O Brasil antes do apito inicial
- Paulo Pereira de Araujo

- 1 de nov.
- 2 min de leitura

Antes de a bola rolar em 1964, o campo já tava inclinado. O Brasil do começo dos anos 1960 era um time nervoso, dividido e sem técnico. A arquibancada gritava, mas ninguém sabia direito pra quem. O otimismo de Juscelino Kubitschek, com suas rodovias e automóveis, terminara em engarrafamento: inflação alta, dívida crescendo e promessas demais pra pouco fôlego.
Aí veio Jânio Quadros, o presidente da vassourinha, prometendo varrer a corrupção. Acabou varrendo a si mesmo. Renunciou depois de sete meses e deixou o país em campo aberto. Seu vice, João Goulart, era visto pelos generais e pelos donos do dinheiro como um camisa vermelha infiltrado no time. O medo do comunismo, alimentado pela Guerra Fria, virou tática de jogo: bastava gritar “Moscou!” pra muita gente pedir intervenção.
Jango tentou organizar o time. Falou em reforma agrária, redistribuição de renda, participação dos trabalhadores. Mas o juiz, o Congresso, marcava falta em tudo. E a imprensa, que devia narrar a partida, escolheu torcer. Enquanto sindicatos e estudantes tomavam as ruas, empresários e setores da Igreja batiam palma para as marchas “com Deus pela Liberdade”, pedindo que os militares entrassem em campo.
Foi assim que, no dia 31 de março de 1964, o jogo acabou antes do primeiro tempo. Tanques nas ruas, aplausos nas janelas, silêncio nas arquibancadas. A democracia foi expulsa de campo e o Brasil entrou em prorrogação que duraria vinte e um anos.
Olhar pra esse momento é como rever uma partida antiga em preto e branco: as camisas estão desbotadas, mas os erros continuam nítidos. A cada crise, parece que o país volta a ensaiar o mesmo golpe, só muda o uniforme. Talvez por isso este site exista, pra lembrar que, quando o apito é controlado por quem tem medo do povo, a partida deixa de ser jogo e vira farsa.
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