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Mesopotâmia - berço da civilização

Atualizado: 16 de out. de 2023


A Mesopotâmia (do grego, "entre dois rios") era uma antiga região localizada no Mediterrâneo oriental, limitada a nordeste pelas montanhas Zagros e a sudeste pelo planalto árabe, correspondendo ao atual Iraque e partes do Irã, Síria e Turquia. Os “dois rios” são o Tigre e o Eufrates, que se originam nas Montanhas Taurus, na Armênia. A terra era conhecida como Al-Jazirah (A ilha) pelos árabes como terra fértil rodeada de água.


O egiptólogo J.H. Breasted (1865-1935) cunhou o termo Crescente Fértil, em 1916, para descrever a região localizada no extremo norte do Golfo Pérsico, associada ao bíblico Jardim do Éden. Suas terras eram férteis e de fácil implantação das técnicas de irrigação e de complexos hidráulicos.A fertilidade do solo era garantida pelo ciclo de cheias dos dois rios que encharcavam o solo com material orgânico, permitindo o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais.


Com a abundância de águas e terras férteis, os primeiros seres humanos resolveram ali se fixar, num fenômeno conhecido por Revolução Urbana. As primeiras cidades nasceram ainda no processo de sedentarização humana e revolução agrícola pastoril do ciclo neolítico.


Berço da civilização


A Mesopotâmia é considerada o berço da civilização por ser a região onde se desenvolveram os primeiros assentamentos humanos permanentes, por volta do ano 4.000 a.C. Foi o lar de muitas civilizações ao longo de milhares de anos que contribuíram significativamente para a cultura e o progresso globais. Os sumérios foram os primeiros colonizadores que se estabeleceram na cidade de Uruk e depois conseguiram ocupar a região baixa da Mesopotâmia. As culturas do Antigo Egito desenvolveram-se ao longo do rio Nilo, na mesma época das culturas da Mesopotâmia. As obras arquitetônicas mais antigas do mundo encontram-se nessas duas regiões.


Os principais acontecimentos que marcaram a transição entre os períodos da Pré-História e da Idade Antiga foram a criação da roda (por volta de 3.500 a.C.) e o desenvolvimento da escrita (a partir de 3.300 a.C.) que os primeiros povos sedentários praticaram.



Origem da Mesopotâmia


As cidades eram protegidas por muralhas e suas construções mais altas eram os templos, chamados de zigurates, administrados por sacerdotes que detinham o poder administrativo da cidade. Os diferentes povos mesopotâmicos prosperaram culturalmente e foram em sua época um dos grandes polos civilizacionais da Eurásia, embora séculos depois fossem pouco mais que um território disputado pelos grandes impérios da Antiguidade tardia, como o Império Romano e o Império Persa.


Com o tempo, essas cidades foram crescendo e despertando a cobiça nas cidades vizinhas. Houve então a necessidade de separar o poder religioso do administrativo. Surgiram assim os primeiros comandantes militares. As cidades também passaram a comercializar os excedentes da produção e isso gerou as primeiras trocas comerciais da história.


Civilização Mesopotâmica


A população mesopotâmica nasceu das conquistas de dois principais povos: os sumérios e os acádios. Depois vieram os babilônios, assírios e hititas.


Sumérios


Os primeiros povos que se estabeleceram na região de maneira sedentária foram os sumérios, oriundos do vizinho planalto do Irã. A civilização suméria tem o contexto histórico mais antigo e misterioso entre as civilizações da Antiguidade. Acredita-se que eles tenham chegado ao local por volta de 5.000 a.C.


Ao dominar o sul da Mesopotâmia e utilizar as experiências dos seus antigos habitantes, eles aprenderam o método de drenagem de pântanos, a escavação de riachos e a agricultura. As primeiras cidades construídas pelos sumérios foram Quish, Ur, Uruk, Lagash, Nippur e Eridu. Sinal de um sistema agrícola próspero e extenso comércio com as terras vizinhas.


Os sumérios desenvolveram grandes construções hidráulicas que aproveitavam os pântanos, inibiam as inundações dos rios e garantiam água nos períodos de seca. Algumas descobertas arqueológicas mostram que a Suméria tinha habitantes que aprenderam gradualmente as técnicas de exploração das águas dos rios.


Atribui-se aos sumérios o desenvolvimento da primeira forma de escrita da humanidade, a escrita cuneiforme, um tipo de escrita que utiliza símbolos para representar objetos ou conceitos (embora a escrita também tenha se desenvolvido no Egito, no Vale do Indo, na China e de forma independente na Mesoamérica). Ela foi criada para manter controle sobre a contabilidade dos palácios reais.




A organização política era de cidades-estado, cada cidade era independente e governada por um patesis, mistura de chefe militar e sacerdote. Eles criavam as leis, cobravam impostos e supervisionavam os canais de irrigação e drenagem. Também cobravam impostos e administravam as obras para armazenar a água a ser usada nos períodos de seca.


As terras eram consideradas propriedade dos deuses, cabendo ao homem servi-los com o trabalho agrícola e com a edificação dos zigurates. A palavra zigurate significa um templo de vários andares e é uma pronúncia moderna do zigurtu, um termo acadiano que vem dos textos babilônicos e assírios. Construído como um templo em forma de pirâmide, era uma estrutura religiosa construída, de 4.200 a 2.500 anos, nas principais cidades mesopotâmicas. O zigurate mais famoso da Mesopotâmia é o de Ur, construído por volta de 2.100 a.C.


Depois de longo tempo de autonomia, as cidades sumerianas se enfraqueceram, devido às lutas pela hegemonia política. O enfraquecimento possibilitou a invasão de vários povos semitas do sudeste da Ásia que falavam línguas semíticas, tais como acádios, hebreus, árabes, etíopes, babilônicos, assírios, arameus, cananeus e fenícios.


Acádios


O domínio dos sumérios na Mesopotâmia encerrou-se com a chegada dos acádios, que conquistaram as cidades da região. Entre eles vieram árabes, hebreus e sírios, que se estabeleceram ao norte da Suméria e prosperaram o suficiente para invadi-la e fundar o Império Acádio.


Acádio é um antigo estado guerreiro considerado ancestral dos povos assírio e babilônico. Ao contrário dos sumérios, os acádios formaram um poderoso governo central. Por essa razão são conhecidos como o estado que estabeleceu o primeiro reino central da história. Os acádios também criaram o primeiro exército regular conhecido sob essa forma de governo e sociedade guerreira. Sua cidade mais importante foi Acad, que deu origem ao termo acádio.


O Império Acádio atingiu o seu apogeu político entre os séculos XIV e XXII a.C. Por volta de 2.330 a.C., o rei acádio Sargão I unificou as cidades sumérias, criando o Império Acádio, o primeiro império que se tem registro. Ele foi capaz de conquistar todas as terras da Mesopotâmia abusando dos conflitos civis sumérios.


A principal fonte econômica era a agricultura, beneficiada pela irrigação dos rios Tigre e Eufrates. A economia girava de acordo com a troca de metais e cevada. O poder político ficava nas mãos dos reis, que após a morte eram idolatrados como deuses. No entanto, o império dos acádios foi breve, contínuas invasões estrangeiras inviabilizaram sua permanência que acabou desaparecendo por volta de 2.100 a.C.




Primeiro Império Babilônico (1800-1600 a.C.)


Com a queda do Império Acádio, a Mesopotâmia foi dividida em duas regiões distintas: a Assíria (região norte) e a Babilônia (região sul). Entre os invasores que derrubaram os acádios, estavam os amoritas, provenientes do deserto árabe. Eles se estabeleceram na cidade de Babilônia, na Média Mesopotâmia.


Os amoritas, também conhecidos como babilônios, instalaram-se na região por volta de 2.000 a.C. Ocuparam a Babilônia e transformaram-na em um grande centro urbano e comercial. Os babilônios eram um grupo de tribos semíticas chamadas amorreus; tribos muito primitivas que ocuparam o oeste do Eufrates a partir da segunda metade do terceiro milênio a.C. Babilônia foi ocupada duas vezes, no final do terceiro milênio – por volta de 2.122 a.C. e no início do primeiro milênio a.C. Os historiadores afirmam que importantes rotas comerciais passavam pela cidade e que comerciantes chegavam de diferentes partes do mundo.


Eles invadiram as áreas habitadas pelos acádios e acabaram controlando outras cidades da região. O auge do governo babilônico ocorreu sob o reinado de seu famoso rei Hamurabi (por volta de 1792-1750 a.C.). Por volta do século XVIII a.C., Hamurábi conseguiu unificar toda a região. As maiores concentrações urbanas da Antiguidade surgiram justamente nesse período. Além dele, a civilização babilônica foi governada por Nabucodonosor que ordenou a criação dos Jardins Suspensos, da Torre de Babel e a conquista de Jerusalém.


Código de Hamurabi


O conjunto de leis que ordenava esse império ficou conhecido como Código de Hamurabi (olho por olho, dente por dente). O código apresentava uma série de penalidades para delitos em todos os âmbitos da vida, doméstica ou profissional, em relação à propriedade de imóveis e escravos. Esse código baseava-se em um princípio conhecido como Lei de Talião, ou seja, aquele que cometesse um delito tinha como pena uma punição proporcional ao dano que havia causado. O Código de Hamurábi foi antecedido por outros conjuntos de leis na Mesopotâmia, como o Código de Ur Nammu.


Mantida no Museu do Louvre, a estela (pedra) de Hamurabi é considerada a lei escrita mais antiga da história. Hamurabi foi um governante aventureiro que expandiu o reino da Babilônia ao longo do fértil rio Eufrates e anexou vastas terras à Mesopotâmia. Para poder controlar suas terras e seus súditos, ele criou um sistema judicial que mantinha todas as terras conquistadas unidas entre si. Combinou desenvolvimentos militares e políticos com projetos de irrigação e construção. Edificou fortalezas, fortificações e templos dedicados a Marduk, um deus babilônico.


Após a morte de Hamurabi, seu império desintegrou-se rapidamente pois o sul da Mesopotâmia não tinha fronteiras naturais e defensáveis, o que o tornava vulnerável a ataques. No século XVI a.C., uma tribo chamada hitita atacou a Babilônia pelo norte. Um exército hitita cruzou as montanhas Taurus da Ásia Menor até a Mesopotâmia. Os ataques dos hititas que tentavam expandir-se para fora da Anatólia acabaram por levar à destruição da Babilónia em 1593 a.C., encerrando assim a antiga dinastia que havia sido fortalecida por Hamurabi. Como a região estava muito distante (a 1.200 milhas da sua capital em Hattusas) eles se retiraram da Babilônia.


Por volta de 1531 a.C., a invasão dos cassitas, que apareceram pela primeira vez nas montanhas Zagros a noroeste do atual Irã, quebrou a resistência do governo babilônico. Os cassitas saquearam e destruíram Babilônia e a renomearam como Kardunias. Esse governo durou mais de 500 anos. Foi a mais longa dinastia conhecida daquele estado, que governou durante todo o período conhecido como Média Babilônia (1595-1155 a.C.).


Neobabilônicos


Os Neobabilônicos, também conhecidos como Império Caldeu, foram uma civilização mesopotâmica dominante que subiu ao poder durante o final dos séculos VII e VI a.C. Seu reinado marcou um período significativo na história, caracterizado por poderio militar, avanços culturais e maravilhas arquitetônicas.


Suas raízes remontam à antiga cidade de Babilônia. A região foi anteriormente governada por vários impérios, como os assírios. No entanto, o ressurgimento do poder babilônico no século VII a.C. levou ao estabelecimento do Império Neobabilônico.


Sob a liderança do posterior rei Nabopolassar, os caldeus rebelaram-se contra os assírios e conquistaram com sucesso a independência da Babilônia. O filho de Nabopolassar, Nabucodonosor II, ascendeu ao trono e expandiu ainda mais a influência e o território do império. O reinado de Nabucodonosor é frequentemente considerado a era de ouro dos neobabilônicos, caracterizada por realizações impressionantes. Ele empreendeu vários projetos de construção, incluindo os lendários Jardins Suspensos da Babilônia, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Fortificou a cidade de Babilônia, tornando-a uma fortaleza inexpugnável.


Além de seu poderio militar, os neobabilônicos eram patronos ávidos da arte, da literatura e da ciência. Eles fizeram avanços significativos na astronomia e na matemática. Seu sistema de escrita cuneiforme facilitou a documentação do conhecimento e da cultura.


Queda do Império Neobabilônico


Os neobabilônicos enfrentaram conflitos internos e pressões externas que contribuíram para o seu declínio. Após a morte de Nabucodonosor II, o império testemunhou uma série de governantes fracos, levando à instabilidade e vulnerabilidade.


A conquista da Babilônia por Ciro, o Grande, um rei persa conhecido por suas proezas militares e habilidades diplomáticas, foi um evento histórico significativo que ocorreu em 539 a.C. Ciro fundou o Império Aquemênida, que se tornaria um dos impérios mais significativos e influentes da antiguidade. Na época da conquista, a Babilônia era governada pelo Rei Nabonido. Buscando expandir seu império e afirmar o domínio persa, Ciro voltou sua atenção para a Babilônia.


Os detalhes exatos da conquista estão registrados no Cilindro de Ciro, um antigo cilindro de argila com inscrições que descrevem os eventos da perspectiva dele. Segundo o cilindro, o exército de Ciro entrou na Babilônia sem enfrentar muita resistência dos moradores. O deus babilônico Marduk foi creditado por favorecer Ciro e garantir uma transição pacífica de poder.


A reputação de Ciro como governante benevolente e as suas políticas de tolerância religiosa e cultural contribuíram para o seu legado como modelo de liderança justa e compassiva.


O Cilindro de ciro


Assírios


O reino dos amoritas se enfraqueceu após a morte de Hamurábi e foi sucedido pelos assírios que ocuparam a região norte da Babilônia. Eles estavam entre as tribos semíticas que viviam na parte norte da Mesopotâmia e que corresponde à maior parte do atual Iraque, bem como a partes do Irã, Kuwait, Síria e Turquia. Teve um início relativamente humilde como estado-nação durante o segundo milênio a.C. De todos os povos da civilização mesopotâmica, ganharam destaque pelo poder militar, especialmente na fabricação de armas.


Eles formaram uma sociedade extremamente militarizada a partir do final do segundo milênio a.C. e iniciaram um processo de expansão e conquista na Mesopotâmia por volta de 1200 a.C. Eles conquistaram toda a Mesopotâmia, além da Palestina, do Egito e parte da Pérsia.


Os assírios ficaram célebres por serem guerreiros temíveis que se utilizavam de técnicas violentas em combate e por tratarem seus prisioneiros com extrema brutalidade. Os povos conquistados, além de serem governados de maneira tirânica, eram obrigados a pagar pesados tributos. Essa violência foi levantada pelos historiadores como o motivo que deu início a inúmeras revoltas que enfraqueceram o poder dos assírios por volta do século VII a.C.


O rei mais importante dos assírios foi Assurbanipal, que ficou conhecido por ser um apreciador da erudição e por mandar construir a Biblioteca de Nínive (principal cidade da Assíria). Essa biblioteca reunia milhares de textos em escrita cuneiforme sobre diversos assuntos. Grande parte do que hoje se conhece sobre a Mesopotâmia deve-se a essa biblioteca. Eles eram grandes incentivadores das ciências. As coordenadas de latitude e longitude para navegação, por exemplo, são uma das invenções matemáticas desenvolvidas pelos assírios.



A Assíria passou por várias mudanças ao longo da história. Embora às vezes fosse um estado independente, também caiu nas mãos do Império Babilônico e, mais tarde, no governo Mittani. Mas, ao contrário de outros estados-nação, devido aos seus avanços tecnológicos na guerra, os assírios mantiveram as suas terras enquanto outros estados e impérios subiam e desciam do poder.


Quando os hititas, derrubaram o governo Mittani, deixaram um vácuo de poder que levou a região à guerra e ao governo assírio, que derrotou os pretendentes e ocupou a Mesopotâmia. A partir do século XII a.C., os assírios lutaram constantemente com seus vizinhos e conquistaram territórios e saquearam cidades prósperas. As inscrições e baixos-relevos deixados por eles contém muitas informações sobre essas guerras e violações.


No século IX a.C., Salmansar III expandiu o território assírio até a costa do Mediterrâneo. Ashur Banipal, o famoso rei da Assíria, conquistou o Egito no século VII e aumentou a intensidade do ataque às terras vizinhas.


A Revolta da Babilônia em 626 a.C., em combinação com uma invasão dos medos sob Ciaxares em 615-614 a.C., levou à conquista medo-babilônica do Império Assírio. Os vizinhos feridos pela Assíria deram as mãos e decidiram destruí-la. Isso aconteceu com a união do Estado Medo, que se estabeleceu no Irã, e do Estado Caldeu, que se estabeleceu no sul da Mesopotâmia. Assur foi saqueada em 614 a.C. e Nínive em 612 a.C. A civilização assíria entrou em colapso por conta de inúmeros conflitos civis e da morte do rei Assurbanipal que, na sua gestão, controlou a Babilônia, a Síria, a Pérsia e o Egito.


Hititas


Os hititas foram povos indo-europeu que formaram outro império nas proximidades da Mesopotâmia. Eram liderados por um rei, considerado soberano e divino, que também comandava o exército e os sacerdotes. As principais bases econômicas eram a agricultura, mineração e comércio. Além disso, foram os pioneiros no manuseio do ferro.


Dominavam a escrita cuneiforme e outro tipo de escrita pictográfica. Essa linguagem deu origem a outros idiomas falados na Europa e na Ásia. O império dos Hititas teve sua queda com o domínio assírio, que tinha grande poder militar.



Caldeus


O enfraquecimento dos assírios levou os caldeus a conquistar a Mesopotâmia e a fundar o Segundo Império Babilônico, em 612 a.C. O império foi breve e teve como principal rei Nabucodonosor, responsável por reconquistar a Palestina e toda a Mesopotâmia. Atribui-se a ele a construção dos Jardins Suspensos da Babilônia, considerado uma das maravilhas do mundo antigo.


O império dos caldeus foi o último desenvolvido por um povo mesopotâmico. Seu domínio foi enfraquecido após a morte de Nabucodonosor e, por isso, eles foram conquistados pelos persas, liderados por Ciro II em 539 a.C.


Características dos povos da Mesopotâmia


Ao contrário das civilizações mais unificadas do Egito ou da Grécia, a Mesopotâmia era um conjunto de culturas variadas cujos únicos elos reais eram a sua escrita, os seus deuses e a sua atitude para com as mulheres. Os costumes sociais, as leis e até mesmo a língua do povo sumério diferem daqueles do período acadiano e não se pode presumir que correspondam aos das civilizações babilônicas. No entanto, parece que os direitos das mulheres (durante alguns períodos), a importância da alfabetização e o panteão dos deuses foram partilhados por toda a região, embora os deuses tivessem nomes diferentes em várias regiões e períodos.


Política


Antes do conceito de rei, acredita-se que os governantes sacerdotais ditavam a lei de acordo com os preceitos religiosos e recebiam mensagens divinas por meio de sinais e presságios. O papel do rei foi estabelecido pouco tempo depois de 3.600 a.C. Ao contrário dos sacerdotes-governantes que o precederam, o rei tratava diretamente com o povo e deixava clara a sua vontade por meio de leis por ele inventadas. Embora continuasse a honrar e apaziguar os deuses, o rei considerava-se um representante suficientemente poderoso desses deuses para poder expressar a sua vontade de acordo com seus próprios ditames, usando a sua própria voz.


No entanto, mesmo governantes muito eficientes, como Sargão de Acádia (r. 2334-2279 a.C.), tiveram de lidar com revoltas de facções ou regiões inteiras que desafiavam a sua legitimidade. Como a Mesopotâmia era uma região muito vasta, repleta de culturas e diferentes etnias dentro das suas fronteiras, um único governante que tentasse fazer cumprir as leis de um governo central encontraria resistência.


Sistemas sociais


As sociedades da civilização mesopotâmica eram divididas pelas seguintes camadas: nobres, sacerdotes, militares, comerciantes e escravos (prisioneiros de guerra). Os poderes político, militar e científico ficavam nas mãos da nobreza, dos sacerdotes e de alguns comerciantes. Já os camponeses e escravos eram obrigados a servir a classe dominante, entregando boa parte da sua produção agrícola. Os escravos eram utilizados nos trabalhos mais duros, como o das minas.


Economia


A base da economia era a agricultura, que dependia das cheias dos rios Tigres e Eufrates. O cultivo de trigo, cevada, raízes e frutas, juntamente com o arado e os carros de roda, tornaram a região um polo econômico. O sistema monetário era pouco desenvolvido, mas a cevada e os metais eram utilizados como referência de valor.


Os locais de produção agrícola eram dirigidos pelos templos, zigurates e palácios. Cabia aos camponeses o trabalho nessas terras e a entrega de boa parte dos produtos aos templos. Já as propriedades privadas, livres do domínio dos zigurates, eram cultivadas por funcionários que recebiam pagamentos.


Mercado de trabalho


Como a Mesopotâmia era fundamentalmente agrária, as principais ocupações estavam na agricultura e na pecuária. Outras ocupações eram as do escriba, do curandeiro, do artesão, do tecelão, do oleiro, do sapateiro, do pescador, do professor e do sacerdote ou sacerdotisa. Tanto homens quanto mulheres trabalhavam.


À frente da sociedade estavam os reis e sacerdotes servidos pelos numerosos funcionários do palácio e do templo. Com a instituição de exércitos permanentes e a expansão do imperialismo, os oficiais militares e os soldados profissionais ocuparam o seu lugar na crescente e diversificada força de trabalho da Mesopotâmia.


Edifícios e governo


O templo (zigurate), localizado no centro de cada cidade, simbolizava a importância da divindade padroeira daquela localidade. Cada cidade tinha seu próprio zigurate para homenagear sua divindade padroeira. As cidades maiores tinham mais de um.


As casas simples eram construídas com feixes de junco amarrados e inseridos no solo, enquanto as mais complexas eram construídas com tijolos de barro secos ao sol. Cidades e complexos de templos, com seus famosos zigurates, foram construídos com tijolos de barro cozidos em forno e depois pintados.


Acreditava-se que os deuses estavam presentes no planejamento e execução de qualquer projeto de construção. Por isso, recitar orações muito específicas em uma determinada ordem à divindade correspondente era considerada de extrema importância para o sucesso do projeto e a prosperidade dos ocupantes da casa.


Sistema de educação


A Mesopotâmia era conhecida como uma sede de aprendizagem. Acredita-se que Tales de Mileto (c. 585 a.C., conhecido como o "primeiro filósofo") tenha estudado lá. Como os babilônios acreditavam que a água era o “primeiro princípio” do qual todo o resto fluía, e como Tales é famoso por essa afirmação, parece provável que ele tenha mesmo estudado na região.


As atividades intelectuais eram altamente valorizadas em toda a Mesopotâmia, e diz-se que as escolas (dedicadas principalmente à classe sacerdotal) eram tão numerosas quanto os templos, ensinando leitura, escrita, religião, direito, medicina e astrologia.


Religião


Os povos mesopotâmicos eram politeístas e cultuavam seus próprios deuses, os babilônios, Marduk; os assírios, Assur que representavam as forças naturais (terra, água, fogo e ar) e se assemelhavam às características humanas: qualidades, defeitos, paixões e ira. Outros foram An (deus do céu), Enlil (deus do vento), Enki (deus da água) e Ninhursag (deusa da terra).

A deusa Ishtar era a única divindade adorada por todos os povos. Ela ajudava os homens nos dilemas do amor e na conquista de guerras. Além dos deuses, eles acreditavam em gênios (semelhantes a anjos) auxiliadores. Esses espíritos seriam responsáveis pela proteção das divindades contra doenças, morte ou até mesmo forças malignas.



O início do mundo foi uma vitória dos deuses sobre as forças do caos. Embora os deuses tivessem vencido, isso não significava que o caos não voltaria. Por meio de rituais diários, atenção às divindades, práticas funerárias adequadas e simples deveres cívicos, eles acreditavam estar ajudando a conservar o equilíbrio no mundo e a manter as forças do caos e da destruição sob controle. Os cidadãos eram obrigados a honrar os deuses com os trabalhos que desempenhavam diariamente.


Havia mais de mil divindades no panteão de deuses das culturas mesopotâmicas e muitas histórias relacionadas aos deuses (incluindo o mito da criação, o Enuma Elish). É geralmente aceito que histórias bíblicas como a Queda do Homem e o Grande Dilúvio (entre muitas outras) se originaram na tradição mesopotâmica, conforme aparecem pela primeira vez em obras mesopotâmicas como O Mito de Adapa e a Epopeia de Gilgamesh, a mais antiga escrita do mundo. Os mesopotâmicos acreditavam que eram colegas de trabalho dos deuses e que a terra estava permeada de espíritos e demônios (demônios não entendido no sentido cristão moderno).


Ciências

Em 1922 o arqueólogo Sir Leonard Woolley descobriu "os restos de duas carruagens de quatro rodas, junto com seus pneus de couro, no local da antiga cidade de Ur. São os veículos com rodas mais antigos da história".


Outros desenvolvimentos ou invenções importantes atribuídas aos mesopotâmicos são, entre outros, a domesticação de animais, a agricultura e a irrigação, as ferramentas comuns, o armamento e a guerra sofisticados, a carruagem, o vinho, a cerveja, a demarcação do tempo em horas, minutos e segundos, a religião ritos, navegação (veleiros) e códigos legais.


Os povos mesopotâmicos tiveram grande destaque nos ramos da astronomia, matemática e direito. Observando o céu, os sacerdotes desenvolveram os princípios da astronomia e da astrologia. Conheciam as propriedades dos planetas e estrelas, e as fases dos eclipses solares e lunares. Os zigurates eram verdadeiras torres de observação dos céus. Descreveram cálculos do movimento de planetas e estrelas e a elaboração de sofisticados calendários.


Foram os mesopotâmios que elaboraram o calendário dividindo o ano em 12 meses e a semana em sete dias, cada um em períodos de 12 horas. Na matemática inventaram os cálculos de raízes quadrada e cúbica, divisão, equação e as grandezas de comprimento. Além desses, também dividiram o círculo em 360 graus. No Direito, criaram uma coleção de leis sumérias e semitas, com destaque para o Código de Hamurabi.


Legado


De acordo com Chapin Metz, editora americana e analista do Oriente Médio, o bem-estar da comunidade dependia da observação cuidadosa dos fenômenos naturais, as atividades científicas ocupavam grande parte do tempo dos sacerdotes. Os sumérios acreditavam que cada um dos deuses era representado por um número. O número 60, consagrado ao deus An, era sua unidade básica de cálculo. Os minutos de uma hora e os graus notáveis ​​de um círculo eram conceitos sumérios. O sistema agrícola altamente desenvolvido e os sistemas refinados de irrigação e controle de água que permitiram à Suméria obter excedentes de produção também levaram ao crescimento das grandes cidades.


A urbanização, a roda, a escrita, a astronomia, a matemática, a energia eólica, a irrigação, o desenvolvimento agrícola, a pecuária e as narrativas que eventualmente seriam reescritas como as Escrituras Hebraicas e forneceriam a base para o Antigo Testamento cristão, tudo isso veio da terra da Mesopotâmia.


Como observado, Samuel Noah Kramer lista 39 "primeiros" mesopotâmicos em seu livro The Story Begins in Sumer, e ainda assim, por mais impressionantes que sejam esses "primeiros", as contribuições mesopotâmicas para a cultura mundial não terminam com eles. Os mesopotâmicos influenciaram as culturas do Egito e da Grécia por meio do comércio de longa distância e da difusão cultural impactaram a cultura de Roma e deram o tom para o desenvolvimento e difusão da civilização ocidental. A Mesopotâmia em geral e a Suméria em particular deram ao mundo alguns dos seus aspectos culturais mais duradouros e, embora as cidades e os grandes palácios tenham desaparecido há muito tempo, esse legado ainda continua.


No século XIX d.C., arqueólogos de várias nacionalidades chegaram à Mesopotâmia em busca de evidências que corroborassem os relatos bíblicos do Antigo Testamento. Na época, a Bíblia era considerada o livro mais antigo do mundo e as histórias contidas em suas páginas eram consideradas composições originais. Os arqueólogos que procuravam evidências físicas para apoiar os relatos bíblicos descobriram exatamente o oposto, uma vez que antigas tábuas de argila foram descobertas e percebeu-se que as marcas nelas não eram desenhos, mas uma forma de escrita.


O estudioso e tradutor George Smith (1840-1876) decifrou essas tabuinhas cuneiformes em 1872 e isso abriu as antigas civilizações da Mesopotâmia ao mundo moderno. A história do Dilúvio e da Arca de Noé, a história da Queda do homem, o conceito de Jardim do Éden e até as queixas de foram escritas pelos mesopotâmicos séculos antes dos textos bíblicos.




A descoberta da civilização suméria e as histórias das tabuinhas cuneiformes promoveram uma nova liberdade de investigação intelectual em todas as áreas do conhecimento. Compreendia-se agora que as narrativas bíblicas não eram obras hebraicas originais, que o mundo era obviamente mais antigo do que a Igreja afirmava, que havia civilizações que tinham surgido e caído muito antes do que se pensava anteriormente, e que, se essas afirmações das autoridades da igreja e das escolas eram falsas, talvez outras também o fossem.


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