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Arte da Mesopotâmia - Parte 2

Atualizado: 4 de jun.


Nas postagens anteriores, vimos que a Mesopotâmia (do grego, "entre dois rios") era uma antiga região localizada no Mediterrâneo oriental, limitada a nordeste pelas montanhas Zagros e a sudeste pelo planalto árabe, correspondendo ao atual Iraque e partes de Irã, Síria e Turquia. Os rios Tigre e Eufrates se originam nas Montanhas Taurus, na Armênia. A terra era conhecida como Al-Jazirah (A ilha) pelos árabes como terra fértil rodeada de água.


Mapa do Médio Oriente durante os últimos séculos do IV milénio a.C.: sítios

arqueológicos da “expansão uruguaia”; Middle_East_topographic_map-blank.svg:

Trabalho derivado de Sémhur (talk): Zunkir, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.


A arte e as obras arquitetônicas da Mesopotâmia estão entre as mais antigas do mundo, datando de mais de 7.000 anos. Os trabalhos aparecem pela primeira vez no norte da Mesopotâmia, antes do Período Ubaid (c. 5.000 - 4.100 a.C.) e depois desenvolvidos no Sul, durante o Período Uruk (4.100 - 2.900 a.C.) na Suméria, que estabeleceu a primeira civilização do mundo.


De acordo com alguns estudiosos, os trabalhos da Civilização do Vale do Indo (c. 7.000 a.C. - c. 600 a.C.) são anteriores aos da Mesopotâmia, mas os desenvolvimentos do Vale do Indo não apareceram até o início do Período Harappan (c. 5.500 a.C. - 2.800 a.C.), época em que as obras mesopotâmicas já estavam estabelecidas. As primeiras formas de arte e construções são evidenciadas no norte da Mesopotâmia em locais como Göbekli Tepe (c. 10.000 a.C.) e Ҫatalhöyük (c. 7.500 a.C.), ambos na atual Turquia, e Tell Brak (c. 6.500 a.C. - 5.000 a.C.), na Síria.


As obras de arte incluíam relevos, esculturas, estátuas fundidas em metal, cerâmica, joias, selos cilíndricos, estelas, monumentos, obeliscos e pinturas murais. Essas primeiras produções ficaram mais refinadas na região, ao longo dos períodos posteriores. Elas influenciaram os trabalhos de outras culturas nas regiões do Oriente Próximo e do Mediterrâneo.



Contexto histórico da arte mesopotâmica


A arte da Mesopotâmia é situada entre 3.700 a.C. e 539 a.C., justamente o momento em que os persas chegaram ao território. Os rios Tigre e Eufrates foram de grande importância para o desenvolvimento dessas culturas que incluíam vários povos como os sumérios, os acadianos, os assírios e os babilônios. Deve-se considerar que um dos desenvolvimentos mais importantes foi o da escrita cuneiforme, o primeiro sistema de escrita da civilização humana.


Escrita cuneiforme mesopotâmica. Crédito: Creative Commons.


A “Revolução Urbana”


Há quatro mil anos antes de Cristo, ocorreu uma fase de crescimento urbano no sul da Mesopotâmia, que foi definida como Revolução Urbana. As primeiras cidades, Nínive, Ur e Babilônia, surgiram às margens dos rios. Igualmente importantes foram as cidades comerciais que surgiram, por exemplo, nas rotas que ligavam a Mesopotâmia ao Mediterrâneo. As cidades da Síria e das margens do Mediterrâneo (Ebla, Tiro, Biblos, Ugarit, Palmira) tiveram um papel estratégico nesse período.


As cidades eram representadas como um símbolo do cosmos na Terra: tinham formato circular, eram cercadas por muros e divididas por dois eixos ortogonais, orientados aos pontos cardeais. As atividades administrativas eram desenvolvidas no palácio real e no templo, onde se preservavam os principais recursos alimentares da comunidade. Os edifícios eram constituídos por paredes maciças, feitas de tijolos cozidos ao sol e posteriormente revestidos com telhas queimadas em fornos.


Como vários povos foram sucedidos ao longo de três milênios, a arte não teve um desenvolvimento unificado. Em linhas gerais, as maiores peculiaridades que se encontram refletidas nessas manifestações artísticas são a história, a política, a religião, as forças da natureza e as várias realizações que ocorreram com os persas.


As manifestações artísticas tinham como objetivo a decoração de templos e túmulos. Várias criações artísticas estavam ligadas à religião, algo muito comum entre os povos da Antiguidade. Como os materiais trabalhados eram muito vulneráveis à ação do tempo, a maior parte delas perdeu-se ao longo dos séculos.


A escultura e a pintura, tinham finalidades parecidas. Ambas decoravam os espaços arquitetônicos. Os escultores tinham de fazer a representação do corpo humano de forma estática, sem demonstrar nenhum tipo de expressão de movimentos. Já os pintores usavam cores claras, em desenhos que representavam batalhas, caçadas e demais acontecimentos relevantes.


Estatuetas femininas de terracota do período Ubaid por

Osama Shukir Muhammed Amin (direitos autorais).


Quanto aos materiais utilizados, o mais característico na fabricação das artes era a utilização de argila, adobe, terracota, cerâmica, cobre, basalto, estanho, alabastro (gesso e calcita), junco, marfim, pedras preciosas, além de ouro, prata e bronze. As primeiras ferramentas de arte disponíveis foram tábuas de argila e ferramentas de entalhe em junco. Embora a escultura e o entalhe fossem populares, não havia ferramentas de desenho.


Os sumérios, que se estabeleceram no sul da Mesopotâmia, durante o quarto milênio a.C., constituíram a primeira civilização da história. Apesar de os primeiros eventos históricos registrados datarem há cerca de 2.900 a.C., os historiadores creem que a Suméria foi habitada pela primeira vez pelos chamados ubaidianos, entre 5.000 e 4.000 a.C. Foram eles os primeiros a trabalhar com alvenaria, metalurgia, couro e tecelagem. Também desenvolveram o comércio e drenaram porções de pântanos para uso agrícola.


Eridu, considerada a primeira cidade do mundo, localizava-se na fronteira com o Golfo Pérsico. Devido à posição geográfica partilhada, pescadores, pastores nômades de língua semítica e agricultores ubaidianos, todos especialistas na produção de alimentos, armazenavam os excedentes de gêneros alimentícios que produziam. Essa capacidade de produzir e armazenar alimentos significava que, em vez de migrar constantemente em busca de recursos, eles podiam se fixar numa determinada localidade.


A cerâmica na Arte Mesopotâmica


A partir da linguagem, bem como de outros artefatos antigos da Mesopotâmia, como pictogramas, é possível deduzir que naquela região havia abundância de tradições artísticas. A argila era usada para a produção de cerâmica e tabuletas para a criação de documentos, utilizando a escrita cuneiforme por eles desenvolvida. O metal era usado para criar adagas. O ouro e o cobre eram martelados e usados ​​na produção de colares e placas decorativas.


Jarra de cerâmica Ubaid III, 5300 a.C. - 4700 a.C.,

Museu do Louvre; ALFGRN, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons.



Período Ubaid – c. 5.000 a.C. – 4.100 a.C.


A cerâmica produzida no Período Ubaid, altamente decorada, era feita em casa com rodas lentas. Artistas mesopotâmicos criaram potes, tigelas e vasos com barro cozido e pintaram desenhos decorativos e abstratos – um estilo que se espalhou por toda a região.


Cerâmica do Calcolítico; Einsamer Schütze, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.



O Período Uruk – 4.100 a.C. – 2.900 a.C.


Durante a transição do Período Ubaid ao Uruk, a produção da cerâmica mudou das rodas lentas domésticas para obras que foram criadas em grande escala sobre rodas rápidas por grupos de artistas especializados, mas sem utilização da pintura. Com o crescimento econômico da região, muitas cidades começaram a ser desenvolvidas ao longo das prósperas rotas comerciais dos rios e canais. Cada uma delas tinha órgãos governamentais com funcionários especializados.


Calha de Uruk; Gary Todd, CC0, via Wikimedia Commons.


Artefatos mesopotâmicos foram descobertos numa grande extensão de terra – do centro do Irã ao Mar Mediterrâneo e às Montanhas Taurus, na Turquia. A cultura Uruk teve uma grande influência nas áreas circundantes devido à sua difusão por meio dos comerciantes sumérios. Ao ultrapassar os 50 mil habitantes, Uruk logo foi considerada a cidade mais urbanizada de sua época.


Vaso Warka visto de todos os ângulos, período Uruk; Osama Shukir

Muhammed Amin FRCP (Glasg), CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.



A maioria das cidades tinha governos teocráticos. Seus sacerdotes eram os representantes de Deus nos assuntos terrenos, auxiliados por conselhos de anciãos. Esse modelo político influenciaria a estrutura do panteão de deuses do período sumério posterior. Foi uma época de paz, sem muros em torno das cidades.


O Império Acadiano – 2.334 a.C. – 2.218 a.C.


Durante o período de domínio acadiano das cidades sumérias, os artistas continuaram a criar vasos, jarros, tigelas e muitos outros objetos de cerâmica. A maioria deles não tinha pintura, como a cerâmica do período Uruk, embora alguns exemplos tenham padrões abstratos e relevos.


Cerâmica acadiana; Daderot, CC0, via Wikimedia Commons.



Terceira Dinastia de Ur – 2.047 a.C. – 1.750 a.C.


Ainda se criavam objetos de cerâmica sem pintura, mas em formas mais elaboradas, criando vasos de barro para armazenar líquidos, bem como vasos de flores e suportes para bolos. Tabuletas de argila também foram produzidas para manter registros, escrevendo-as com estiletes feitos de junco. Os textos inscritos nas tabuletas de argila que se destinavam a arquivos, eram cozidos num forno. As tábuas também eram usadas para controlar o estoque de animais, trabalhadores, salários e outras tarefas administrativas diárias.


Tábua cuneiforme de cerveja, pão e óleo, Período Ur III,

c. 2100-2000 AC; Daderot, domínio público, via Wikimedia Commons.



Antigo Período Babilônico – c. 2.000 a.C. – 1.600 a.C.


A cerâmica produzida nesse período indica um regresso acentuado à utilização de padrões abstratos pintados na superfície, bem como um aumento na gama de formas disponíveis para diversos fins, tanto práticos como estéticos. Artefatos cerâmicos como potes, vasos e taças, foram encontrados com restos de pintura abstrata no exterior de argila.


Cerâmica pintada, período Jemdet Nasr, c. 3000 a.C. De Greza, planície de Shahrizor, Sulaymaniyah,

Iraque; Osama Shukir Muhammed Amin FRCP (Glasg), CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.



Escultura na Mesopotâmia


As esculturas podiam ser tridimensionais como em alto-relevo em pedra, embora algumas fossem feitas em argila ou madeira. Esses povos ainda trabalhavam muito bem o ouro, o cobre e a prata. As obras representavam especialmente seres humanos e mitológicos, animais ou deuses em posições em pé ou sentados e tinham como característica mais evidente a ausência de movimento. Os sumérios e os acádios tinham uma tendência à simetria e à precisão, especialmente na pintura.


Era muito comum a representação de formas humanas robustas , especialmente na Suméria e na Assíria , com costas largas e um tanto atarracadas, músculos fortes, além de sobrancelhas muito espessas e olhos bem abertos. Sua aparência denotava uma certa severidade característica da Mesopotâmia.

Durante mais de 2.000 anos, a arte e a escultura mesopotâmicas foram criadas por razões políticas e devocionais; no entanto, o método pelo qual esses propósitos foram transmitidos diferiu muito de um período ao outro.


Com base nas pesquisas arqueológicas mais recentes, as esculturas podem ser datadas do décimo milênio antes de Cristo, anteriores às primeiras civilizações. Os motivos comuns eram animais e formas humanas, bem como selos com imagens e inscrições cuneiformes. As esculturas eram feitas de uma variedade de materiais, como pedras, gesso e alabastro; metais como bronze e cobre e terracota - material constituído por argila cozida no forno, sem ser vitrificada, utilizada em cerâmica e construção.


Os relevos geralmente faziam parte da decoração das paredes dos palácios. Costumavam contar a história das conquistas e triunfos do monarca. Era comum a representação de grandes figuras de animais fantásticos em baixos-relevos que protegiam as muralhas das cidades.


Caçadores-coletores e Samarra


As esculturas desse período, encontradas pelos arqueólogos são leves e pequenas os caçadores-coletores eram nômades e transportavam essas esculturas em longas distâncias. Mesmo depois de se tornarem sedentários, muitos artistas continuaram a criar pequenas esculturas para uso pessoal devocional ou ritual.


Muitas delas eram figuras femininas de fertilidade, evidenciadas pelas características e proporções exageradas dos seios, coxas e nádegas. Um excelente exemplo disso é a estatueta feminina encontrada em Samarra, datada de 6.000 a.C., atualmente no Museu do Louvre. Típica da época, a escultura apresenta poucos ou nenhum traço facial, mãos ou pés. São enfatizados os órgãos reprodutivos da anatomia feminina, até mesmo com as coxas dobradas em posição adequada para o trabalho de parto.

Número de fertilidade da cultura Halaf, 6.000 a.C. - 5.100 a.C.;

Museu do Louvre, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.



Esculturas do Período Uruk


Refletem conceitos como comunicação e espiritualidade. Um excelente exemplo da era pré-histórica tardia é o vale de Uruk, datado de cerca de 3.300 a.C. Os historiadores sugerem que o cocho, bebedouro ou comedouro para o gado, feito de gesso fazia parte de uma oferenda criada para Inanna, deusa da fertilidade e do amor. O exterior do cocho de Uruk era decorado com vários objetos sagrados comumente associados à deusa, como relevos de juncos e animais. Com base nessas observações, os historiadores acreditam que tinham finalidades espirituais ou rituais, e não para uso agrícola.


As primeiras formas de reconhecimento de firma de documentos foram encontradas nesse período na forma de selos cilíndricos, que eram esculpidos em pedra e continham imagens de animais e dos primeiros sistemas de linguagem. Eram utilizados pelos funcionários ou seus representantes como uma espécie de assinatura oficial, enrolando o cilindro em argila úmida, deixando uma impressão gráfica. Esses cilindros também eram usados ​​como joias e foram encontrados em tumbas da nobreza junto com suas pedras e metais preciosos. Imagens com forte qualidade narrativa foram o motivo popular da época, como pode ser visto nos cilindros, calhas e outros exemplos de esculturas desse período.


Também foi notável a melhoria na representação do corpo e do rosto humanos, como pode ser observado na Máscara de Warka, ou a Senhora de Uruk, de cerca de 3.000 a.C. A máscara de mármore leva o nome da cidade onde foi encontrada e é tudo o que resta de uma escultura que outrora consistia em um corpo feito de madeira, com cabelos folheados a ouro e olhos e sobrancelhas incrustados de joias. Como era comum na época, a escultura foi pintada para criar uma aparência mais realista; porém, se desbotou com o tempo.


A Máscara de Warka, de Warka (antiga Uruk), Iraque. Período Jemdet Nasr, 3.000-2.900 a.C.;

Osama Shukir Muhammed Amin FRCP (Glasg), CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.



Período Dinástico Inicial


Durante o período dinástico inicial de 2.900 a 2.400 a.C., os escultores criaram obras baseadas nas tradições mais antigas e desenvolveram estilos que se tornaram mais complexos com o tempo. O cobre era agora o meio mais utilizado, embora muitos artistas ainda usassem pedra e argila. O tema da escultura concentrava-se na religião, na interação social e na guerra. A arte do cilindro torna-se cada vez mais detalhada, como pode ser observado no selo que foi descoberto no túmulo da Rainha Puabi.


Ele é dividido em registro superior e inferior e retrata uma cena de celebração de festa palaciana com a rainha e seus súditos sentados em uma mesa de banquete. No registro inferior, o rei está sentado com seus súditos. Os soberanos são maiores do que seus súditos, uma forma de classificação visual chamada escala hierática. Há também inscrições cuneiformes neste belo exemplo de escultura nas antigas artes da Mesopotâmia.



Selo cilíndrico da “Senhora” ou “Rainha” (NIN suméria) Puabi, um dos principais

extintos do Cemitério Real de Ur, c. 2600 AC. Cena de banquete, típica do período

dinástico inicial; Nic McPhee de Morris, Minnesota, EUA, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia.


Entre os selos mais conhecidos está aquele descoberto nas ruínas da antiga cidade suméria de Girsu, representando uma figura humana com os braços estendidos em direção a um animal de cada lado. Acredita-se que esse motivo, hoje conhecido como 'Mestre dos Animais' (ou 'Senhora dos Animais'), esteja relacionado ao conceito dos deuses estabelecendo a ordem por meio da criação de animais, o controle da natureza. O motivo foi encontrado em obras de arte em todo o Oriente Próximo, incluindo o Egito, e em culturas mediterrâneas, como Grécia e Roma.


Outra escultura notável desse período foi encontrada no túmulo de Puabi em Ur. A cabeça do touro era uma escultura de mídia mista e consistia em uma cabeça dourada, com a pele feita de lápis-lazúli e os chifres feitos de conchas. A cabeça provavelmente foi usada para decorar uma lira usada em cerimônias e rituais funerários, embora a maior parte da lira encontrada no túmulo de Puabi tenha se desintegrado ao longo dos séculos.


Esculturas representando a forma humana também foram usadas como oferendas religiosas nos templos. Os exemplos mais conhecidos são as figuras de Tell Asmar datadas de entre 2.700 e 2.600 a.C. Esse grupo de doze esculturas humanas retrata deuses, sacerdotes e adoradores, e foram criadas em escala hierática, como acontece com os cilindros da Rainha Puabi.


Lira com cabeça de touro recuperada do cemitério real de Ur Iraque, 2550-2450 a.C.;

Mary Harrsch de Springfield, Oregon, EUA, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons.



As esculturas representando adoradores foram criadas com os braços posicionados de forma a sugerir a oferta de presentes aos deuses. Dependendo da posição na escala hierárquica, as esculturas eram feitas de materiais que iam do gesso ao calcário e ao alabastro. A característica comum de todas as figuras humanas são as grandes pupilas ocas que antes seguravam pedras nas cavidades para criar uma aparência mais realista. Os olhos representavam um poder espiritual significativo, especialmente no que diz respeito aos olhos dos deuses. Uma das figuras representa Enil, o poderoso deus mesopotâmico, e é feita de calcário, concha, betume e alabastro.


Estatuetas de adoradores e adoradores sumérios do Templo Quadrado de Abu em

Tell Asmar (antiga Eshnunna), Iraque. Período dinástico inicial, c. 2800-2400 AC. Parte do chamado

“Tell Asmar Hoard”; Osama Shukir Muhammed Amin FRCP (Glasg), CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.



Império Acadiano


O Império Acadiano durou de 2.270 a 2.154 a.C. A escultura desse período tornou-se cada vez mais temática em torno da guerra e da política, e o estilo ficou exponencialmente mais realista em sua representação da forma humana. Grande parte da arte escultórica da Mesopotâmia desse período retrata uma mistura de características realistas e estilizadas, como pode ser visto no retrato de bronze do rei Sargão.


Enquanto seus pelos faciais e olhos são estilizados, o nariz e a boca são criados com um estilo naturalista e dão a impressão de um indivíduo único, coisa rara para a época. Os olhos do retrato do rei Sargão são ocos, pois antes eram incrustados, e a cabeça foi moldada pelo processo de cera perdida.


Máscara de Sargão de Akka; Hans Ollermann, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons.



O período acadiano foi de opressão e convulsão massivas, resultando em um clima muito violento. Isso pode ser visto nos exemplos de arte remanescentes daquela época, como a representação da estela da Vitória de Naram Sin do século XII a.C. O rei é representado usando um capacete com chifres, significando que é uma figura divina. Naram Sin é retratado maior do que as demais figuras, como seus inimigos e soldados, típico do estilo hierático. Seus soldados observam a cena de um ponto de vista privilegiado, enquanto o rei fica em cima dos corpos dos inimigos mortos. Para realçar a dramaticidade da cena, o evento foi criado em alto relevo. O texto cuneiforme fornece contexto no lado direito do painel.


Estela da vitória de Naram-Suen; Fred Romero de Paris, França, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons.



Babilônia e Assíria


À medida que a Idade do Bronze Médio deu lugar à Idade do Bronze Final, no segundo milênio a.C., a Assíria e a Babilônia tornaram-se as culturas mais proeminentes da época no Oriente Próximo. Embora a pedra também fosse usada para escultura, a argila era o material mais utilizado. Os artefatos mesopotâmicos desse período revelam principalmente a produção de pequenas esculturas independentes, selos cilíndricos e relevos, bem como placas baratas de cerâmica moldada para uso religioso doméstico. As representações de humanos ficaram mais naturalistas e menos estilizadas.


Shulgi (segundo rei da Terceira Dinastia de Ur durante o chamado Renascimento Sumério, reinou no período que se estendeu entre 2 095 e 2 049 a.C. e foi antecedido por seu pai Ur-Namu e sucedido por Amar-Sim) e Ur-Namu são retratados em estátuas fundidas em cobre e geralmente com trinta centímetros de altura e conhecidas como figuras de fundação. Elas foram cravadas nas fundações de um palácio ou templo para homenagear o rei que o encomendou ou o deus que o criou para homenagear.


As figuras votivas, que apareceram pela primeira vez durante o período dinástico inicial, foram mais refinadas por Ur III. Eram figuras antropomórficas de tamanhos variados com olhos grandes (às vezes conhecidos como 'olhar eterno') em atitude de oração. Eles foram encomendados por patronos ricos com o objetivo de permanecer no templo e prestar homenagem ao deus enquanto o patrono cuidava de seus negócios. O patrono era assim entendido como estando em constante comunhão com o divino, pois cada peça era pensada como tendo sido feita à sua semelhança.


Entre as obras mais famosas desse período estão as muitas estátuas de Gudea, rei de Lagash (r. 2080-2060 a.C.), sempre retratado em uma pose meditativa e de oração, de acordo com sua reputação de governante devoto, associado especialmente ao culto de Nisaba, deusa da escrita. Os relevos, sejam altos ou baixos, seguem a mesma forma estabelecida de régua ou divindade dada como maior que as demais da peça. Essa mesma prática foi observada na confecção dos selos cilíndricos.


Ele foi retratado em pelo menos trinta estátuas, todas com algumas características semelhantes: a forma fechada, para definir um volume claro e poderoso, a frontalidade rígida e a simetria da pose, tanto que o corpo do soberano é tão imponente quanto uma coluna, suave, e brilhante. Os olhos arregalados, elemento constante na estatuária suméria, significam que apenas o rei tinha o privilégio de ver a divindade.


Estátua do Príncipe de Gudea, governante de Lagash (2120 aC). Crédito: Creative Commons.


Os assírios desenvolveram seu próprio estilo de relevos enormes e maravilhosamente detalhados em alabastro pintado ou pedra. Esses relevos retratavam majoritariamente atividades praticadas por membros da realeza, como a caça ou as batalhas, e destinavam-se a ser alojados em palácios. Animais como leões e cavalos são retratados detalhadamente, enquanto os humanos foram colocados em posturas comparativamente rígidas, mas também com grande atenção aos detalhes.


Obra de arte da Assíria representando soldados acumulando espólios, ca. 640-620 AC. Do Palácio Sudoeste em Nínive, sala XXVIII, painéis 7-9; Museu Britânico, CC BY 2.5, via Wikimedia Commons.



Os assírios não produziram muitas esculturas que pudessem ser vistas de todos os ângulos, exceto as enormes esculturas guardiãs, normalmente feras aladas ou leões, que seriam posicionadas próximas aos portões das instalações reais. No início, eles foram fortemente influenciados pelo estilo dos babilônios. Só começaram a exibir características assírias distintas por volta de 1.500 a.C.


“Burney Relief”, mostrando uma deusa babilônica de cerca de 1800-1750 AC. Provavelmente

são Ishtar ou sua irmã Ereshkigal (leões) ou Lilitu (corujas). A estatueta foi originalmente

pintada de vermelho com fundo preto; Aiwok, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.



Um exemplo é o Burney Relief, criado entre 1.800 a.C. e 1.750 a.C. Essa placa de terracota em alto relevo é do período da Antiga Babilônia e retrata a Rainha da Noite, uma deusa nua e alada, ladeada por um par de corujas e ostentando garras de pássaros nos pés. Destaca-se particularmente pela sua dimensão e iconografia distinta, o que sugere utilização em ambiente cerimonial de culto.


O rei assírio Assurbanipal II (primeira metade do século IX a.C.) é retratado nesta esplêndida laje durante uma caça ao leão. O relevo é muito baixo e embelezado por uma minuciosa representação dos detalhes, que se destacam como ornamentos nas figuras nítidas dos animais. A composição é caracterizada pelo ritmo e dinamismo, que culmina no gesto decisivo do soberano, ao centro.


Assurbanipal II caçando o leão, 883-859 AC. C. Alabastro, 88,6x224 cm. De Nimrud, norte do Iraque.


A arte dos persas


A evidência mais importante da arte persa remonta à dinastia Aquemênida (559 a.C. - 330 a.C.), que reuniu o império desde o rio Indo até o Nilo. A tendência de recorrer a artistas e artesãos de diferentes culturas deu origem a uma arte variada e original. Refinados baixos-relevos adornavam os palácios e representavam, com cuidado decorativo, procissões de dignitários e guardas reais em homenagem ao rei.


A produção de cerâmica surgiu pela primeira vez no leste asiático entre 20.000 a.C. e 10.000 a.C. Entre os persas, a produção de objetos de cerâmica teve grande visibilidade. O trabalho de ourivesaria era considerado uma das produções mais importantes feitas naquela época. Dentre os objetos produzidos, estavam presentes as estatuetas de cobre, colares, braceletes, além de utensílios produzidos com ouro e prata. A arte da cerâmica aumentou a variedade e os estilos no quarto milênio a.C., devido a avanços tecnológicos como a roda de oleiro.


O Palácio do rei persa Dario I


Festejado desde a Antiguidade é o Palácio de Persépolis, capital do império persa desde 518 a.C., por testamento de Dario I. Aqui a coluna foi utilizada de forma sistemática pela primeira vez no Oriente. Com essa inovação os palácios assumiram formas suntuosas, com pórticos e salas hipostilas (ou seja, sustentadas por colunas).


Grandes salas alinhadas serviam de cenário para suntuosas cerimônias em homenagem ao soberano e às divindades. O Friso dos Arqueiros é um longo baixo-relevo em azulejos, colocado numa escadaria de acesso ao palácio. As figuras continuam umas às outras, determinando um ritmo quase obsessivo, que cria um efeito irreal.


Friso dos arqueiros, do Palácio de Dario em Persépolis, século V a.C.



Pintura Mesopotâmica


A pintura da Mesopotâmia fazia parte da arquitetura, embora poucas tenham sobrevivido devido aos materiais utilizados. A finalidade era expressamente decorativa , não só para gerar maior beleza ao conjunto arquitetônico em si, mas até a diversas peças cerâmicas.


São inúmeras as obras de arte produzidas com a utilização da pintura, dentre elas grandes murais, artigos de utilidade e de adorno, além de diversas outras que foram feitas para enfeitar os templos e palácios com a ajuda dos murais. As cores aplicadas eram preto, branco, vermelho e amarelo, além dos mosaicos para que pudessem principalmente evidenciar cenas do cotidiano, das guerras, rituais que eram feitos, cerimônias, deuses, além da história desse povo.


Os temas pictóricos mais desenvolvidos estiveram relacionados com o culto às divindades, bem como com temas de conquista. Da mesma forma, foram representadas pessoas, animais e monstros, e até figuras geométricas. As cores utilizadas eram escassas, visto que não existiam muitos materiais para obter cores.


Todas as suas imagens carecem de perspectiva. O tamanho delas era proporcional à hierarquia de quem estava representado. A realidade objetiva das coisas não lhe interessava.


Escavações arqueológicas de Persépolis.


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