Um escriba que não saiba sumério não é um escriba.
A história começa com a invenção da escrita e com a possibilidade de registrar os acontecimentos das civilizações, mas será que foi mesmo a escrita que deu origem à história? Durante a Pré-História, a pintura rupestre nas paredes das cavernas foi a forma que os nossos ancestrais encontraram para se comunicar. Eram desenhos simbólicos, feitos com o objetivo de representar coisas, quer sejam animais, objetos ou pessoas.
A invenção do Estado
Quando o homem vivia em pequenas aldeias, ele conseguia guardar na memória o nome das pessoas que faziam parte do seu grupo. Sabia a quem pertencia cada rebanho, a quantidade de grãos colhida, entre outras informações. Com o surgimento dos grandes impérios, o conjunto de cidades sob o comando do governante da cidade mais poderosa, foi necessário criar um sistema de controle que preservasse o maior tempo possível as informações que interessavam ao rei e ao seu governo.
Tudo precisava ser guardado, os nomes dos súditos e os impostos pagos por eles e os valores envolvidos nas transações comerciais. A escrita foi criada para atender a essa necessidade, mas desse ponto de vista, me parece que foi a criação do Estado que deu origem à história e não a escrita. Foi o estado que inventou as leis e todas as estruturas para manter os povos sob controle. A escrita possibilitou isso. Logo apareceram os livros sagrados, os códigos de leis, os livros das várias áreas do conhecimento e as obras literárias.
Os primeiros sistemas de escrita
Saber exatamente quem descobriu a escrita é quase impossível. Os estudiosos geralmente concordam que a forma mais antiga de escrita apareceu há quase 5.500 anos na Mesopotâmia (atual Iraque). Os primeiros sinais pictóricos (protoescrita) foram gradualmente substituídos por um sistema complexo de caracteres representando os sons do sumério (a língua da Suméria no sul da Mesopotâmia) e de outras línguas. Aconteceram quase simultaneamente no Egito e na China.
Os sistemas mais conhecidos são o cuneiforme, usado na Mesopotâmia, e os hieróglifos, usados no Egito. Esses sistemas eram muito complexos e só podiam ser usados por uma elite de escribas especializados. Porém, com o passar do tempo, eles foram simplificados e evoluíram até chegar aos alfabetos atuais. Embora pareça que a escrita tenha se difundido a partir de um ponto central, há poucas evidências de quaisquer ligações entre esses sistemas, cada um possuindo qualidades únicas.
A escrita cuneiforme da Mesopotâmia
A partir de 2.900 a.C., os sumérios adotaram a técnica da impressão dos símbolos com o cálamo, instrumento feito de um pedaço de cana ou junco, talhado obliquamente ou afinado como uma cana que terminava em bisel (ponta chanfrada). Quando a ponta era aplicada na argila, obtinha-se uma figura cônica da qual procede o nome da escrita cuneiforme, do latim cuneus (cunha), uma forma de escrita pictográfica (representação por desenhos). Esses símbolos tentavam refletir fisicamente a realidade e acabaram por representar tanto uma ideia como um som.
Tábuas impressas foram encontradas nas cidades sumérias às margens dos rios Tigre e Eufrates. As mais antigas pertencem à cidade de Uruk, considerada a primeira cidade da história e pioneira na escrita e na administração pública, desde as suas origens por volta de 6.500 a.C..
Em Uruk foram desenvolvidas a agricultura, a irrigação, a invenção da roda e a utilização de animais domésticos. No quinto milênio a.C. eles criaram os selos cilíndricos, que eram enrolados sobre tábuas de argila mole onde marcavam o desenho que seria impresso. Em seguida, eles eram assados e embalados junto com a mercadoria, indicando quem era o proprietário.
Bulla com impressões dos Token. Uruk, 3200-3100 a.C.
O processo de escrita cuneiforme estabilizou-se nos 600 anos seguintes. As curvas foram eliminadas, os sinais simplificados e a ligação direta entre o aspecto dos pictogramas e o seu objeto original de referência foi perdida. Eram textos mais complexos que incluíam profissões, divindades, instituições e atividades. Os traços eram curvilíneos e se assemelhavam mais a desenhos do que a caracteres escritos. Mesmo sendo difíceis de datar, considera-se que pertençam a um período entre 3.400 e 3.200 a.C.
A língua suméria consistia em cerca de seiscentas palavras, cada uma com um sinal. Metade era utilizada como ideogramas ou logogramas, ou seja, representando uma ideia. A outra metade era utilizada tanto como ideogramas quanto como sílabas devido ao seu som para compor outras palavras.
Muito do que sabemos hoje sobre esse período, devemos às placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos. Durante três mil anos a escrita cuneiforme foi utilizada por cerca de quinze línguas diferentes, incluindo o sumério, o sírio e o persa. Enquanto ela se expandia pelo Oriente Médio, outras formas de escrita eram desenvolvidas no Egito e na China.
Tábua de 4.000 anos com o registro dos salários de trabalhadores
Acadianos e hititas
A língua acadiana foi a primeira língua semítica conhecida, herdada pelos assírio-babilônios, pelos hebreus, pelos fenícios, pelos arameus, pelos árabes e pelos etíopes. Primeiro os acadianos e depois os hititas, que vivem mais ao norte, aproveitaram o sistema silábico sumério e o adicionaram à sua própria escrita cuneiforme. Essas duas línguas são pioneiras, cada uma à sua maneira. O hitita forneceu os escritos mais antigos encontrados de uma língua indo-europeia, por volta de 1.600 a.C., do qual descendem o grego e o sânscrito.
A escrita cuneiforme foi usada até ao ano de 75 d.C. Durante mais de três mil anos, os símbolos cuneiformes sofreram alterações que reduziram o seu número, a sua forma (perderam a semelhança com a realidade que referiam) e uso (como expressão de uma ideia).
Representação dos números
Os primeiros números reconhecidos como tal pertencem a tabuletas de argila descobertas nos sítios de Susa e Uruk, datando de cinco mil anos. É muito provável que o homem tenha começado a contar muito antes, empilhando pedras ou fazendo marcas na parede, há pelo menos 30 mil anos, mas as primeiras notas tiveram de esperar pela invenção da escrita.
No início, os números eram usados apenas para contagem e os sinais eram somados até dez, quando era feito um sinal diferente. É possível que a invenção do zero tenha sido feita pelos chineses, mas a sua utilização é registrada pela primeira vez na Índia, onde os árabes o aprenderam. Esse sistema numérico, conhecido como arábico, se espalhou por todo o Islã e foi introduzido na Europa pelo italiano Leonardo Fibonacci, primeiro grande matemático europeu da Idade Média, que havia estudado na Argélia no início do século XIII.
Os três tipos de escrita no Egito Antigo
Em 1997, uma expedição alemã encontrou 300 potes e tabuletas de argila na necrópole de Umm el-Qaab, Abydos, que foram datados pelo carbono -14 entre 3.300 e 3.200 a.C.. Pequenas tábuas de marfim eram usadas como rótulos para bens funerários no túmulo do rei Hórus Escorpião I (ainda não havia faraós), e os sinais que apresentava são provavelmente os mais antigos de qualquer coisa já escrita.
As descobertas de cenas cerimoniais incisas em grande escala no sítio de arte rupestre de El-Khawy, no Egito, datam de cerca de 3.250 a.C. e mostram características semelhantes às primeiras formas hieroglíficas. Algumas dessas placas esculpidas na rocha têm quase meio metro de altura.
Caracteres esculpidos e escritos têm datas próximas. Isso sugere que a escrita no Egito tinha duas funções, a cerimonial (esculpida) e a administrativa (escrita). O papiro, uma espécie de papel produzido a partir de uma planta de mesmo nome, também era utilizado como suporte da escrita.
Os egípcios desenvolveram três tipos de escritas, a hieroglífica, baseada na utilização da impressão, a hierática, uma forma simplificada da hieroglífica e usada para fins comerciais, e a demótica, uma forma mais simples e mais popular da escrita hierática, usada nos últimos períodos.
Escrita Hieroglífica
Os hieróglifos são elaborados com base na escrita cuneiforme. Alguns sinais assumiram uma representação fonográfica, às vezes de uma letra, outras vezes de palavras inteiras. Trata-se de uma escrita complexa utilizada em representações religiosas. As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos hieroglíficos que falavam sobre a vida dos faraós, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores.
A Pedra de Rosetta
A escrita egípcia foi decifrada graças ao estudo da Pedra de Rosetta, encontrada em 1.799 pelos soldados de Napoleão Bonaparte. Era uma pedra de basalto que apresentava três inscrições em grego, demótico e hieroglífica. Pela disposição dos textos, os eruditos da época se deram conta de que as três reproduziam o mesmo texto. Daí, estabeleceram o valor dos signos egípcios que correspondiam às letras gregas.
Depois de traduzida a inscrição grega, os cientistas partiram da ideia de que os hieróglifos representavam imagens e, portanto, palavras. O francês François Champollion intuiu que as imagens hieroglíficas eram “letras”, ou melhor, signos representativos de sons.
A inscrição da Pedra de Rosetta continha a notícia de certas manifestações dos sacerdotes ao rei Ptolomeu Epífanes. Suspeitaram então que a palavra rodeada por uma margem ou quadro (cartucho) poderia ser o nome do rei. Champollion comparou essa palavra a outro quadro que se sabia ser o nome de Cleópatra e comprovou a coincidência dos signos 2, 4, e 5 com os símbolos 4, 3 e 1 do nome de Ptolomeu. Assim, abriram-se as portas do Egito milenar.
Mesopotâmia ou Egito?
Durante anos acreditou-se que a escrita fora inventada na Mesopotâmia e de lá passou para o Egito. Dados atuais indicam que pode não ter sido assim, cada cultura a inventou separadamente. É provável que no Egito tenho acontecido alguns séculos antes.
Segundo Diego Corral, professor associado na Área de Estudos hebreus e Arameos do Departamento de Língua Espanhola, na década de 1960, proliferaram hipóteses difusionistas, argumentando que a escrita tinha sido inventada somente na Mesopotâmia e que teria se expandido a partir daí. Embora a relação entre o nascimento da escrita no Egito e na Mesopotâmia não seja nada clara, hoje, essa hipótese está em declínio.
Estela egípcia de calcário com hino a Osíris, mostrando hieróglifos clássicos de 3.600 anos.
A maioria dos que hoje estudam os primeiros escritos preferem tratá-los como processos independentes. Muitos dos temas sobre o surgimento da escrita no Egito e na Mesopotâmia que eram quase indiscutíveis até a década de 1990 foram questionados e repensados nos últimos anos. A sequência cronológica também não funciona mais porque os primeiros testemunhos em que podemos reconhecer a escrita não estão mais na Mesopotâmia, e sim no Egito.
Um dos critérios para a classificação de diferentes escritos é a forma como os sinais são feitos. O hieróglifo não é exclusivo dos egípcios, embora o termo tenha começado a ser aplicado a essa escrita específica refere-se ao fato de que nos signos reconhecermos elementos da realidade como animais, plantas, edifícios e pessoas, por exemplo.
No cuneiforme, as unidades que compõem os signos são os traços e as cunhas, embora os registros mais remotos mostrem um estágio mais semelhante ao que entendemos por hieróglifo. Definir um sistema de escrita apenas como hieroglífico ou cuneiforme é um argumento frágil porque não diz sobre como o signo gráfico se relaciona com a linguagem, o que talvez seja o mais significativo.
Nessa perspectiva, as distâncias entre o hieróglifo e o cuneiforme diminuem um pouco, mesmo no caso do cuneiforme seja um pouco difícil escolher um único modelo o mesmo sistema tem sido usado para o sumério, acadiano, hitita, elamita, hurrita ou mesmo persa.
Tanto o hieróglifo quanto o cuneiforme apresentam signos ou conjuntos de signos fonéticos, ou seja, representam sons ou grupos de sons, como faz o nosso alfabeto latino, e outros tipos de signos que se referem a conceitos (ideogramas) ou palavras específicas dentro da língua (logogramas).
O primeiro alfabeto
Acredita-se que a história do alfabeto tenha se iniciado durante a ascensão das civilizações egípcia e mesopotâmica, por volta do ano 2.000 a.C., quase dois milênios depois do surgimento da própria escrita. Como você já deve ter observado, existem controvérsias entre os especialistas nesses estudos. Embora os sistemas de escrita da Mesopotâmia e do Egito fossem muito avançados, eram difíceis de aprender e de usar.
Para alguns estudiosos, os responsáveis pelo desenvolvimento do primeiro alfabeto foram os fenícios, um povo comerciante que vivia na costa do atual Líbano. Composto por um silabário de 22 letras, ele servia para manter registros comerciais e administrativos.
Silabário é um conjunto de símbolos de escrita que representam sílabas que compõem palavras. Um símbolo num silabário representa tipicamente um som consoante opcional seguido por um som vogal. Num silabário verdadeiro não existe nenhuma semelhança gráfica sistemática entre caracteres foneticamente relacionados.
Nesse alfabeto, apenas as consoantes eram representadas. Os gregos introduziram as vogais e espalharam o alfabeto pelas áreas circundantes. Foi assim que surgiu o alfabeto grego e, mais tarde, o latino. Quase todos os alfabetos existentes no mundo surgiram do alfabeto consonantal ou foram inspirados nele.
Do aramaico e de sua variante não semítica poderiam derivar todos os alfabetos da Índia, cuja mãe seria o Davanagarico, do qual derivam o sânscrito, o tâmil e o birmanês. O alfabeto cirílico também é derivado do grego, criado no século IX por um grupo de religiosos de Constantinopla liderados por São Cirilo.
O alfabeto latino foi posteriormente imposto à Europa e ao Norte de África durante o Império Romano. Foi herdado pelas línguas românicas, muitas delas posteriormente impostas às suas colônias americanas, todas com mais ou menos o mesmo alfabeto. Também seria utilizado pelas línguas germânicas: alemão, polonês, anglo-saxão e línguas nórdicas.
Fonte do alfabeto romano moderno.
O alfabeto romano
No alfabeto romano havia somente letras maiúsculas. Contudo, na época em que elas começaram a ser escritas nos pergaminhos, com auxílio de hastes de bambu ou penas de patos e outras aves, ocorreu uma modificação em sua forma original. Posteriormente, criou-se um estilo de escrita denominado uncial, caracterizada por letras grandes e arredondadas. O novo estilo resistiu até o século VIII e foi utilizado na escritura de Bíblias lindamente escritas.
A escrita na China
Os primeiros exemplos de escrita na China foram encontrados perto da atual Anyang, num afluente do Rio Amarelo, 500 km ao sul de Pequim. Os reis do final da Dinastia Shang (1300–1050 a.C.) fundaram a sua capital e realizaram rituais de adivinhação usando ossos de animais. O primeiro sistema de escrita chinês conhecido como Jiaguwen, usava marcas esculpidas em ossos e cascos de tartaruga e eram usados em práticas de adivinhação.
Durante séculos, fragmentos de ossos foram encontrados por agricultores e vendidos para uso na medicina chinesa como “ossos de dragão”. Somente em 1.899 é que o político e estudioso Wang Yirong (1845–1900) reconheceu caracteres esculpidos na superfície de alguns desses ossos e percebeu seu significado.
Ossos de “oráculo”
Esses ossos de “oráculo” (omoplatas de bois e estrutura da carapaça de tartaruga) registram questões que foram feitas aos ancestrais reais sobre temas tão diversos como rotação de culturas, guerra, parto e até dor de dente. Até o momento, foram encontrados quase 150 mil exemplares desses ossos, contendo mais de 4.500 símbolos diferentes, muitos dos quais podem ser identificados como os ancestrais dos caracteres chineses ainda hoje em uso.
Escritos indecifráveis
A maioria dos caracteres nos ossos do oráculo permanecem indecifrados. Mesmo os personagens que podem ser identificados evoluíram consideravelmente em termos de função e forma. Não apenas os caracteres pictográficos se tornaram gradualmente mais abstratos, mas à medida que o vocabulário escrito se expandiu, mais formas compostas se desenvolveram.
Osso do oráculo chinês. Foram usados para adivinhação há mais de 3.000 anos na China.
Componentes básicos foram compartilhados para refletir semelhanças na pronúncia ou no significado. Dessa forma, desde os tempos antigos, os caracteres chineses têm sido capazes de representar conceitos e sons da linguagem falada em vários graus.
Os ossos mostram um sistema de escrita totalmente desenvolvido que deve ter sido formado muitos anos – talvez séculos – antes, embora materiais anteriores ainda não tenham sido descobertos, talvez até não tenham sobrevivido.
A escrita chinesa é composta por cerca de 40 ou 50 mil caracteres, mas nem todos são necessariamente utilizados. Eles podem representar um som, uma palavra inteira ou mesmo um conceito. Embora tenha sofrido alterações, ainda é utilizado.
A escrita fenícia
Por volta de 1.100 a.C., o alfabeto fenício estava surgindo no Oriente Médio. Ao contrário do cuneiforme e do hieroglífico, que utilizavam milhares de símbolos, o sistema fenício utilizava cerca de duas dezenas de símbolos representando sons, tornando-o mais simples e acessível. O alfabeto fenício influenciou muito o desenvolvimento de outros sistemas de escrita, incluindo o grego, o latim e o hebraico.
Na Antiga Índia e no Paquistão
No subcontinente indiano, a escrita Brahmi surgiu por volta do século III a.C. Serviu como base para muitas escritas do sul e sudeste asiático, incluindo Devanagari (usado para hindi e nepalês), Tâmil e Tailandês.
A Cultura do Vale do rio Indo, foi a de uma civilização da Idade do Bronze nas regiões noroeste do sul da Ásia, que existiu entre 3 300 a.C. e 1 300 a.C. e atingiu seu auge entre 2.600 e 1.900 a.C..
Seu complexo de centros urbanos abrange uma área que se estende do nordeste do Afeganistão, através de grande parte do Paquistão e o oeste e noroeste da Índia. Floresceu nas bacias do rio Indo, que flui através do Paquistão e ao longo de um sistema de rios perenes que antes corriam nas proximidades do sazonal rio Gagar, no noroeste da Índia e no leste do Paquistão.
A sociedade que utilizou esses símbolos era de um assentamento histórico na região do Indo que remonta há pelo menos 7.000 a.C. Uma alta cultura urbana floresceu durante 700 anos, entre 2.600 e 1.900 a.C.. Eles já tinham desenvolvido seu próprio sistema de protoescrita e, posteriormente, o aramaico. Lá foram encontrados símbolos em objetos que podem ser documentos escritos.
Embora exista cerca de 5.000 artefatos inscritos conhecidos e a inscrição mais longa consista em 26 símbolos, a maioria tem apenas três ou quatro sinais. Os 400 símbolos únicos que foram identificados são em número muito baixo para um sistema de escrita logográfica baseado em palavras viáveis.
Símbolos encontrados em selos de pedra do Vale do Indo, no Paquistão e no norte da Índia
Número semelhante ao encontrado nos hieróglifos egípcios pré-dinásticos e na escrita suméria antiga. Os estudiosos sugeriram, portanto, que, como esses dois sistemas, a escrita do Vale do Rio Indo pode conter uma mistura de componentes logográficos e silábicos.
Esse tipo de escrita deu origem às famílias brâmanes ou indianas, mães das línguas atuais do Sudeste Asiático e do Sul da Ásia, bem como de partes da Ásia Central: as línguas indo-europeia, sino-tibetana, mongol, dravidiana, tai e, provavelmente, coreana.
Na Mesoamérica
A Mesoamérica é uma região do continente americano que inclui aproximadamente o sul do México, os territórios da Guatemala, de El Salvador, de Belize e das porções ocidentais da Nicarágua, de Honduras e da Costa Rica. Em algum momento entre 900 e 600 a.C. surgiram as evidências de escrita nessa região. As descobertas também ampliaram a gama de culturas e línguas que usaram a escrita dos maias, mixtecas e astecas para incluir os primeiros olmecas e zapotecas. Havia dois tipos de sistemas de escrita na Mesoamérica pré-colonial. São eles:
Sistemas abertos – registro de textos que não estavam vinculados às estruturas gramaticais e sonoras de línguas específicas. Funcionavam como dispositivos mnemônicos, guiando os leitores pelas narrativas dos textos sem depender da formação linguística do público-alvo. Eram comuns entre os astecas e outras comunidades mexicanas do centro do México.
Sistemas fechados – ligados às estruturas sonoras e gramaticais de línguas específicas. Eram direcionados a comunidades linguísticas específicas e funcionavam de forma semelhante à escrita que conhecemos hoje. Exemplos desses sistemas podem ser encontrados entre os maias.
Estela de pedra erguida em Belize mostrando o sistema de escrita maia.
No século I a.C., os maias desenvolveram um sistema de escrita complexo formado por logogramas (símbolos que representam palavras ou frases) e símbolos fonéticos.
Na América Central foram encontrados registros de escrita deixados por essa civilização. Esses escritos se referiam especialmente a registros de dados históricos, tais como guerras e casamentos.
Guardiões dos Livros Sagrados
A posição de escriba era de alto status. Os artistas maias eram frequentemente filhos mais novos da família real. Os Guardiões dos Livros Sagrados, o mais alto cargo de escriba, atuavam como bibliotecários, historiadores, genealogistas, registradores de tributos, arranjadores de casamento, mestres de cerimônias e astrônomos.
Apenas quatro livros maias sobreviveram do período pré-colonial e menos de 20 em toda a região. Esses códices são pintados em pele de veado e cascas de árvores, com a superfície de escrita revestida com pasta de cal polida ou gesso. Códice é um veículo de escrita composto de folhas dobradas costuradas ao longo de uma aresta. Originário do século I, é considerado o precursor do livro.
Rapa Nui (Ilha de Páscoa, Polinésia)
Cerca de duas dúzias de tábuas de madeira com glifos inscritos foram descobertas em Rapa Nui, no século XIX. Rongorongo, termo que os próprios Rapa Nui aplicavam a esses objetos, foi interpretado pelos missionários da época como significando “linhas incisas para serem cantadas”. Mas, naquela época, o conhecimento de como usar as tábuas tinha se perdido. Eles refletem motivos humanos, animais e vegetais.
Tábua de madeira coletada em Rapa Nui (Ilha de Páscoa), com inscrições de glifos.
Existem 120 glifos elementares (não unidos), que têm sido usados para escrever textos de até 2.320 caracteres. Uma questão em aberto é se o rongorongo é puramente um dispositivo mnemônico ou um sistema de símbolos logográficos e silábicos como um sexto ponto de origem único para um sistema de escrita.
Mudança e estabilidade
Muito pouco sobre as origens da escrita está definido e, por esta razão, continua a ser uma interessante área de estudo. Descobertas arqueológicas poderiam facilmente alterar as datas de origem no Egito, na China e na Mesoamérica. Entretanto, novas decifrações, como as que aguardamos para as escritas do Vale do Rio Indo ou as tabuinhas de Rapa Nui, poderiam ligar culturas que hoje são separadas.
O legado da escrita
Além de permitir manter um registro da produção e do comércio, a escrita foi fundamental para o desenvolvimento da literatura, da filosofia e da ciência. Graças à escrita, ideias e conhecimentos puderam ser transmitidos de uma geração a outra, permitindo o avanço da humanidade.
A escrita continua sendo uma ferramenta fundamental de comunicação e troca de ideias. Embora tenha evoluído muito desde as suas origens, o seu propósito original permanece o mesmo: permitir que as pessoas se comuniquem e transmitam informações de forma eficiente e duradoura ֎
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