Escolas filosóficas - Parte 2
- campusaraujo
- 26 de jun. de 2023
- 9 min de leitura
Atualizado: 16 de abr.
Na postagem Escolas filosóficas - Parte 1, tratamos das seguintes escolas: estoicismo, cinismo, ceticismo, hedonismo, epicurismo, idealismo, niilismo, existencialismo, absurdismo, humanismo, humanismo secular, utilitarismo, marxismo e racionalismo. Damos agora continuidade às demais escolas.
Positivismo
Corrente filosófica iniciada na França no início do século XIX e intimamente associada ao empirismo e ao racionalismo. Foi teorizada pela primeira vez por Auguste Comte (1798 – 1857) e desenvolvida em uma filosofia moderna favorecida por cientistas e tecnocratas. Defende a ideia de que o conhecimento científico seria a única forma de conhecimento verdadeiro.
A ordem, o rigor e o empenho pela organização são características fundamentais para a doutrina positivista. Daí deriva o lema ordem e progresso estampado na bandeira brasileira, desenhada durante o início da era republicana no Brasil.
Comte entendia que a história do pensamento humano caminhava em estágios. Em sua filosofia da história, ele elaborou a lei dos três estados, na qual afirmava que o pensamento e o espírito humano desenvolviam-se por meio de três fases distintas: a teológica, a metafísica e a positiva.
Membros famosos do movimento incluíram Bertrand Russell (1872 – 1970), Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951) e o Círculo de Viena.
Positivistas no Brasil
No Brasil, o positivismo de Auguste Comte influenciou fortemente militares, intelectuais e políticos no final do século XIX e início do XX. A filosofia positivista inspirou a Proclamação da República em 1889 e está presente no lema da bandeira nacional: “Ordem e Progresso”. O movimento teve destaque entre os militares republicanos, como Benjamin Constant, e em instituições como o Exército e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Os positivistas brasileiros defendiam uma sociedade racional, hierárquica e científica, com forte ênfase na moral e na educação. Seu legado marcou profundamente a organização do Estado republicano e o ideário da modernização. |
Objetivismo
Filosofia desenvolvida por Ayn Rand (1905 – 1982) que abrange posições sobre metafísica, epistemologia, ética, política e estética. O objetivismo sustenta que existe uma realidade independente da mente; que as pessoas individuais estão em contato com essa realidade por meio da percepção sensorial; que os seres humanos obtêm conhecimento objetivo da percepção por medição e formam conceitos válidos com base em tais percepções.
Afirma também que o sentido da vida é a busca da própria felicidade ou “auto interesse racional”, e que o único sistema social consistente com essa moralidade é o pleno respeito pelos direitos individuais, incorporados no puro e consensual capitalismo laissez-faire, expressão em francês que significa deixe fazer, ou libertarianismo.
Subjetivismo
Doutrina filosófica da Antiguidade que afirma que a verdade é a mentira individual. Cada sujeito teria a sua verdade pois o conhecimento depende de cada indivíduo, portanto a veracidade ou falsidade dos julgamentos depende do sujeito que conhece e julga. Se cada um tem a sua própria verdade e não verdades absolutas ou universais, talvez seja impossível haver entendimento.
Enquanto no objetivismo existe o foco na estrutura, no subjetivismo o foco está no sujeito. Apesar da aparente dicotomia entre os conceitos, os autores postulam o diálogo entre o indivíduo e o outro, pois a sua escolha é compartilhada com outros sujeitos discursivos.
Representantes: Protágoras (490 – 415 a.C.), Georgias de Leontinos (485 - 380) e Friedrich Nietzsche (1844 - 1900).
Ayn Rand – a própria felicidade como propósito moral
Ayn Rand (1905 – 1982) foi uma filósofa e escritora russo-americana conhecida por desenvolver o objetivismo, uma filosofia que defende o individualismo, a razão e o capitalismo laissez-faire. Para Rand, o ser humano deve viver segundo a própria razão e buscar a própria felicidade como propósito moral. Ela criticava o altruísmo e o coletivismo, que considerava inimigos da liberdade individual. Em romances como A Nascente e A Revolta de Atlas, apresentou heróis que desafiam normas sociais em nome da integridade e da criatividade. Embora controversa, sua obra influenciou debates políticos e culturais, especialmente entre defensores do liberalismo econômico e da autonomia pessoal. |
Realismo
Escola filosófica com origem na obra de Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.). Os realistas enfatizam que “a realidade, o conhecimento e o valor existem independentemente da mente humana” e defendem o uso dos sentidos e da investigação científica para descobrir a verdade. A aplicação do método científico também permite que os indivíduos classifiquem as coisas em diferentes grupos com base em suas diferenças essenciais.
Aristóteles é conhecido como o pai do realismo e do método científico. Sua abordagem pragmática para entender um objeto, pela compreensão de sua forma, é um exemplo de como ele investigou a matéria. Ele acreditava que tudo tinha um propósito ou função. Por exemplo, o propósito de um peixe é nadar. O propósito de um pássaro é voar. O propósito do ser humano é pensar. Se não estamos pensando, ou pensando sem inteligência, estamos indo contra nosso propósito.
John Locke (1632-1704) acreditava na tabula rasa, instrumento de escrita usado em Roma. Feita com cera, era usada com um estilete. Quando as pessoas queriam apagar o que havia escrito, era preciso raspar ou derreter a cera. Quando estava sem nada escrito, o objeto era chamado de tábula rasa. O ser humano, assim como a tábula em branco, nasce sem conhecimento algum e aos poucos as vivências (ou inscrições) o preenchem.
Protágoras – o homem é a medida de todas as coisas
Protágoras foi um filósofo grego pré-socrático, conhecido como um dos fundadores do relativismo. Sua famosa frase "O homem é a medida de todas as coisas" expressa a ideia de que o conhecimento e a verdade são relativos, dependendo da percepção individual de cada ser humano. Protágoras acreditava que não existem verdades universais, e que o que é verdadeiro para uma pessoa pode não ser para outra. Seu pensamento desafiou as visões tradicionais da época, influenciando o desenvolvimento do sofismo e do pensamento filosófico relativo à moralidade, à ética e à epistemologia. Ele também defendeu a importância da retórica e da habilidade argumentativa. |
Pragmatismo
Corrente filosófica iniciada por Charles Sanders Peirce (1839 – 1914). Ele introduziu o método pragmático no qual os alunos recebem um procedimento para construir e esclarecer significados. Esse movimento tenta relacionar o significado das coisas com as evidências. Para isso, limita-se à experiência sensorial e deixa de lado a metafísica.
Os pensadores pragmáticos entendem que não existem verdades absolutas e imutáveis. A verdade é o que funciona. O conhecimento é dado pela experiência e considera como verdadeiro o que é útil. O critério para julgar a verdade é baseado em efeitos práticos. De acordo com eles, o aprendiz está constantemente conversando e sendo alterado pelo ambiente com o qual está interagindo. Com base no que é aprendido em qualquer ponto e tempo, o aluno ou o mundo no qual ele está interagindo pode ser mudado.
John Dewey (1859-1952) ligou o pragmatismo à evolução ao explicar que “os seres humanos são criaturas que precisam se adaptar uns aos outros e ao seu ambiente”. Ele também acreditava que a aplicação do “método científico” poderia resolver uma série de problemas porque as ideias eram instrumentos para a resolução de problemas.
Para William James (1842 - 1910), considerado a figura principal do pragmatismo, as emoções não são produto dos sentimentos, mas sim provocadas pela tomada de consciência de reações orgânicas.
Determinismo
Teoria filosófica de que todo evento, incluindo cognição e comportamento humano, decisão e ação, é determinado por uma cadeia ininterrupta de ocorrências anteriores. Os deterministas geralmente acreditam em apenas um futuro possível, embora neguem que os humanos carecem de livre arbítrio. Ele pode assumir muitas formas, desde o determinismo teológico, que sugere que o futuro de alguém seja predeterminado por um deus ou deuses, até o determinismo ambiental, que sugere que todo o desenvolvimento humano e cultural seja determinado pelo ambiente, clima e geografia.
Relativismo
Movimento filosófico iniciado na Grécia antiga pelos sofistas. Os relativistas afirmam que as visões são relativas à perspectiva ou considerações. Essa ideia pode até ser aplicada à moralidade ou à própria verdade, com alguns argumentando que não existem fatos morais ou verdades absolutas.
Da mesma forma, o relativismo situacional é uma ideia ética em que uma regra deve ser seguida em todas as condições, exceto em algumas, quando seguiríamos outra regra. Por exemplo, não mate, a menos que você salve vidas ao fazê-lo. Essa ideia, de forma revisada, foi apoiada pelo filósofo americano Robert Nozick (1938 – 2002) em seu livro Anarchy, State, and Utopia.
William James – a experiência como base do conhecimento
William James (1842–1910) foi um filósofo e psicólogo americano, considerado um dos fundadores do pragmatismo e da psicologia moderna. Ele acreditava que as ideias devem ser avaliadas por seus efeitos práticos na vida cotidiana. Para James, a verdade não é absoluta, mas sim aquilo que funciona na experiência individual. Defensor do pluralismo e da liberdade de crença, explorou temas como a consciência, a vontade e a religião. Em obras como As Variedades da Experiência Religiosa, destacou o valor subjetivo das vivências espirituais. Seu pensamento influenciou a filosofia, a psicologia e a educação no mundo contemporâneo. |
Empirismo
Teoria filosófica que argumenta que todo o conhecimento humano deve ser adquirido de experiências sensoriais, sejam elas externas ou internas, fora delas só existe especulação. O termo empirismo tem origem na palavra grega empeiria, que quer dizer experiência. Ou seja, a partir de suas vivências, e não de instintos ou conhecimento nato, os indivíduos vão adquirindo saberes, consciência e aprendizado. Quanto mais profundas as experiências vivenciadas, maior será a formação da estrutura cognitiva daquele indivíduo.
O empirismo já era amplamente difundido por Aristóteles (384 – 322), mas a doutrina moderna, tal qual a conhecemos hoje, foi desenvolvida pelo britânico John Locke (1632-1704), criador do conceito de tábula rasa.
Representantes: John Locke (1632-1704) e David Hume (1711- 1776).
Idealismo
O idealismo enfatiza que “ideias ou conceitos são a essência de tudo o que vale a pena conhecer”, ou seja, a única realidade verdadeira é a das ideias. Com base nos escritos de Platão (428/427 – 348/347 a.C.), o idealismo incentiva o raciocínio consciente. Os idealistas também procuram e valorizam verdades e ideias universais ou absolutas. Eles acreditam que as ideias devem permanecer constantes ao longo dos séculos.
Para Platão, a verdade era a realidade central, mas ele não acreditava que as pessoas criavam o conhecimento, em vez disso, elas o “descobriam”. Com o mito da caverna, no livro A República, ele descreve dois mundos: o espiritual ou mental e o mundo da aparência. Ao considerar que havia um foco excessivo no mundo físico e sensorial, ele acreditava que a educação desenvolve no corpo e na alma do aluno toda a beleza e toda a perfeição de que ele é capaz. Segundo ele, para entender a verdade você deve primeiro entender o conhecimento.
Crítica filosófica
Doutrina que procura demonstrar que o conhecimento se baseia na experiência, mas que precisa da razão para se completar, daí a frase: “sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado e, sem o entendimento, nenhum seria pensado”.
A Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant (1724 -1804) é a principal obra de teoria do conhecimento. Nela, Kant separa os domínios da ciência e da ação. O conhecimento se constrói a partir do fenômeno que alia a intuição sensível ao conceito do intelecto. Assim, são as categorias lógicas que constituem objetos, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária. Para Kant, a razão é a faculdade que nos fornece os princípios do conhecimento a priori. Logo, a razão pura é a que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori.
Fenomenologia
A fenomenologia surgiu no século XX como uma corrente filosófica fundada por Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 - 1938), filósofo e matemático alemão. Seu método partia da suposição do nada. Ou seja, pretende descrever objetos ou fenômenos conscientemente, sem se basear em pressuposições ou preconceitos. O termo fenomenologia significa estudo dos fenômenos, daquilo que aparece à consciência, buscando explorá-lo.
Representantes: Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 - 1938); Jan Patočka (1907 - 1977) e Martin Heidegger (1889 - 1976).
Martin Heidegger – o ser e o tempo da existência
Martin Heidegger (1889–1976) foi um dos filósofos mais influentes do século XX, conhecido por sua profunda reflexão sobre o ser. Em sua obra principal, Ser e Tempo, Heidegger investigou a experiência humana do existir, que chamou de Dasein (o ser-aí). Para ele, a filosofia deveria retomar a pergunta fundamental: “O que é o ser?” Heidegger explorou temas como temporalidade, angústia, autenticidade e finitude, afirmando que o ser humano é definido por sua relação com o tempo e a morte. Sua linguagem densa e original influenciou a fenomenologia, o existencialismo, a hermenêutica e a crítica da técnica moderna. |
Estruturalismo
Originado na psicologia, esse mecanismo de análise influenciou outras áreas como a sociologia, a linguística, a filosofia e a antropologia. É uma corrente de pensamento que busca identificar as estruturas que sustentam todas as coisas. De acordo com a teoria, os fenômenos da vida podem ser identificados por meio de suas inter-relações. Ou seja, por meio da análise de partes, avalia-se um todo. Partindo desse pressuposto, o estruturalismo foi aplicado para entender o intelecto humano, suas ideias, sua linguagem e a estrutura geral da sociedade.
Os grandes difusores do estruturalismo foram os intelectuais franceses como Roland Barthes (1915 - 1980) e Jean Baudrillard (1929 – 2007) que expandiram a ideia no final do século XIX e na primeira metade do século XX ֎
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