Nancy Morejón, nascida em 7 de agosto de 1944, em Havana, filha de um estivador militante e uma costureira sindicalista, é uma renomada poetisa, crítica e ensaísta cubana, reconhecida como "a poetisa mais renomada e mais amplamente traduzida da Cuba pós-revolucionária". Ela foi a primeira poetisa negra a publicar amplamente e ser aceita como escritora, crítica e tradutora profissional de Cuba.
Filha de pais da classe trabalhadora, Morejón se formou com honras na Universidade de Havana, onde estudou literatura caribenha e francesa. Fluente em francês e inglês, ela também é uma respeitada tradutora de autores caribenhos como Edouard Glissant e Aimé Césaire. Seu trabalho poético foi traduzido para mais de dez idiomas e incluído na antologia Daughters of Africa.
Édouard Glissant (1928-2011), filósofo, poeta e romancista martinicano, explorou a identidade caribenha e a complexidade cultural da Diáspora Africana. Em obras como Poétique de la Relation, ele introduziu conceitos como "créolisation" e "tout-monde," defendendo um mundo interconectado e respeitador das diferenças culturais. Seu pensamento valoriza o diálogo intercultural e a resistência à homogeneização global.
Aimé Césaire (1913-2008) foi um poeta, dramaturgo e político martinicano, conhecido como um dos fundadores do Movimento da Negritude, que valorizou a identidade e cultura africanas. Sua obra combate o colonialismo e o racismo, e destaca a dignidade da Diáspora Africana. Entre suas obras mais influentes estão Cahier d'un Retour au Pays Natal (Caderno de um Retorno ao País Natal) e Discours Sur le Colonialisme (Discurso Sobre o Colonialismo).
Nancy Morejón recebeu o Prêmio da Crítica (1986) e o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba (2001). Ela colaborou com músicos, dramaturgos e atores proeminentes. Recentemente estendeu seus talentos artísticos para as artes visuais. Hoje ela dirige o Centro de Estudos do Caribe na Casa de las Américas em Havana, epicentro da intelectualidade cubana e latino-americana.
Mujer Negra
Ainda sinto o cheiro da espuma do mar que me fizeram
[atravessar.
A noite, não posso recordá-la.
Nem o oceano poderia recordá-lo
Mas não esqueço o primeiro alcatraz que divisei.
Altas, as nuvens, como inocentes testemunhas presenciais.
Talvez eu não tenha esquecido nem minha costa perdida, nem minha língua
[ancestral.
Me deixaram aqui e aqui tenho vivido.
E porque trabalhei como uma fera,
aqui voltei a nascer.
A quanta epopeia mandinga tentei rocorrer.
Me revoltei.
É uma das mais importantes poetisas contemporâneas de Cuba, com uma obra que examina profundamente a identidade afro-cubana, a história da Diáspora Africana e as questões de gênero e classe na sociedade cubana. Foi uma das primeiras mulheres afrodescendentes a receber reconhecimento amplo na literatura cubana e a alcançar proeminência no cenário literário latino-americano.
Formação Educacional e Cultural
Morejón estudou Letras na Universidade de Havana e especializou-se em Língua e Literatura Francesa. Ela também foi influenciada por escritores afrodescendentes das Américas e da África, como Aimé Césaire e Léopold Senghor, que contribuíram para o fortalecimento de sua identidade afro-caribenha e para a abordagem de temas como negritude, ancestralidade e resistência.
Léopold Senghor (1906-2001) foi um poeta, filósofo e estadista senegalês, e um dos fundadores do Movimento da Negritude, que exaltou a cultura africana. Primeiro presidente do Senegal (1960-1980), ele integrou valores africanos com princípios ocidentais, defendendo o diálogo cultural. Suas obras, como Chants D'ombre (Canções de Sombra), enfocam identidade, colonialismo e espiritualidade, destacando-se como um dos grandes intelectuais africanos.
Mirar Adentro - Antologia Panorâmica
Como seu mentor, o lendário poeta Nicolás Guillén, Morejón comemora a negritude, mas se recusa a inscrever identidade ou luta dentro dos parâmetros de qualquer fator único. “Eu sou, ao mesmo tempo, Nancy Morejón”, ela diz, “um indivíduo, uma unidade, que não pode ser subdividida em partes como se faz ao aprender matemática... Não sou mais negra do que mulher; não sou mais mulher do que cubana; não sou mais negra do que cubana. Sou uma breve combustão desses fatores.”
Essa “breve combustão” resultou em uma poesia de fogo rápido e chama constantemente ardente e, como escreve a poetisa Jayne Cortez, “lírica, compassiva, complexa e deslumbrante em suas sutilezas.”
Nicolás Guillén (1902-1989) foi um poeta cubano e ativista político conhecido como a voz literária da identidade afrocubana. Sua poesia, marcada pelo ritmo da música popular e temas de resistência, celebrou a cultura negra e denunciou o racismo e a opressão. Obras como Sóngoro Cosongo combinaram elementos africanos e cubanos, consolidando-o como ícone do movimento literário caribenho.
Su Merced me comprou em uma praça.
Bordei a jaqueta de Su Merced e pari um filho macho.
Meu filho não teve nome.
E Su Merced morreu nas mãos de um impecável lorde
[inglês
Andei.
Esta é a terra onde sofri castigos e chicotadas.
Remei por todos os seus rios.
Sob seu sol, semeei, colhi e das colheitas não comi.
Por casa tive um barracão.
Eu mesma trouxe pedras para edificar-lo,
mas cantei ao compasso natural das pássaros nacionais.
Me revoltei.
Jayne Cortez (1934-2012) foi uma poetisa, ativista e artista performática americana conhecida por sua poesia incisiva e cheia de ritmo, que abordava temas de justiça social, opressão racial e empoderamento feminino. Suas performances eram marcadas pela fusão de jazz com versos contundentes. Obras como Scarifications consolidaram seu legado na literatura afro-americana e na poesia experimental dos Estados Unidos.
A leitura de Morejón enaltece a recente publicação de Looking Within / Mirar adentro, uma antologia panorâmica que representa quarenta e seis anos e dez volumes de sua obra, selecionada e apresentada pela renomada acadêmica uruguaia Juanamaría Cordones-Cook. Professora associada na University of Missouri, Columbia, Cordones-Cook acompanha Morejón nesta turnê de livros com leituras das traduções e contextuação cultural e histórica da obra.
Juanamaría Cordones-Cook é uma acadêmica, cineasta e professora uruguaia-americana, especializada em literatura afrolatina e afro-cubana. Professora na Universidade de Missouri, seu trabalho tem como tema a Diáspora Africana e inclui documentários que exaltam figuras culturais afrodescendentes. Reconhecida internacionalmente, Cordones-Cook contribui para a preservação e promoção das vozes afro-latino-americanas, especialmente no campo da literatura e das artes visuais.
A Revolução Cubana
A Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro e outros revolucionários, foi um movimento político e social que culminou em 1959 com a deposição do ditador Fulgencio Batista, transformando radicalmente a sociedade cubana. A revolução teve como objetivo combater as desigualdades econômicas, políticas e sociais que marcavam a ilha, influenciada por anos de exploração e pela presença econômica dos Estados Unidos.
Fidel Castro (1926-2016) foi um líder revolucionário cubano e figura central na Guerra Fria. Conhecido por suas ideologias socialistas, ele liderou a Revolução Cubana de 1959. Castro foi primeiro-ministro e depois presidente de Cuba. Promoveu políticas de saúde e educação, mas também enfrentou críticas por violações dos direitos humanos e repressão política.
Che Guevara (1928-1967), revolucionário argentino e médico, foi um dos principais líderes da Revolução Cubana ao lado de Fidel Castro. Ícone do marxismo, defendeu a luta armada contra o imperialismo e a opressão na América Latina. Autor de Diário de Motocicleta e Manual de Guerrilha, Che é símbolo de resistência e inspiração para movimentos revolucionários globais.
Nesta mesma terra toquei o sangue úmido
os ossos apodrecidos de muitos outros,
trazidos para cá, ou não, assim como eu.
Já nunca mais imaginei o caminho à Guiné.
Era a Guiné? A Benim? Era a Madagascar? Ou ao Cabo?"
[Verde?
Trabalhei muito mais.
Fundei melhor meu canto milenar e minha esperança.
Aqui construí meu mundo.
Fui para o monte.
Raúl Castro, nascido em 1931, é um político cubano e irmão mais novo de Fidel Castro. Participou da Revolução Cubana de 1959 e exerceu papéis fundamentais no governo, incluindo Ministro das Forças Armadas. Tornou-se presidente de Cuba em 2008, promovendo reformas econômicas moderadas e um diálogo diplomático com os Estados Unidos, antes de se aposentar em 2018.
Fulgencio Batista (1901-1973), político e militar cubano, liderou Cuba em duas ocasiões, primeiro como presidente (1940-1944) e depois como ditador (1952-1959). Seu regime autoritário foi marcado por corrupção, repressão e forte aliança com interesses dos EUA. Sua queda ocorreu com a Revolução Cubana de 1959, liderada por Fidel Castro, que depôs Batista e transformou o país.
Após assumir o poder, Fidel Castro implementou uma série de reformas profundas, como a reforma agrária, que redistribuiu terras de latifúndios, e a nacionalização de empresas estrangeiras, especialmente norte-americanas, levando Cuba a romper relações diplomáticas com os EUA em 1961. Esse afastamento levou Cuba a buscar apoio na União Soviética, para fortalecer o país dentro do contexto da Guerra Fria e introduzir um modelo socialista que guiou as políticas internas e externas.
A revolução trouxe avanços em áreas como saúde e educação. Cuba tornou-se referência em medicina e praticamente eliminou o analfabetismo. No entanto, as reformas e o sistema de partido único trouxeram também limitações de liberdades políticas e de expressão, tendo como resultado a emigração de dissidentes.
Minha real independência foi o palenque
e cavalguei entre as tropas de Maceo.
Só um século mais tarde,
junto aos meus descendentes,
desde uma montanha azul,
desci a Serra
para acabar com o capitais e usurários,
com generais e burgueses,
Agora sou: Só hoje temos e criamos.
Nada nos é estranho.
Nossa a terra.
Nosso o mar e o céu
Nossa magia e a quimera.
Meus iguais, aqui eu os vejo dançar
ao redor da árvore que plantamos para o comunismo.
Sua pródiga madeira já ressoa.
A Revolução Cubana influenciou movimentos de esquerda em toda a América Latina, e sua resistência aos embargos e pressões externas a tornou um símbolo de resistência anti-imperialista. Embora as condições econômicas de Cuba tenham enfrentado desafios significativos após o colapso soviético, a revolução permanece um marco na história latino-americana e no debate sobre justiça social, soberania e independência nacional.
Apoio de Nancy Morejón à Revolução
Morejón viu na Revolução Cubana de 1959 uma chance de promover mudanças sociais, o combate ao racismo e a defesa da igualdade de gênero e classe. Para ela, a revolução simbolizou uma luta anticolonialista e anti-imperialista para eliminar desigualdades históricas. Nancy Morejón apoiou a Revolução e Fidel Castro e manteve essa postura em sua obra, que narra a transformação da vida dos cubanos e das mulheres negras. Seu poema Mujer Negra comemora essa mudança e destaca a ascensão da mulher escravizada como agente de transformação social.
Papel Oficial e Envolvimento Político
Além de sua produção literária, Nancy Morejón ocupou cargos importantes em Cuba, como presidente da Casa de las Américas e membro da União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC). Essas posições reforçam sua ligação com o governo cubano, uma vez que a Casa de las Américas apoia a cultura latino-americana e caribenha, alinhada aos ideais revolucionários. Morejón participou de eventos culturais e políticos e manifestou apoio a Fidel Castro e suas políticas. Ela representa Cuba em eventos literários internacionais e promove uma visão positiva da revolução e suas conquistas.
Controvérsias e Críticas
Apesar de seu apoio ao governo cubano, essa postura não é isenta de críticas, especialmente por parte de dissidentes cubanos e de críticos do regime, que questionam o grau de liberdade de expressão e de crítica no país. Para alguns críticos, o apoio de Morejón ao governo é visto como uma aceitação das restrições impostas pelo governo cubano à liberdade artística e intelectual.
Em 2023, sua designação como presidente de honra do prestigioso Festival de Poesia de Paris foi retirada após pressão de setores críticos do regime cubano alegarem que sua proximidade com o governo tornava a escolha controversa.
Essa ligação com o governo de Cuba, ao mesmo tempo que permite que ela ocupe uma posição de destaque no cenário cultural da ilha, também a coloca sob o escrutínio de quem enxerga a relação entre arte e poder como delicada.
Embargo Econômico dos Estados Unidos Contra Cuba
O embargo econômico dos Estados Unidos contra Cuba, iniciado em 1958 com a proibição da venda de armas, é o mais duradouro da história moderna. Em 1962, o presidente Kennedy expandiu o embargo para incluir quase todo o comércio cubano, exceto alimentos e medicamentos não subsidiados. Desde então, foram promulgadas leis como a Lei de Assistência Externa (1961), a Lei de Democracia Cubana (1992) e a Lei Helms-Burton (1996), que endureceram as sanções.
Crise dos Mísseis de Cuba
Após a crise dos mísseis de Cuba (outubro de 1962), Kennedy impôs restrições de viagem em 8 de fevereiro de 1963, e o Regulamento de Controle de Ativos Cubanos foi emitido em 8 de julho de 1963, novamente sob a Lei de Negociação com o Inimigo em resposta aos cubanos que hospedavam armas nucleares soviéticas. Sob essas restrições, os ativos cubanos nos Estados Unidos foram congelados e as restrições existentes foram consolidadas.
Assembleia Geral da ONU Condena o Embargo dos EUA a Cuba
Desde 1992, a Assembleia Geral da ONU aprova anualmente uma resolução condenando o embargo dos EUA a Cuba como uma violação do direito internacional, com apenas Israel se opondo. Em 2021, a resolução foi aprovada por 184 votos a favor. O Brasil, tradicionalmente favorável, votou contra em 2019 sob o governo de Jair Bolsonaro, marcando uma mudança em sua diplomacia e alinhamento com os EUA. O embargo causou danos de mais de US$ 922 bilhões à economia cubana e complicou as relações comerciais entre Brasil e Cuba, que antes incluíam o financiamento da renovação do Porto de Mariel e aumentos nas exportações brasileiras.
Restrições ao Turismo
Os Regulamentos de Controle de Ativos Cubanos exigem licença para cidadãos dos EUA realizarem transações de viagens a Cuba, excluindo turismo. Desde 2000, legisladores têm buscado aliviar essas restrições, mas propostas de suspensão da proibição foram vetadas por George W. Bush.
Muitos cidadãos contornam a proibição viajando por outros países, embora isso os exponha a multas. O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros considera visitas de mais de um dia como violação do embargo, que é severamente fiscalizado. Em 2016, foi revelado que a empresa de Donald Trump violou o embargo em 1998, gastando US$ 68 mil em Cuba sem autorização.
A Poesia de Nancy Morejón
Nancy Morejón iniciou sua poesia de modo apolítico nos anos 1960, mas com o tempo incorporou temas sociais e políticos, influenciada pela ideologia revolucionária cubana. Ao contrário de muitos autores caribenhos, sua obra não critica a realidade local com a visão oficial da Revolução como solução para problemas sociais. Sua poesia aborda raça e gênero em harmonia com o ideal socialista de unidade nacional, embora evidencie consciência racial ao homenagear familiares negros e incluir figuras afro-cubanas e divindades africanas.
O feminismo na sua obra aparece de forma sutil ao exaltar mulheres negras como agentes da história, exemplificado nos poemas Mujer Negra e Amo a mi Amo. Sua obra abrange temas variados, desde a vida familiar e momentos históricos cubanos até eventos caribenhos contemporâneos, como a invasão de Granada. Ela celebra tanto a Revolução quanto a cultura popular cubana e encontra inspiração na música e na história cubana.
Morejón busca subverter narrativas coloniais. Embora comprometida com a Revolução, evita propaganda explícita em sua poesia. Sua voz poética comunitária não oculta sua expressão pessoal, mescla ideologia com lirismo e inclui poemas sentimentais sobre sua vida e seus laços sociais.
A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos registra um verbete em seu nome, composto por uma gravação de áudio de Morejón lendo parte de sua obra em espanhol, datada de 2 de julho de 1979, em Havana, Cuba. O arquivo está depositado em fita no Arquivo de Literatura Hispânica.
Temas e Estilo da obra de Nancy Morejón
A obra de Morejón apresenta questões contemporâneas de etnia, feminismo, gênero, história, política e identidade afro-cubana. Ela aborda as experiências das mulheres negras em Cuba e o impacto da escravidão e da colonização nas sociedades modernas. Sua poesia exalta as lutas, as dores e as alegrias do povo cubano e destaca o papel da mulher negra que é muitas vezes marginalizada.
Seus poemas têm uma musicalidade e uma linguagem acessível, mas rica em simbolismo e profundidade emocional. Ela utiliza imagens poéticas e metáforas que evocam a história e a mitologia afro-cubana, e resgata elementos das religiões afrodescendentes e da cultura popular.
Seus poemas são reflexões vibrantes sobre a mistura das culturas espanhola e africana em Cuba, o que significa ser filho de ambas as tradições e como os fios brilhantes dessa herança são parte da rede maior da experiência africana nas Américas.
Nancy Morejón adota uma postura integracionista ao unir as culturas espanhola e africana para formar uma nova identidade cubana, o que a posiciona como apoiadora do nacionalismo e da Revolução Cubana. Sua obra destaca a experiência das mulheres, especialmente as mulheres negras, como em seu famoso poema Mujer Negra. Morejón também expõe a dor da escravidão como uma experiência ancestral. Aborda temas políticos e íntimos, utilizando humor cubano e poesia lírica, espiritual e erótica.
Obras Mais Destacadas
Mujer Negra (1975) – um de seus poemas mais emblemáticos, no qual ela narra a história da mulher afro-cubana desde a África, passando pela escravidão em Cuba, até a participação na Revolução Cubana. O poema revela as questões de raça, gênero e identidade e enfatiza a transformação e a resistência.
Piedra Pulida (1986) – coletânea de poemas que retrata o exílio, a memória e as raízes culturais cubanas.
Para la Humanidad (2003) – livro que inclui versos sobre solidariedade e união entre povos que retratam sua visão humanista e revolucionária.
A Universidade de Salamanca reuniu a maior parte de seus versos na antologia intitulada El huerto Magnifico de Todos (O magnífico jardim de todos), editada por Alfredo Pérez Alencart. A coleção mais completa de sua poesia, lançada em 2003, é Mirar Adentro - Poemas selecionados - edição bilíngue 1954-2000, editada e com introdução de Juanamaría Cordones-Cook. Suas coleções de poesia mais recentes são Peñalver 51 (2009), publicada pela Fundação Mockingbird de Zamora, Espanha, e a antologia Exposed Havana (2012), Edição Vigia de Matanzas, compilada por Juanamaría Cordones-Cook. Tradutores premiados traduziram sua poesia para mais de dez idiomas.
Aproximação à Realidade Poética de Nancy Morejón
Resumo do artigo escrito por Carmen Alemany Bay (Universidade de Alicante) publicado na Biblioteca Nacional Miguel de Cervantes
Nancy Morejón, poetisa cubana nascida em 1944, destacou-se ao longo da Revolução Cubana com obras que exploram temas de feminilidade e negritude. A partir de seu primeiro livro, Mutismos, Morejón trouxe à tona uma voz única, entrelaçando a experiência histórica e pessoal com a oralidade e imagens oníricas. Influenciada por poetas como Rubén Darío e César Vallejo, seu maior mentor foi Nicolás Guillén, que incentivou sua abordagem à cultura afro-cubana e à linguagem coloquial. Em Mujer negra, Morejón examina a história da escravidão e da identidade afro-cubana, colocando a perspectiva feminina em destaque.
Ao longo de sua obra, como em Richard trajo su Flauta e Amor, Ciudad Atribuída, Havana emerge como um cenário central e inspirador. Durante os “Cinco Anos Cinzentos”, Morejón enfrentou censura, mas retomou sua trajetória literária com Parajes de una época. Em trabalhos posteriores, como Cuaderno de Granada e Piedra Pulida, ela explorou o cotidiano cubano e temas introspectivos.
Morejón é considerada uma voz essencial da poesia cubana, unindo feminilidade, herança afro-cubana e um olhar crítico sobre a sociedade, preservando e celebrando a cultura em um espaço de resistência e memória.
Carmen Alemany Bay é uma proeminente artista plástica e educadora espanhola, reconhecida por seu trabalho em pintura e escultura. Sua obra traz como temas identidade e memória, com a utilização de uma variedade de materiais e técnicas. Além de sua prática artística, Alemany Bay também se dedica ao ensino e à promoção da arte contemporânea, uma contribuição para o desenvolvimento cultural em sua comunidade.
Resumo de Mujer Negra
Mujer Negra, de Nancy Morejón, escrito em 1975, aborda a experiência histórica da mulher negra cubana por meio de uma narradora anônima. O poema destaca a força e a resistência dessa mulher diante das adversidades e como suas vivências são moldadas por raça e etnia. A narrativa inicia com uma mulher africana que é trazida para Cuba como escrava e dá à luz um filho de seu senhor.
Após passar por diversas lutas, ela escapa e se junta a um movimento de libertação, como forma de conntribuição para o surgimento do comunismo em Cuba. A obra a enfatiza a importância da resistência e da redescoberta da própria identidade.
A história reflete o contexto da colonização em 1511, quando escravos africanos foram trazidos para plantações de açúcar. Mesmo com a proibição da importação de escravos em 1867, a escravidão só foi abolida em 1886. Posteriormente, a corrupção e a desigualdade incentivaram o apoio a ideais socialistas liderados por Fidel Castro, que culminaram na Revolução Cubana.
Em verso livre, o poema utiliza o simbolismo, como o canto dos pássaros para representar liberdade, e repetições que reforçam a ideia de pertencimento. A narradora exalta sua herança africana, resistência e força, em busca de autoconhecimento e liberdade.
Em Defesa da Poesia Cubana
Nancy Morejón descreve-se como “uma criatura da Revolução Cubana” e vê a poesia como uma ferramenta de paz, justiça e transformação social. Durante anos ela participou ativamente da vida artística de Cuba, dirigindo o Centro de Estudos Caribenhos da Casa de las Américas.
Sua obra recebeu o Prêmio da Crítica em Cuba por livros como Nación y mestizaje en Nicolás Guillén, Piedra Pulida, Alabanza y Paisaje e La Quinta de los Molinos. Em 2001, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura em Cuba, e em 2006, o Prêmio Coroa de Ouro Internacional na Macedônia.
Morejón foi nomeada presidente honorária do Mercado de Poesia de Paris, mas teve a nomeação revogada, o que gerou uma campanha internacional de apoio. A Federação das Mulheres Cubanas (FMC) e a União Internacional de Editoriais de Esquerda protestaram, classificando a revogação como “violência política” e um ataque à liberdade de expressão.
Para Morejón, é mais um capítulo na “guerra cultural contra Cuba”. Nas redes, a hashtag #CubaEsCultura ganhou força em apoio a ela. Em reconhecimento a sua luta e trabalho, foram divulgados três de seus poemas: Réquiem para a mão esquerda, Cimarrones e Renacimiento.
A língua Espanhola na Poesia de Nancy Morejón
O espanhol, para Nancy Morejón, é essencial na sua poesia e na literatura cubana, pois conecta-a à luta contra a escravidão e à herança hispano-americana. Sua poesia é inspirada em poetas como Nicolás Guillén, embora sigam caminhos distintos.
Além da literatura, as artes visuais desempenham um papel central em sua vida; ela começou a desenhar em momentos difíceis e colabora com artistas para unir poesia e ilustração. Morejón valoriza a obra de Manuel Mendive, que cria uma ponte entre África, América e Europa, uma conexão que ela reflete em seu próprio trabalho. Para ela, essa interconexão é vital para a identidade cubana e sua expressão artística.
Manuel Mendive é um renomado artista cubano, nascido em 1944 e conhecido por suas obras que combinam elementos da cultura afro-cubana com influências contemporâneas. Seu trabalho abrange pintura, escultura e instalações, destacando-se pela vivacidade das cores e formas. Mendive é um defensor da herança africana em Cuba e utiliza sua arte para representar temas de espiritualidade, identidade e resistência cultural.
Reconhecimento e Influência
Nancy Morejón é uma voz de destaque na literatura afrodescendente e latino-americana, reconhecida por seu impacto no movimento literário feminino. Tradutora e ensaísta, ela se dedicou ao estudo de poetas afrodescendentes e influenciou novas gerações. Com uma carreira alinhada aos ideais da Revolução Cubana, Morejón apoiou Fidel Castro e defendeu temas de justiça social e antirracismo para valorizar a cultura afro-cubana. Sua postura a coloca como figura representativa, embora polêmica, no contexto político-cultural cubano.
Premiações
Desde 2013 Morejón é diretora da Revista Union e foi eleita presidente da Associação de Escritores da União Nacional de Escritores e Artistas Cubanos (UNEAC) cargo que ocupou durante muitos anos. Seu trabalho inclui críticas e dramas, destacando sua análise do poeta Nicolás Guillén. Em 1982, recebeu o "Premio de la Crítica" por Piedra Pulida e, em 2001, tornou-se a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba. Em 2006, conquistou a Coroa de Ouro das Noites de Poesia de Struga.
Atualmente dirige o Centro de Estudos do Caribe na Casa de las Américas, em Havana, epicentro da intelectualidade cubana e latino-americana. Ela atua como Diretora da Academia Cubana de Línguas.
Ela é jurista do Prêmio Caribenho Carbet (desde 1990) e é membro titular da Academia Cubana de Línguas (desde 1999). Os prêmios mais recentes que Morejón ganhou são a Coroa de Ouro da Macedônia (2006), o Prêmio Rafael Alberti (2007), o Escritor Universal Gallega (2008) e o prestigioso Prêmio da Associação de Estudos Latino-Americanos (2012). Em 2009, a Universidade de Cergy-Pontoise de Paris, concedeu a Morejón um doutorado honorário.
Morejón tem viajado extensivamente, lecionando em universidades, como Wellesley College e University of Missouri, onde um simpósio sobre sua obra resultou em uma edição especial da Afro-Hispanic Review. Em 1999, a Howard University Press publicou uma coleção de ensaios críticos sobre seu trabalho. Em 2005, uma coleção de seus poemas, editada por Mario Benedetti, foi lançada em Madri.
Mario Benedetti (1920-2009) foi um destacado poeta, romancista e ensaísta uruguaio, amplamente reconhecido por sua sensibilidade e engajamento social. Sua obra abrange temas como amor, solidão e política e espelha as experiências do exílio e da vida cotidiana. Entre seus livros mais famosos estão La Tregua e Gracias por el fuego. Benedetti é uma das vozes mais influentes da literatura latino-americana֍
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