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Seitas do jainismo

  • campusaraujo
  • 7 de jun.
  • 15 min de leitura

Na postagem anterior, Jainismo – a religião mais pacífica do mundo, tivemos o primeiro contato com o jainismo e apresentamos suas características essenciais. Vamos agora apresentar as suas seitas principais e também a filosofia jainista.


Os jainas encontram-se divididos em duas seitas principais: a Svetambara (Vestes brancas) e a Digambara (Vestes de céu). A maioria dos jainas pertencem ao grupo Svetambara. Segundo alguns autores, a origem das duas seitas está no século I ou III d.C. e deve-se a disputas em torno dos textos que deveriam constituir as escrituras do jainismo.


Os Digambara concentram-se no sudoeste da Índia e os Svetambara no noroeste, nos estados do Gujarate, Rajastão e Madhya Pradesh.

Acredita-se que essas duas seitas tenham origem em eventos que ocorreram há cerca de duzentos anos após o nirvana de Mahavira, o último Tirthankara.

Bhadrabahu, o chefe dos monges jainistas, previu um período de fome e conduziu cerca de doze mil pessoas para o sul da Índia. Doze anos depois, eles voltaram e encontraram a nova seita Svetambara. Os seguidores de Bhadrabahu ficaram então conhecidos como Digambara.


A divisão Svetambara/Digambara foi provavelmente o resultado de uma série de conselhos realizados para codificar e preservar as escrituras jainistas, que existiam como tradição oral muito depois da morte de Mahavira. O último concílio, reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e deliberar sobre questões pastorais, de doutrina,  e costumes, foi realizado na cidade de Valabhi, em 453 d.C. ou 456 d.C. e sem a participação dos Digambara. Esse concílio codificou o cânone Svetambara ainda em uso. A comunidade monástica Digambara denunciou a codificação e com isso o cisma entre as duas comunidades tornou-se irrevogável.


As duas seitas concordam com quase todos os princípios do jainismo, mas os Svetambara consideram que as suas escrituras estão mais próximas dos ensinamentos originais do Mahavira. Usam roupas brancas sem costuras e acreditam ter retido a maior parte das escrituras originais transmitidas por Mahavira. Reconhecem que as mulheres, tanto quanto os homens, podem alcançar a libertação.


Os Digambara são mais ortodoxos e rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Consideram que a renúncia pregada por Mahavira implica para os monges a nudez total porque, de acordo com a tradição, o Mahavira e seus onze primeiros discípulos nada possuíam e nada usavam. Creem também que apenas os homens podem alcançar a libertação, as mulheres devem esperar até que encarnem como homens.

Principais termos do jainismo

Anga: Literatura canônica principal do Jainismo, parte dos Sutras fundamentais.

Apabhramsa: Língua antiga derivada do Prácrito, usada em textos posteriores da literatura indiana.

Ardha-Māgadhi: Língua indo-ariana média, forma de Prácrito utilizada nos primeiros textos jainistas e dramas.

Bhadrpada: Mês do calendário hindu-jainista (agosto-setembro), quando ocorre o festival Paryushana.

Cheda: Categoria de textos canônicos jainistas, parte dos 41 Sutras.

Digambara: Tradição jainista que enfatiza ascetismo extremo; monges não usam roupas (“vestidos de céu”).

Jina: “Conquistador” espiritual; termo para os Tīrthaṅkaras que alcançaram a libertação.

Jnana: Conhecimento espiritual; classificado em cinco tipos, como Matijnana e Shrutajnana.

Kevalin (Kevali): Ser iluminado com conhecimento absoluto (kevala jnana).

Mahābhāsya: “Grande comentário” detalhado sobre textos sagrados.

Mahāvratas: Cinco grandes virtudes éticas: não-violência, veracidade, não roubo, celibato e desapego.

Moksha: Libertação final da alma do ciclo de renascimentos (samsāra).

Niryukti: Comentário exegético em verso dos Sutras.

Paryushana: Festival anual jainista de purificação por meio de jejum, pregação e perdão.

Prakrit (Prácrito): Língua popular da Índia antiga, forma natural e primária, usada nas escrituras jainistas.

Prakirnaka: Obras não classificadas dentro do cânon jainista.

Ratnatraya: As “Três Joias” do Jainismo: fé correta, conhecimento correto e conduta correta.

Samyak-darshana: Fé correta, visão correta da realidade.

Samyak-jnana: Conhecimento correto, percepção precisa da verdade.

Samyak-charitra: Conduta correta, prática ética das virtudes.

Siddhashila: Lugar ou estado supremo onde a alma liberada reside eternamente em bem-aventurança.

Sutra: Texto canônico em aforismos ou versos condensados.

Śvetāmbara: Tradição jainista com monges vestidos de branco (“vestidos de branco”).

Tattvartha Sutra: Texto fundamental da filosofia jainista, “Livro das Realidades”.

Tīrthaṅkara: “Construtor de travessia” — seres iluminados que estabelecem o caminho para libertação.

Upānga: Literatura canônica complementar, parte dos Sutras jainistas.

Monges, monjas, leigos e leigas


Na comunidade jain existem monges e monjas, leigos e leigas. Todos seguem a mesma disciplina espiritual quíntupla. Monges e monjas são diferenciados dos leigos apenas pelo grau em que incorporam essa disciplina. Por meio de um ascetismo severo os monges e as monjas esforçam-se para tornar, este, o último nascimento. Os leigos seguem práticas menos rigorosas, esforçando-se para alcançar a fé racional e praticar boas ações neste nascimento.


O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Entre os Svetambara a entrada na vida monástica é autorizada aos dois sexos a partir dos sete anos, mas realiza-se em geral numa idade mais avançada. O noviço deve abandonar todos os seus bens; por altura da sua ordenação (Diksa) a sua cabeça é raspada e ele toma os cinco votos, numa versão mais rigorosa do que a dos leigos.


Os monges jainas levam uma vida itinerante, com exceção da época das monções, quando se recolhem numa determinada localidade. Eles costumam se deslocar em pequenos grupos de cinco ou seis. Para a sua alimentação, dependem da caridade dos leigos jainas, a quem oferecem em troca assistência espiritual.


Os monges Svetambara podem ser donos de pequenas coisas, como uma fina veste branca e a Mukhavastrika, uma máscara de tecido colocada sobre a boca, cujo objetivo é evitar a ingestão involuntária de insetos. Os Digambara 

interpretam o preceito do desapego de uma forma bastante rigorosa e por essa razão não usam roupas e, como não possuem tigela, utilizam as mãos como recipiente dos alimentos. As monjas usam uma veste branca. Eles geralmente viajam sozinhos.


Dificuldades naturais


Espera-se que os monges sofram com equanimidade dificuldades impostas pelo clima, terreno, viagens ou abuso físico. No entanto, são permitidas exceções em emergências, uma vez que um monge que sobrevive a uma calamidade pode purificar-se pela confissão e pela prática de austeridades ainda mais rigorosas.


Os monges Digambara fazem os mesmos “grandes votos” que os Svetambara, mas, em reconhecimento a uma interpretação muito mais intensa do voto de não posse, os Digambara de pleno direito permanecem nus, enquanto os de grau inferior usam uma tanga e mantêm um pedaço de pano com no máximo 1,5 metros de comprimento.


Eles usam um espanador de pena de pavão para varrer o chão por onde andam para não ferir qualquer forma de vida. Bebem água de uma cabaça e imploram pela única refeição do dia usando as palmas das mãos em concha como tigela de esmolas. Eles consideram sua interpretação da vocação monástica jainista mais de acordo com o modelo antigo do que a seguida pelos Svetambara.


Escravidão e libertação permanente do Jiva


Karma é o elo que liga a alma ao corpo e a causa da escravidão e da tristeza. Os jainistas acreditam que cada ação, boa ou má, que uma pessoa realiza abre os canais dos cinco sentidos, por meio dos quais uma substância – o karma, invisível – filtra e adere ao Jiva (princípio vital da alma), pesando-o e determinando as condições da próxima reencarnação.


Os jainistas acreditam que o estado mais elevado e exaltado de beatificação, a libertação permanente do jiva de todo envolvimento na existência mundana, só pode ser alcançado por meio de seus próprios esforços. Nenhum espírito ou deus pode ajudar o jiva a obter a libertação. Mohandas K. Gandhi foi profundamente influenciado pelos princípios éticos jainistas e fez da doutrina da ahimsa (não violência) uma parte integrante de sua própria filosofia e um método de ação política.


O jainismo afirma que o absolutismo (especialmente o absolutismo moral) leva ao fanatismo e à violência e, portanto, apoia a tolerância entre crenças, alegando que nenhuma crença contém exclusivamente a verdade.


Comportamento do leigo


Muitos tratados sobre o comportamento religioso e os votos do leigo foram produzidos entre os séculos V d.C. e XVII d.C.. De acordo com esses escritos, o comportamento do leigo deveria refletir os “grandes votos” ascéticos. A doutrina jainista, entretanto, sustenta que enquanto o caminho ascético pode levar à destruição (Nirjara) do karma, o caminho leigo permite apenas o afastamento (Samvara) de novo karma e isso não altera radicalmente o status cármico de um indivíduo.


Os leigos devem observar oito regras de comportamento e devem tomar doze votos. As oito regras variam, mas em geral incluem a prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não violência) que tem seu ponto forte na alimentação. Não devem comer carne de nenhum tipo, nenhum produto de origem animal e nem certos vegetais (tubérculos, cebola e alho) pois são de origem inferior e causam o efeito de agitar a mente, dificultando a prática da meditação.


Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas alcoólicas e nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína, teobromina). Devem praticar a caridade a todos os seres vivos, ler sobre as qualidades transcendentais dos Tirthankaras e recitar o Navkarou Ṇamōkāra Mantra, o mantra mais significativo do jainismo e um dos mais antigos em prática contínua. Essa é a primeira oração recitada pelos jainistas durante a meditação.


Mantra é uma sílaba ou poema, normalmente em sânscrito. Os mantras se originaram do hinduísmo, porém são utilizados também no jainismo, no budismo, bem como notoriamente por práticas espirituais que não têm vínculo com religiões estabelecidas.


Peregrinação


Vista como uma atividade particularmente meritória, a peregrinação é popular entre renunciantes e leigos. Locais de peregrinação foram criados durante o período medieval em locais que marcam os principais acontecimentos na vida dos Tirthankaras, alguns dos quais foram destruídos durante as invasões muçulmanas, iniciadas no século VIII.


As colinas Parasnath e Rajgir no estado de Bihar e as colinas Shatrunjaya e Girnar na Península de Kathiawar estão entre esses importantes locais de peregrinação antigos. Outros santuários que se tornaram destinos de peregrinação são Shravanabelagola no estado de Karnataka, Montes Abu e Kesariaji no estado de Rajasthan e Antariksha Parshvanatha no distrito de Akola em Maharashtra.


Para aqueles que não podem peregrinar às localidades mais famosas, é possível adorar suas representações nos templos locais. Pequenas redes regionais de santuários também são consideradas reproduções dos grandes espaços de peregrinação.


Confissão comunitária


Os leigos realizam uma confissão comunitária. Cartas são enviadas pedindo o perdão e a remoção de todos os ressentimentos sobre erros conscientes ou inconscientes durante o ano que passou. Chamado Dashalakshanaparvan (Dia da observância das 10 qualidades religiosas), o festival faz a exibição pública do Tattvarthasutra, antigo texto escrito em sânscrito por Acharya Umaswami em algum momento entre os séculos II d.C. e V d.C. O Tattvārthasūtra é considerado um dos textos mais antigos e de maior autoridade no jainismo.


Na lua cheia do mês de Karttika (outubro-novembro), ao mesmo tempo em que os hindus celebram o Diwali (festival das luzes), os jainistas comemoram o Nirvana (libertação final; literalmente “extinguir-se”) de Mahavira acendendo lâmpadas.


Outra importante cerimônia Shvetambara é o Jnanapanchami (literalmente Quinto Conhecimento), que ocorre cinco dias depois e é celebrada com adoração no templo e com reverência às escrituras. O festival Digambara equivalente acontece de maio a junho. Mahavira Jayanti, o aniversário de Mahavira, é comemorado por ambas as seitas no início de abril com procissões públicas.


Adoração, hinos, banhos e oferendas


Uma das principais formas de culto do leigo é prestar homenagem às estátuas dos Tirthankaras. Os jainas lavam as estátuas e dedicam-lhes oferendas, como mel, flores, arroz etc. Alguns grupos jainas, como os Sthanakavasis e os Terapanthis, são contra o culto de imagens.


O crente não adora a estátua em si, mas sim as qualidades associadas a ela, de modo a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas podem ser adoradas nos templos ou então em pequenos santuários existentes nas casas. São representadas em posição de meditação, sentadas ou em pé.


As orações jainas fazem referência aos grandes atos dos Tirthankaras e aos ensinamentos de Mahavira, sendo ditas num antigo dialeto do Bihar, o Ardha Magadhi. Com a principal oração, o Namaskara Sutra, o jaina presta homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo.

A adoração diária inclui hinos de louvor e orações, recitação de fórmulas sagradas e veneração de ídolos (Tirthankaras) — banham a imagem e fazem oferendas de flores, frutas e arroz. Os Shvetambara também decoram imagens com roupas e enfeites.


Um debate de longa data dentro de ambas as comunidades jainistas diz respeito ao valor relativo dos atos externos de adoração e dos atos internalizados de disciplina mental e meditação. Monges e monjas de todas as seitas estão proibidos de demonstrações de adoração física.


Período de abandono da vida errante


A época mais significativa do ano ritual jainista, entretanto, é o período de quatro meses, geralmente do final de julho ao início de novembro, quando monges e monjas abandonam a vida errante e vivem no meio de comunidades leigas. Para os Shvetambara, o festival mais importante é o Paryushana (Permanecer), que ocorre no mês de Bhadrapada (agosto-setembro).


O Paryushana designa a pacificação por meio do perdão e do serviço com esforço e devoção de todo o coração, e também o permanecer num local durante a estação das monções. O festival é caracterizado por jejum, pregação e recitação das escrituras. No último dia do festival anual, o Samvatsari, são distribuídas esmolas aos pobres e uma imagem de Jina é exibida cerimonialmente pelas ruas.


Questões filosóficas


A contribuição dos jainistas no desenvolvimento da filosofia indiana foi significativa. Os conceitos filosóficos jainistas como Ahimsa, Karma, Moksha são comuns no hinduísmo e no budismo. Enquanto o jainismo baseava sua filosofia nos ensinamentos de Mahavira, vários filósofos jainistas contribuíram para o discurso filosófico indiano.


Os jainistas foram influenciados e contribuíram de forma significativa nas esferas ética, política e econômica da Índia. Os jainas têm uma longa tradição ilustrada e são a comunidade religiosa com maior grau de alfabetização da Índia. Suas bibliotecas são as mais antigas do país. Eles têm uma cosmologia e crenças elaboradas, atestadas por nomes, categorias, classes, hierarquias, graus e ordens.


Transteísmo, Ateísmo e Pananimismo


O transteísmo refere-se a um sistema de pensamento ou filosofia religiosa que não é teísta nem ateísta, mas está além deles. A palavra foi cunhada pelo teólogo Paul Tillich ou pelo indólogo Heinrich Zimmer. Zimmer aplica o termo ao jainismo, que é teísta num sentido limitado: os deuses existem, mas são irrelevantes, pois são transcendidos pelo Moksha. Nesse sistema, os deuses não ocupam a instância espiritual mais elevada. Zimmer usa o termo para descrever a posição dos Tirthankaras que passaram “além dos governantes piedosos da ordem natural”.


O ateísmo jainista sustenta que o universo não foi criado por nenhum deus ou ser supremo e é o resultado inflexível das leis naturais autoimpostas. Não há criador, legislador, governador ou agente sobrenatural externo. Embora se faça menção a certos seres sobrenaturais, eles são indiferentes, e sua crença não é necessária. Essas entidades aparecem na cosmologia jaina apenas como referência à roda das reencarnações dos seres vivos.


O pananimismo jainista vê o universo como uma totalidade viva. Todo ser representa uma alma (jiva), mais ou menos complexa, translúcida ou pesada. Desde a terra ou o vento até insetos ou mamíferos, todos os seres refletem o universo e são dignos de respeito. Essa concepção se aproxima do panteísmo, mas com forte ênfase na individualidade da alma.


Epistemologia e libertação


Do ponto de vista epistemológico, o jainismo é relativista, defendendo que o conhecimento do mundo é sempre aproximado e que, com o tempo, até mesmo a religião jainista poderá desaparecer. Esse princípio de relatividade do saber foi aplicado por sábios jainas ao longo da história.


No pensamento jainista, existem quatro estágios de percepção — observação, vontade de reconhecer, determinação e impressão — que conduzem à cognição subjetiva (Matijnana), o primeiro dos cinco tipos de conhecimento (Jnana). O segundo tipo, Shrutajnana, deriva das escrituras e de informações transmitidas. Ambas são formas de cognição mediada, isto é, dependem de condições externas percebidas pelos sentidos.


Literatura canônica e caminho para a libertação


Perto do fim do quarto século a.C., um concílio foi realizado em Pataliputra com o objetivo de fixar o cânon jainista. Contudo, sua forma definitiva só foi estabelecida no Concílio de Valabhi, presidido por Devardhi por volta de 454 d.C.. O cânon inclui quarenta e um Sutras, divididos em: onze Angas, doze Upāngas, cinco Chedas, cinco Mǖlas e oito obras diversas. Além disso, existem Prakirnakas (obras não classificadas), doze Niryuktis (comentários versificados) e o Mahābhāsya (grande comentário).


Cada tradição — Śvetāmbara e Digambara — desenvolveu um extenso corpus canônico comentado e produziu também um rico acervo narrativo. A influência da história de Rama no clássico hindu Ramayana foi tamanha que os budistas e jainistas criaram suas próprias versões. A literatura jainista inclui pelo menos dezesseis recontagens da saga de Rama, em sânscrito e prácrito.


A obra considerada mais importante por muitos jainistas é o Tattvartha Sutra (Livro das Realidades), escrita há mais de dezoito séculos pelo monge Umasvati (ou Umasvami). Os Digambaras acreditam que esses textos foram registrados pela primeira vez em 57 d.C., quando os professores religiosos escasseavam, restando apenas a memória oral sobre os ensinamentos de Mahavira, o vigésimo quarto Tīrthaṅkara.


Mahavira expôs os princípios espirituais, éticos e filosóficos ensinados pelos Tīrthaṅkaras da remota era pré-védica e pelos Kevalins (seres plenamente iluminados). Sua língua original era o Ardha-Māgadhi, uma língua indo-ariana média e forma de Prácrito (Prakrit), palavra da tradição védica que significa "forma primitiva" ou "substância essencial".


O Ardha-Māgadhi teria sido falado nas regiões que hoje correspondem a Bihar e Uttar Pradesh e aparece também nos dramas budistas e jainistas mais antigos. Após a era cristã, o sânscrito passou a ser mais amplamente utilizado.

Além dos textos canônicos, ambas as tradições jainistas produziram vasta literatura em áreas como filosofia, poesia, teatro, gramática, música, matemática, medicina, astronomia, astrologia e arquitetura.


Os épicos Cilappatikaram e Jivikacintamani, da literatura tâmil pós-clássica, foram compostos de perspectiva jainista. O Adipurana, do poeta leigo Pampa, é considerada a primeira obra do estilo Mahākāvya (alta poesia) da literatura Kannada. Os jainas também deixaram marcas importantes nas línguas Prácritas, Apabhramsa, antigo Gujarati e, mais tarde, no sânscrito. O caminho para a libertação (moksha) se dá por meio das três joias (Ratnatraya):


  1. Fé correta (Samyak-darshana) — crença na realidade da existência,

  2. Conhecimento correto (Samyak-jnana) — compreensão sem erro da natureza real,

  3. Conduta correta (Samyak-charitra) — prática das cinco grandes virtudes (Mahāvratas): não violência, veracidade, não roubo, celibato e desapego.


A prática dessas três joias interrompe o fluxo de karma para a alma (jiva) e permite que o karma acumulado seja eliminado. Quando a última partícula de karma é destruída, ocorre a dissolução da combinação entre alma e matéria. A jiva, agora pura, alcança os quatro atributos infinitos: fé, conhecimento, bem-aventurança e poder. A alma, então, transcende o ciclo do samsāra (renascimentos) e ascende à Siddhashila, onde experimenta sua verdadeira natureza em quietude, isolamento, não envolvimento e bem-aventurança eterna.


Preservação dos manuscritos


O mérito religioso resultante da audição e leitura de textos jainistas encorajou a preservação cuidadosa e amorosa dos manuscritos. Os jainistas mantêm tradicionalmente bibliotecas importantes em toda a Índia, entre as mais significativas estão as dos Shvetambara em Chambay (ou Khambhat), Patan (ambos no estado de Gujarat) e Jaisalmer (Rajasthan), e as dos Digambara em Karanja (Maharashtra) e Mudbidri (Karnataka).


As miniaturas em folhas de palmeira e manuscritos de papel e em capas de livros de madeira preservadas nas bibliotecas monásticas jainistas fornecem uma história contínua da arte da pintura no oeste da Índia desde o século XI d.C.

O problema da transmissão oral é que, se aqueles que carregam o conhecimento de um texto em suas mentes morrem antes de transmiti-lo a outros, ou depois de transmiti-lo apenas parcialmente, esse conhecimento se perde para sempre. Não é diferente de uma situação em que cada cópia de um determinado livro é destruída.


Essa parece ter sido a situação da antiga comunidade jainista e a razão pela qual foi finalmente tomada a decisão de colocar a sua tradição textual em forma escrita, durante o tempo de Chandragupta, reinando aproximadamente de 321 a.C. a 297 a.C., no Império Maurya.


Os Shvetambara e os Digambara concordam que chegará um tempo em que os ensinamentos dos Tirthankaras serão completamente perdidos. O jainismo então desaparecerá da Terra e reaparecerá em um ponto apropriado no próximo ciclo de tempo (Kalpa). As duas seitas discordam, no entanto, sobre até que ponto já ocorreu a corrupção e a perda dos ensinamentos dos Tirthankaras.


Quando esse ciclo atingir o seu nível mais baixo, até o próprio jainismo se perderá na sua totalidade. Então, no decurso da próxima ascensão, a religião jainista será redescoberta e reintroduzida por novos Tirthankaras, apenas para ser perdida novamente no final da próxima crise. Em cada uma dessas alternâncias de tempo enormemente longas, há sempre vinte e quatro Tirthankaras.


Os jainistas acreditam que Lord Rishabha foi o primeiro humano a receber a filosofia no ciclo atual. O vigésimo terceiro Tirthankara foi Parshva, um asceta e professor, cujas datas tradicionais são 877 a.C. a 777 a.C., aproximadamente 250 anos antes do falecimento de Mahavira, o último Tirthankara, em 527 a.C. Os jainistas o consideram, junto com todos os Tirthankaras, um reformador que apelou ao retorno às crenças e práticas alinhadas com a filosofia universal eterna na qual se diz que a fé se baseia ֎


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