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Júlia Lopes de Almeida - Uma escritora à frente do seu tempo

Atualizado: 30 de dez. de 2023




A escritora e abolicionista brasileira Júlia Lopes de Almeida integrava o grupo de escritores e intelectuais que planejou a criação da Academia Brasileira de Letras, em 1897. Seu nome constava da primeira lista dos 40 "imortais" que fundaram a instituição, elaborada pelo escritor Lúcio de Mendonça (1854-1909).


O planejamento da Academia começou logo após a Proclamação da República (1889), por iniciativa de um grupo de intelectuais. Júlia Lopes era a única mulher. Em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, Lúcio de Mendonça considerou ser justo oferecer uma cadeira na Academia para a escritora. Isso não ocorreu porque, segundo os intelectuais que se opuseram, não havia mulheres na Académie Française de Lettres, que servia de inspiração para a Academia Brasileira. Um machismo mal disfarçado.


Renegando o protagonismo e a emancipação feminina, a ABL concedeu um lugar no grupo ao marido da escritora, Filinto de Almeida, para ocupar a cadeira número 3, que seria dela. Ele chegou a ser chamado de acadêmico consorte. Somente em 1977, 80 anos após a fundação, Rachel de Queiroz (1910-2003) foi eleita a primeira mulher para a Academia.



Em 2017, depois de 120 anos, a ABL homenageou Júlia Lopes, no ciclo de conferências Cadeira 21, e reconheceu a injustiça por ela sofrida.


Retrato da sociedade de fim do século XIX e início do XX


Crítica da situação social do Brasil, em seus romances a autora costumava representar a sociedade sob várias perspectivas por meio de enredos, tramas e intrigas nos quais imprime posicionamentos políticos, ideológicos e religiosos próprios do momento retratado.


Diferindo-se dos escritores homens desse período em relação aos assuntos de destaque em sua obra e sobre a visão que aplica a eles, Júlia Lopes deixou um legado rico no sentido de retratação da sociedade desde a abolição da escravatura até a década de 1930.


A situação da mulheres na literatura da sua época


Júlia Lopes era considerada uma escritora com ideias avançadas para a sua época. Ela defendia a abolição da escravatura, a república, o divórcio, a educação formal de mulheres, a emancipação dos corpos femininos e os direitos civis. Com o texto clássico e à frente de seu tempo, ela insere em suas obras diferentes pontos de vista e representa a mulher e a diferença de tratamento a elas dado pela sociedade.



Autora bem diversificada, ela escreveu romances, contos, crônicas, ensaios e peças de teatro durante uma época em que mulheres que aspiravam a qualquer profissão, além de cuidar do lar, eram explicitamente ignoradas — ou então, simplesmente substituídas por homens.


As mulheres, ao longo da história, criaram, atuaram, escreveram e produziram belíssimos trabalhos nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Porém, os tempos eram ainda mais difíceis e conservadores. O protagonismo sempre acabava indo parar nas mãos de seus maridos ou professores.


Segundo o site da Editora Darkside, a abolicionista realizou inúmeras palestras ao longo de sua vida, a fim de conscientizar as mulheres sobre seus papéis de emancipação perante a sociedade misógina da época. Júlia tornou-se uma das escritoras mais publicadas durante o período da Primeira República (1889-1930). Tal sucesso lhe rendeu visibilidade e a publicação de diversos artigos e matérias que abordavam direitos iguais entre os gêneros.


Conhecer a história de Júlia Lopes de Almeida é entender e se dar conta de que vestígios de um sexismo enraizado em nossa sociedade ainda se fazem presentes na jornada de inúmeras mulheres que lutam para conquistar seus espaços.


A partir dos anos 1970, aconteceu a redescoberta de Júlia Lopes e de outras autoras esquecidas, principalmente no meio acadêmico, nos estudos e pesquisas das áreas de Letras e Ciências Sociais.



Escolas literárias contemporâneas de Julia Lopes


Realismo – originário da França, o Realismo é a escola literária que analisa a realidade da época vivida pelo autor. No Brasil, ele surge depois do Romantismo e antes do Simbolismo, compreendendo os anos de 1881 a 1893 – o mesmo período em que o Naturalismo e o Parnasianismo também ocorreram. Marcado pelo objetivismo, pela veracidade e pela denúncia social, o Realismo brasileiro tem início com a obra de Machado de AssisMemórias Póstumas de Brás Cubas, publicada em 1881.


Parnasianismo – movimento literário que surgiu na mesma época do Realismo e do Naturalismo, no final do século XIX. De influência e tradição clássica, tem origem na França. É baseado no culto da forma, na impassibilidade e impessoalidade, na poesia universalista e no racionalismo. A proposta inovadora era de uma poesia de linguagem rebuscada, racional e perfeita do ponto de vista formal. Acreditavam que, se estivessem apoiados no modelo clássico poderiam contrapor os exageros e a fantasia típica do Romantismo.


Naturalismo – também surgido na França, foi um movimento artístico e cultural que se manifestou na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Suas características principais são a objetividade, a impessoalidade e o retrato fiel da realidade. O movimento foi influenciado pelas correntes científicas e filosóficas que surgiam na Europa como o determinismo, o darwinismo e o cientificismo. Para os artistas naturalistas, tudo estava determinado e possuía uma explicação lógica pautada na ciência. Assim, surge uma arte de denúncia social, focada nos temas da pobreza, das desigualdades, da disputa de poder e das patologias sociais. No Brasil, o movimento naturalista começa em 1881 com a publicação da obra O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Já em Portugal, o movimento surge em 1875 com o romance O crime do padre Amaro, do escritor Eça de Queiroz.


Características literárias da autora


Júlia Lopes de Almeida é associada ao Realismo e ao Naturalismo. Portanto, a sua obra mais conhecida — A falência (1901) — é marcada pela objetividade, crítica à sociedade brasileira, temática do adultério e determinismo. É possível encontrar em suas obras as seguintes características:


  • Objetividade - em oposição ao sentimentalismo.

  • Antropocentrismo - valorização da razão.

  • Crítica à sociedade brasileira.

  • Valorização do momento presente.

  • Presença da temática do adultério.

  • Cientificismo - uso exagerado de teorias científicas na análise de personagens.

  • Determinismo - influência do meio, raça e momento histórico sobre os personagens.

  • Biologismo - o comportamento dos personagens é associado a causas biológicas.

  • Zoomorfização - atribuição de características animais a seres humanos.


Pioneirismo na literatura infantil


Pioneira da literatura infantil no Brasil, seu primeiro livro, Contos Infantis (1886), foi uma reunião de 33 textos em verso e 27 em prosa destinados às crianças, escrito em parceria com sua irmã, Adelina Lopes Vieira.



Biografia


Júlia Lopes de Almeida nasceu em 24 de setembro de 1862, no Rio de Janeiro. Filha de portugueses ricos e cultos, quando ainda era criança, ela e sua família se mudaram para uma fazenda, em Campinas, no estado de São Paulo. Júlia recebeu uma educação liberal e, com o apoio do pai, aos 19 anos de idade, já escrevia para A Gazeta de Campinas, coisa bem incomum para as mulheres da época, monopolizadas pelos homens.

 

Em 1886, Júlia Lopes mudou-se para Lisboa. Em coautoria com a irmã, a escritora Adelina Lopes Vieira, publicou o livro Contos infantis. Em razão disso, é considerada uma das pioneiras da literatura infantil brasileira. Em Portugal ela conheceu e se casou com o poeta português Filinto de Almeida e publicou seu primeiro livro para adultos, Traços e iluminuras, escrito quando a autora tinha 24 anos.

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