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Homeira Qaderi - Escritora do Afeganistão sob guerras e regime Talibã

Atualizado: 27 de mai.


Defensora dos direitos das mulheres afegãs


Homeira Qaderi é uma escritora, acadêmica, professora de literatura persa e ativista afegã, conhecida por seu trabalho em prol dos direitos das mulheres e pela sua literatura que aborda as complexidades da vida no Afeganistão. Ela nasceu em Cabul, em 1980, durante a ocupação russa, filha de mãe artista e pai professor do ensino médio. Homeira tem sido uma voz importante na literatura contemporânea afegã, utilizando suas experiências pessoais para iluminar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em seu país.


Nascida durante os anos da ocupação soviética e crescendo durante o regime Talibã, ela ensinava em casa meninas e meninos refugiados quando a frequência escolar era proibida. Mais tarde, estudou literatura no Irã e obteve o doutorado em Língua e Literatura Persa, na Índia. Ativista dos direitos das mulheres, foi conselheira sênior de vários ministérios afegãos e foi laureada da com a Medalha Malalai por bravura excepcional.



Antes de deixar o Afeganistão, a escritora lecionou na Universidade Gharjistan, em Cabul, e trabalhou como conselheira sênior do ministro do trabalho e, posteriormente, do ministro da educação para assuntos sociais, mártires e deficientes.


Qaderi está escrevendo o romance com o título provisório TELL ME EVERYTHING, inspirado em grande parte por suas próprias experiências. O livro conta a história de uma garota dos subúrbios de Cabul que é sequestrada durante a guerra soviético-afegã e levada para São Petersburgo. Após a queda da União Soviética, ela retorna à sua cidade natal, que está sob o domínio do Talibã. O romance segue suas experiências de vida sob o domínio do Talibã e durante a invasão americana e sua eventual imigração para Smyrna, Delaware, nos Estados Unidos. À medida que se recupera, ela reflete com nostalgia sobre seu nomadismo forçado.

 

 

“(...) Viajar sempre foi um desafio para mim. É muito diferente se uma pessoa decidiu morar alguns anos no exterior como escritor, para observar de perto a cultura daquele país. Essa jornada acontece com uma mente calma e engajada. Para nós, a maioria das viagens tem sido dolorosa porque as viagens geralmente assumem a forma de migração e são geralmente o resultado de guerras. Por essa razão, em cada migração e em cada geografia estrangeira, tentamos primeiro encontrar o nosso próprio lugar na cultura do país de acolhimento. E para cada imigrante isso leva algum tempo. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP

 

Infância e educação

 

Durante a primeira infância ela tinha de se proteger das balas perdidas do exército soviético invasor e depois da guerra civil que se seguiu à retirada soviética, em 1989. Depois de o Talibã ter assumido o controle do país, as adolescentes foram proibidas de frequentar a escola. Aos treze anos, ela  organizou secretamente aulas de alfabetização básica para as meninas da sua vizinhança.


Mais tarde, deu aulas a crianças de um campo de refugiados durante quatro anos. Organizou a Golden Needle Sewing Class, um círculo clandestino onde ela e outras meninas prosseguiram seus estudos concentrando-se nas habilidades de escrita literária. Por essa época, ela publicou um conto, que foi fortemente repreendido pelo Talibã.

 

Em 2001, Homeira foi para o Irã para dar prosseguimento a sua educação interrompida. Em 2005, ela obteve o diploma de Bacharel em Literatura Persa, pela Universidade Shaheed Beheshti e, em 2007, o Mestrado em Literatura pela Universidade Allame Tabatabai,  ambos em Teerã. Foi doutoranda na Universidade de Teerã quando ocorreram os levantes iranianos de 2008.


Participou de comícios políticos de protesto contra a supressão dos direitos humanos básicos pelo governo iraniano. Como estrangeira, foi proibida de participar de protestos antigovernamentais e depois expulsa do Irã sem completar seu doutoramento.


Em 2014, ela recebeu o título de Ph.D. em Literatura Persa pela Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, Índia. Sua dissertação de doutorado foi intitulada REFLEXÕES DA GUERRA E DA EMIGRAÇÃO EM HISTÓRIAS E ROMANCES DO AFEGANISTÃO. Em 2015, ela concluiu o Programa Internacional de Redação na Universidade de Iowa, nos EUA.



Breve história do Afeganistão


PRIMEIROS POVOS E IMPÉRIOS – o território do atual Afeganistão foi habitado por várias civilizações antigas, incluindo os persas, gregos e indianos. Foi parte do Império Aquemênida e mais tarde conquistado por Alexandre, o Grande, em 330 a.C.


IMPÉRIOS REGIONAIS – após a morte de Alexandre, a região foi controlada por sucessores helenísticos e, posteriormente, pelos impérios Kushan e Sassânida.


INTRODUÇÃO DO ISLÃ – no século VII, o Islã foi trazido pelos árabes, transformando a paisagem religiosa e cultural da região. Posteriormente, foi governado pelos impérios Ghaznavida e Gúrida.


IMPÉRIO MOGOL – entre os séculos XVI e XVIII, o Afeganistão foi disputado pelos Império Mogol da Índia . Os Mogóis (Mugals) são um povo cujo império dominou toda a região do Subcontinente Indiano. O fundador Babur, era um imperador muçulmano, descendente de Gengis Khan pelo lado materno.


Já os Mongóis são um povo que pertence ao Grande Império fundado por Genghis Khan, o maior império terrestre indo da Sibéria ao Vietnã, e da Ucrânia ao Pacífico. Mongol,  se refere a um grupo étnico e uma civilização histórica que surgiu na região da Mongólia. Eram nômades guerreiros que conquistaram vastas áreas da Ásia durante o século XIII. São reconhecidos por sua habilidade militar, organização política e influência cultural. Embora estejam relacionados, os dois impérios não existiram simultaneamente. Babur é tatataraneto do Grande Khan e o Império Mogol surgiu quase 150 anos depois do fim do Império Mongol.



IMPÉRIO SAFÁVIDA – enquanto os otomanos estavam preocupados com a frente ocidental do seu Império, no lado oriental, Shah Ismail, que chegou ao poder em 1501, fundou uma dinastia persa chamada Safávida. Os safávidas estabeleceram um poderoso império que floresceu por mais de dois séculos e se tornou conhecido pelas suas artes florescentes.


Em 1598, Abbas mudou a capital Safávida para Isfahan, que estava localizada no centro da Pérsia e menos vulnerável aos ataques. A cidade, que havia sido a capital seljúcida alguns séculos antes,  foi embelezada por Abbas, com a mais primorosa arquitetura persa, inclusive o Palácio Real, Ali Qapu, e a Mesquita Real, Masjid-i Shah. Durante seu reinado, Isfahan foi uma das maiores cidades do mundo.


 

“(...) Invasões estrangeiras, conflitos civis e turbulências políticas forçaram-me a deixar o meu país. Acabei morando em vários países estrangeiros, incluindo Irã, Índia e Estados Unidos. Senti-me mais confortável no Irã porque consegui encontrar traços culturais comuns com os iranianos. O Irã teve um grande impacto no meu estudo de literatura. Talvez porque me perdi nas ruas com menos frequência do que em outros países. Talvez pela semelhança entre nossas duas culturas. Além de frequentar aulas na universidade, também frequentei aulas de redação de ficção e conheci as histórias da cultura. Nós, afegãos, partilhamos uma rica tradição literária clássica com os persas, mas a sua escrita de ficção moderna tornou-se uma nova aventura para mim. Gosto de escritores iranianos. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

FUNDAÇÃO DO ESTADO AFEGÃO MODERNO (1747) – Ahmad Shah Durrani, fundador do Império Durrani, é frequentemente considerado o pai do Afeganistão moderno. Ele unificou várias tribos e expandiu o território afegão.


O GRANDE JOGO – no século XIX, o Afeganistão tornou-se um campo de disputa entre o Império Britânico e o Império Russo, conhecido como O GRANDE JOGO. Os britânicos invadiram o Afeganistão duas vezes (1839-1842 e 1878-1880), mas enfrentaram forte resistência.


INDEPENDÊNCIA (1919) – após a Terceira Guerra Anglo-Afegã, o Afeganistão conquistou plena independência do controle britânico sob o rei Amanullah Khan.


MODERNIZAÇÃO E INSTABILIDADE – as tentativas de modernização por Amanullah Khan provocaram resistência conservadora, levando à sua abdicação em 1929. O país experimentou um período de instabilidade até a ascensão do rei Zahir Shah em 1933, que governou até ser deposto em 1973.


REPÚBLICA E GOLPE DE ESTADO (1973-1978) – Daoud Khan aboliu a monarquia e estabeleceu uma república em 1973, mas foi deposto e assassinado em um golpe de Estado comunista em 1978.



INVASÃO SOVIÉTICA (1979-1989)  – em 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão para apoiar o governo comunista, iniciando um conflito que durou uma década. A resistência mujahideen, apoiada pelos Estados Unidos e outros países, levou à retirada soviética em 1989. Mujahideen ou mujahidin é a forma plural de mujahid, que se traduz literalmente do árabe como "combatente" ou "alguém que se empenha na luta", embora o termo seja frequentemente traduzido como "guerreiro santo". A guerra deixou o país em ruínas e profundamente dividido, levando a uma resistência feroz dos mujahideen, que eventualmente forçaram a retirada soviética.


ASCENSÃO DO TALIBÃ E REGIME PÓS-GUERRA (1990-2001) – após a retirada soviética, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil brutal, durante a qual o Talibã ganhou controle sobre grande parte do país e impôs um regime repressivo, especialmente para as mulheres, e abrigou grupos terroristas como a Al-Qaeda.


GUERRA CIVIL AFEGÃ (1992-1996) - após  a retirada soviética, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil entre várias facções mujahideen. A luta pelo poder resultou em enorme destruição e sofrimento para a população civil.


REGIME TALIBÃ (1996-2001) – o Talibã tomou o controle do Afeganistão em 1996 e impôs um regime extremamente repressivo. Sob o governo Talibã, as mulheres foram severamente restringidas, proibidas de trabalhar, estudar e participar da vida pública. Qaderi viveu sob esse regime, e suas experiências durante esse período influenciaram profundamente sua escrita e seu ativismo.


GUERRA NO AFEGANISTÃO PÓS 11 DE SETEMBRO E QUEDA DO TALIBÃ (2001) – após os ataques de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão para combater a Al-Qaeda e derrubar o Talibã que foi deposto do poder e um governo apoiado pelos Estados Unidos foi estabelecido. Esse período trouxe uma abertura para melhorias nos direitos das mulheres e desenvolvimento, embora o país continuasse a enfrentar insurgência e instabilidade.



RECONSTRUÇÃO E DEMOCRACIA FRÁGIL (2001-2021) – nos anos seguintes à queda do Talibã, o Afeganistão experimentou esforços de reconstrução e a tentativa de estabelecer uma democracia. No entanto, a violência persistente e a corrupção dificultaram o progresso. Durante esse tempo, Qaderi se envolveu em várias iniciativas educacionais e de direitos das mulheres.


RETIRADA DOS ESTADOS UNIDOS E RETORNO DO TALIBÃ (2021) – em 2021, os Estados Unidos retiraram suas tropas do Afeganistão, levando rapidamente ao colapso do governo afegão e ao retorno do Talibã ao poder. Isso gerou temores de um retorno às políticas repressivas anteriores, especialmente em relação aos direitos das mulheres e meninas.


Homeida Qaderi sofreu represálias do Talibã?


Não há informações disponíveis que indiquem que Homeira Qaderi tenha sofrido represálias diretas do Talibã. No entanto, dado ao contexto de opressão e violência enfrentado pelas mulheres sob o regime Talibã no passado, é possível que ela tenha vivenciado ameaças ou enfrentado dificuldades como resultado de sua defesa dos direitos das mulheres e de sua oposição ao regime.

 

Muitas mulheres afegãs que desafiaram as políticas do Talibã enfrentaram retaliação, intimidação e violência, incluindo ameaças de morte, prisão e agressão física. Qaderi, como uma defensora proeminente dos direitos das mulheres e uma voz crítica ao regime Talibã, poderia ter sido alvo de tais ameaças ou hostilidades. No entanto, sem informações específicas sobre a sua situação pessoal, é difícil determinar se ela sofreu represálias diretas do Talibã. Sua obra e ativismo continuam a ser uma fonte de inspiração e coragem para muitos, tanto dentro quanto fora do Afeganistão.


As experiências pessoais e profissionais de Homeira durante esses períodos tumultuados foram moldadas por essas circunstâncias desafiadoras. Sua escrita reflete o impacto desses eventos, abordando temas de resistência, sacrifício e a luta pelas liberdades individuais e pelos direitos das mulheres afegã em um ambiente muitas vezes hostil. Sua vida e obra são testemunhos da resiliência e coragem necessárias para lutar pelos direitos humanos em um contexto de opressão e conflito contínuos.

 

Carreira literária de Homeira Qaderi


Durante a sua permanência no Irã, Qaderi foi diretora da Associação de Artes e Cultura do Afeganistão, cargo que ocupou até 2008. Após o seu regresso ao Afeganistão, ela começou a lecionar como professora assistente na Universidade de Cabul. Devido à demanda por suas habilidades literárias e experiência profissional em literatura persa, ela também lecionou na Universidade Mash'al e na Universidade Gharjistan, em Cabul. Ao mesmo tempo, participou ativamente em movimentos de direitos cívicos centrados na igualdade de gênero no Afeganistão.


 

“(...) Dias difíceis estavam pela frente, mas focar na preparação do que seria o Dançando na Mesquita me ajudou a me acalmar e, eventualmente, conheci alguns editores. Estou contando essa história para explicar que não é fácil orientar-se em culturas estrangeiras. Conhecer e conviver com escritores de outro país não é fácil. Leva tempo para conhecer a cultura do povo e encontrar o caminho para sua literatura. Naquela época, eu estava preocupada em escrever o manuscrito persa de minhas memórias, que queria publicar em inglês. Eu tinha tradutores e demorei mais para me sentir confortável com a língua inglesa. Talvez eu ainda estivesse sofrendo o choque de ter sido separada do meu filho e não estivesse emocionalmente preparada para me aventurar em algo novo, como melhorar meu inglês. (...)”  

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

Em 2011, Qaderi tornou-se conselheira do Ministro do Trabalho, dos Assuntos Sociais, dos Assuntos dos Mártires e dos Deficientes no Afeganistão. Ela concentrou os seus esforços na melhoria das condições de vida das viúvas e dos órfãos e estabeleceu programas de formação para a sua autossuficiência. Em 2018, ela também atuou como editora-chefe do Rah-e Madanyat Daily.


Em 2019, foi nomeada Conselheira Sênior do Ministro da Educação e permaneceu nesse cargo até a primavera de 2021. Atualmente é editora-chefe do Ravi-e Zan e é a fundadora da Golden Needle Literary Association, onde leciona para jovens escritoras.


Após a queda de Cabul, em 2021, ela deixou o Afeganistão e mudou-se para os Estados Unidos, onde se tornou bolsista na Robert G. James Scholar Fellow no Radcliffe Institute of Advanced Research, Universidade de Harvard, escrevendo sobre as experiências de jovens mulheres sob o domínio Talibã.


No rescaldo da queda de Cabul, ela falou publicamente sobre a terrível situação no seu país e a necessidade urgente de a comunidade internacional apoiar os refugiados afegãos e expressar as suas preocupações sobre os direitos das mulheres e das jovens. Ela continua a ser uma defensora dos direitos humanos, dos direitos das mulheres e da paz no Afeganistão.



Obras da escritora Homeida Qaderi


Homeida publicou numerosos artigos, ensaios, contos e romances em persa e inglês, e seu trabalho foi traduzido para vários idiomas. Em 2003, três histórias, incluindo ZAIR-E GONBAD-E KABOOD, foram publicadas em Herat, no Afeganistão. Ela foi a única escritora afegã publicada no Afeganistão naquele ano. No mesmo ano, ela recebeu o Prêmio Sadegh Hedayat no Irã por seu conto intitulado BAZ BAARAN AGAR MIBARID (Se chover de novo). Foi a primeira vez que um prêmio tão prestigioso foi concedido a uma cidadã afegã no Irã.

 

Seu livro de memórias, DANCING IN THE MOSQUE: AN AFGHAN MOTHER'S LETTER TO HER SON (Dançando na mesquita: carta de uma mãe afegã para seu filho), foi publicado pela Harper Collin,s em 2020 e 2021, e traduzido para vários idiomas, incluindo francês, italiano e finlandês. O livro foi escrito como uma carta ao próprio filho, explicando os desafios que ela enfrentou ao crescer no Afeganistão e a difícil decisão que teve de tomar referente ao divórcio. Ela escreve abertamente sobre sua infância, seu casamento e os desafios que enfrentou como mulher e escritora em uma sociedade que muitas vezes oprime a ambas.


O livro foi aclamado pela crítica e foi um livro notável do New York Times de 2020. Também foi listado para a Medalha Andrew Carnegie de Excelência em Não-ficção de 2021 e escolhido pela Kirkus Reviews como um dos melhores livros de não-ficção de 2020.


Alguns de seus outros trabalhos publicados incluem GOSHWARA-E ANIS, (2005) e romances conhecidos como IGLEMA (2014), NAQSH-E SHEKAR-E AHO (2012) e seu aclamado romance NOQRA: THE DAUGHTER OF KABUL RIVER ( Noqra: a filha do Rio kabul- Editores Rozgar, 2009).

 

Características da escrita de Homeira Qaderi


A escritora é conhecida por um estilo de escrita que é ao mesmo tempo lírico e profundamente pessoal. Sua literatura muitas vezes reflete suas experiências de vida, oferecendo um olhar íntimo sobre as dificuldades e resistência das mulheres no Afeganistão sob o regime Talibã. Ela mesma viveu sob essa repressão durante esse período. Seus escritos oferecem uma visão pessoal das dificuldades enfrentadas pelas mulheres afegãs sob o regime Talibã e sua luta por liberdade e igualdade.


Influências religiosas na literatura de Homeira Qaderi


A religião, especialmente o Islamismo, tem uma influência significativa na obra de Homeira Qaderi, devido à importância central da religião na sociedade e na cultura afegãs. Algumas maneiras pelas quais a religião influencia sua obra são:


ESTUDO DE TEMAS RELIGIOSOS – Qaderi muitas vezes analisa temas religiosos em sua escrita, incluindo questões de fé, espiritualidade e moralidade. Ela incorpora elementos da tradição islâmica em suas narrativas e propõe reflexões sobre o significado da religião na vida das pessoas e na sociedade afegã.



EXAME DA INTERSEÇÃO ENTRE RELIGIÃO E CULTURA – sua obra frequentemente examina a interseção complexa entre a religião e a cultura afegãs. Ela mostra como as tradições culturais e religiosas se entrelaçam na vida cotidiana, influenciando crenças, valores e práticas sociais do povo afegão.


DESAFIO DAS NORMAS RELIGIOSAS – em alguns casos, ela desafia as normas religiosas estabelecidas em sua escrita, especialmente aquelas que são opressivas ou discriminatórias, especialmente em relação às mulheres. Questionar interpretações conservadoras do Islamismo que restringem os direitos das mulheres ou promovem a intolerância religiosa.

 

“(...) Fiquei perturbada naquela época porque meu filho foi tirado de mim pouco tempo antes de chegar lá. Então, o que mais me lembro é da gentileza das pessoas do país anfitrião durante o meu luto. Mas na minha vida literária, conhecer tantos escritores foi uma experiência muito agradável. Ainda estou em contato com alguns deles. De manhã, todos escrevíamos. Nós nos reuníamos à noite, sentávamos na Sala Comunal à noite e às vezes ouvíamos música. Alguns de nós conversam sobre nossos manuscritos. Conheci bons escritores e ainda acompanho seu trabalho. Eles estão escrevendo bem e seguindo em frente. Iowa City tem um lugar especial no meu coração. (...)

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP. 

 

DEFESA DE UMA INTERPRETAÇÃO PROGRESSISTA DA RELIGIÃO – ela defende uma interpretação mais progressista e inclusiva da religião, especialmente em relação aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero. Destaca os aspectos humanistas e compassivos do Islamismo, buscando reconciliar a fé com a defesa dos direitos humanos universais.


REFLEXÃO SOBRE O IMPACTO DA RELIGIÃO NA SOCIEDADE – sua obra pode oferecer reflexões sobre como a religião influencia a sociedade afegã, moldando instituições, leis e normas sociais. Ela aborda como a religião é usada para justificar o poder político, social e econômico, e como isso afeta a vida das pessoas, especialmente das mulheres e das minorias.


NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA E MEMÓRIAS – uma das obras mais conhecidas de Qaderi, Dancing in the Mosque: An Afghan Mother's Letter to Her Son, é uma memória que mescla sua experiência pessoal com a história mais ampla do Afeganistão. A narrativa autobiográfica proporciona uma conexão emocional profunda com o leitor, trazendo à tona a realidade vivida por muitas mulheres afegãs.


ELEMENTOS LÍRICOS E POÉTICOS – seu estilo é frequentemente descrito como lírico, com uma prosa que incorpora elementos poéticos. Isso contribui para a beleza e a profundidade emocional de suas narrativas, mesmo ao tratar de temas difíceis e dolorosos.


FOCO NOS DIREITOS DAS MULHERES E NA RESILIÊNCIA FEMININA – Qaderi escreve extensivamente sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em uma sociedade patriarcal e opressiva. Seus trabalhos destacam a força, coragem e resiliência das mulheres afegãs, muitas vezes confrontando normas sociais restritivas e lutando por sua autonomia e dignidade.


CRÍTICA SOCIAL E POLÍTICA – sua escrita é usada como um meio para criticar a opressão social e as políticas que restringem os direitos humanos, especialmente os direitos das mulheres. Sua literatura serve como uma forma de resistência contra a injustiça e a desigualdade.


CONTEXTO CULTURAL E HISTÓRICO – suas obras estão profundamente enraizadas no contexto cultural e histórico do Afeganistão. Ela tece histórias pessoais com eventos históricos, proporcionando uma compreensão rica e multifacetada da vida no Afeganistão ao longo das últimas décadas.


TONS DE ESPERANÇA E DETERMINAÇÃO – apesar das adversidades retratadas, a escrita de Qaderi frequentemente incorpora temas de esperança e determinação. Ela enfatiza a capacidade humana de resistir e superar dificuldades, inspirando seus leitores com histórias de perseverança e triunfo pessoal.


 

A literatura de Homeira Qaderi é uma poderosa combinação de narrativa pessoal, crítica social, e lirismo poético, que oferece uma visão profunda das lutas e triunfos das mulheres afegãs em um contexto de opressão e conflito.


A religião desempenha um papel significativo na sua obra e permeia suas narrativas oferecendo entendimentos sobre a vida espiritual, cultural e social no Afeganistão. Ela trabalha os aspectos positivos e negativos da religião, desafiando as normas estabelecidas e promovendo uma interpretação mais inclusiva e humanista da fé islâmica.


 

“(...) A escrita de ficção no Afeganistão tem apenas um século. Nestes cem anos, nossos escritores não produziram muito. Às vezes pode levar uma década até que surja uma boa obra de ficção. A ficção afegã moderna tem um tom muito político e serve a objetivos políticos. A guerra de longa duração tornou impossível concentrar-se na arte. Muitos artistas foram mortos. Muitos emigraram. Na minha tese na Universidade Alama Tabatabaie, em Teerã, falei, concentrei-me no contexto cultural da escrita de ficção no Afeganistão durante o século passado. Uma parte importante dessa tese é sobre Herat, minha cidade natal. Herat é uma das poucas cidades onde os escritores estão ocupados escrevendo. Durante a guerra civil de 1992-95, esteve entre as cidades menos danificadas do Afeganistão. Seus escritores não se dispersaram tanto e a cidade tinha mais presença cultural. Seu povo não era tão político – pelo contrário, estava mais sintonizado com a poesia e a literatura. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

Maternidade constantemente ameaçada


Nos dias anteriores a Homeira Qaderi dar à luz o seu filho, Siawash, o caminho para o hospital em Cabul ficava constantemente bloqueado por causa das frequentes explosões suicidas. Com a cidade e os militares no limite, não era incomum que um soldado armado apontasse a arma para a barriga protuberante de uma mulher grávida, com medo de que ela estivesse escondendo uma bomba. Impulsionada pelo amor que sentia pelo filho que estava prestes a nascer, Homeira caminhou entre sangue e destroços para chegar às portas do hospital. Mas a alegria do nascimento do seu filho foi logo ofuscada por outros perigos que ameaçariam a sua vida.


Não sendo uma mulher afegã comum, Homeira recusou-se a encolher-se sob as restrições de uma ordem social misógina. Aos treze anos, desafiando a lei, ela arriscou a sua liberdade para ensinar crianças a ler e escrever e lutou pelos direitos das mulheres na sua sociedade teocrática e patriarcal.


Trechos fictícios de livros de Homeira Qaderi


Como eu não tenho acesso ao conteúdo específico dos livros de Homeira Qaderi, pedi ao ChatGPT que fornecesse exemplos fictícios que capturam o estilo e o tom da escrita de Homeira Qaderi, com base nas descrições fornecidas. Aqui estão eles:


The Dancing Leaf


No silêncio que envolvia a cidade adormecida, Zahra observava a dança das folhas ao vento, um balé de cores e formas que ecoava a turbulência de seus próprios pensamentos. Em meio aos escombros da guerra, ela encontrava beleza na impermanência, na dança efêmera das folhas que, iguais a ela, eram levadas pela correnteza implacável do destino.


Collection of Stories


Nas vielas estreitas de Cabul, os segredos se escondiam entre os suspiros das mulheres veladas, um labirinto de histórias entrelaçadas pelo fio invisível do destino. Em cada conto, uma miríade de emoções se desdobrava: a dor da perda, a esperança da redenção, e o eterno embate entre tradição e progresso.


Dancing in the Mosque: An Afghan Mother's Letter to Her Son


Minha querida criança, em meio à escuridão opressiva do regime talibã, dancei nos recantos silenciosos da nossa casa, sussurrando orações de esperança enquanto os olhos do mundo permaneciam fechados para o nosso sofrimento. Eu era uma mãe, uma lutadora, uma voz silenciada pelo medo, mas nunca deixei de sonhar com um amanhã onde as crianças poderiam dançar livremente sob o sol da liberdade.


 

“(...) O Afeganistão está preso num ciclo vicioso de repetição da sua história. Estamos constantemente enredados nas guerras por procuração dos nossos vizinhos e, porque somos, em todos os aspectos, um país pobre, não conseguimos sair destas condições difíceis. É por isso que as ondas de migração e perda de artistas se repetem década após década. Sempre que uma geração poderosa de artistas literários surge nesta terra, logo os perdemos. Esta é uma grande tragédia e a razão pela qual nenhum movimento literário surgiu aqui. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

Prêmios recebidos por Homeira Qaderi


Homeira Qaderi recebeu seu Doutorado em Literatura persa pela Universidade Jawaharlal Nehru, na Índia. Ativista de direitos humanos ao longo da vida, ela recebeu do presidente do Afeganistão a Medalha Malalai, a mais alta honraria civil do país, por sua bravura excepcional.


Foi reconhecida pelo seu trabalho como ativista da sociedade civil para os assuntos das mulheres e das crianças no Afeganistão e participou em várias conferências internacionais, defendendo os direitos humanos. Em dezembro de 2011, na Alemanha, ela participou na SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE BONA SOBRE O AFEGANISTÃO  e falou perante a assembleia geral sobre a situação das mulheres afegãs e a sua luta pela igualdade de direitos.

 

Em 2012, participou na CONFERÊNCIA DE TÓQUIO SOBRE O AFEGANISTÃO, onde estiveram representados mais de 100 países. Como parte da delegação afegã, ela solicitou que outros países ajudassem o governo afegão e apoiassem as mulheres afegãs. Em 2014, foi palestrante na CONFERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO  em Genebra, Suíça, onde defendeu a melhoria das condições de trabalho para as mulheres afegãs.



O ativismo e as contribuições de Homeira Qaderi para a literatura, cultura e sociedade afegãs foram reconhecidos com vários prêmios, incluindo o PRÊMIO SADEGH HEDAYAT (2003), ASHRAF GHANI (2018) e o PRÊMIO HELLMAN/HAMMETT DOAÇÃO DA HUMAN RIGHTS WATCH (2019).


 

“(...) No Irã, a situação é muito diferente: os escritores estão mais concentrados porque estão em paz, pois têm pelo menos um canto seguro de uma casa para escrever. Eles criam dezenas de boas obras todos os anos. Eles traduzem. Eles estabelecem movimentos literários. Eles se comunicam entre si e nutrem a nova geração de artistas literários. Sei disso muito bem porque morei nos dois países. O governo apoia artistas. Aqui no Afeganistão, os artistas estão sempre com problemas financeiros – os sortudos que sobreviveram às ameaças de morte. Não quero dizer que os artistas iranianos não tenham problemas, mas têm o espaço propício à escrita e janelas que não são quebradas por balas. Isto é muito importante. Aqui, se não formos mortos na rua, certamente seremos baleados pelas nossas janelas. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

Qaderi apareceu em vários meios de comunicação, incluindo THE NEW YORK TIMES, BBC e NPR, REVISTA TIME e REVISTA PEOPLE, onde compartilhou seus conhecimentos e experiências como escritora, acadêmica e ativista. Também foi tema de vários documentários, incluindo THE AFGHAN WOMEN'S ODYSSEY (2012) e THE WOMEN OF KABUL (2014), e foi a inspiração para THE SECRET GATE: A TRUE STORY OF COURAGE AND SACRIFICE DURANTE O COLAPSO DO AFEGANISTÃO ( 2023) por Mitchell Zuckoff.


 

 “(...) Os meus colegas do Ministério da Educação foram enviados em missão para províncias devastadas pela guerra. Eles nunca voltaram. Estamos de volta ao ponto de partida. As forças estrangeiras usaram o país como plataforma para alcançar os seus objetivos na região, deixando-nos depois encurralados por terroristas globais. Pense, como mulher, numa escritora que lutou contra o extremismo durante toda a sua vida… é assim que me sinto hoje em dia. Agora todos os artistas estão em pânico. Às vezes sinto que estou sozinha. Fico frustrada e perco a motivação. Na maioria dos dias, sento-me perto da janela pela manhã e trabalho em um novo projeto. Olho a vida diretamente nos olhos... Restabeleci o contato com meus amigos escritores iranianos. Até publiquei três obras infantis com uma editora iraniana e espero lançá-las em breve, no meio desta guerra e do terror. (...)”

Homeira Qaderi, em entrevista para o IWP.

 

 

Homeira Qaderi vive fora do Afeganistão e continua a escrever e a defender os direitos das mulheres afegãs. Sua obra e ativismo continuam a inspirar muitos, tanto dentro quanto fora do Afeganistão. Além de sua carreira literária, ela tem sido uma defensora ativa dos direitos das mulheres e da educação. Homeira trabalhou em várias iniciativas para melhorar as condições de vida das mulheres afegãs e tem falado publicamente sobre a importância da educação e da igualdade de gênero. Permanece uma voz ativa e influente na literatura e no ativismo, utilizando sua plataforma para aumentar a conscientização e promover a igualdade de gênero. Atualmente ela trabalha na Robert G. James Scholar Fellow no Radcliffe Institute of Advanced Research, na Universidade de Harvard.  


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