. Achou graça na coincidência entre o jeito do menino e o do pássaro e começou a chamá-lo de Garrincha. O apelido colou nele.


Mané Garrincha fazia do campo de futebol um terreiro de travessuras. Quando tocava na bola, parecia que o mundo se esquecia de seus fracassos. Encantou o planeta, ao lado de Pelé, na Copa de 1958. Ele brilhou na Copa de 1962, quando Pelé se machucou, e virou o Brasil inteiro. Driblava zagueiros como quem tira pétalas de uma flor, um, dois, três, e sorria. Seu talento era tão espontâneo que parecia ofender os acadêmicos do futebol moderno.


Mas, fora de campo, era um drama. Bebia demais, casou-se com a Elza Soares e com a desgraça ao mesmo tempo, não por causa dela e sim pelo que pensavam dela, uma mulher seprada. A Senhora Derradeira o levou, pobre, doente e esquecido pelos engravatados que o aplaudiram. Mas quem viu, nunca esqueceu. Era o anjo das pernas tortas, como dizia Nelson Rodrigues. Um Dom Quixote sem armadura a lutar contra zagueiros e contra si mesmo.


Se o Brasil já foi feliz, foi com Garrincha. E se a bola já teve alma, foi quando tocava seus pés. Ele não jogava por tática, jogava por travessura. Como quem dribla a tristeza por puro prazer. Garrincha foi o último vagalume antes da lâmpada fluorescente. E, cá entre nós, ninguém jamais brilhou daquele jeito ֎


 
 
 

コメント


bottom of page