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Florence Willoughby - A primeira verdadeira romancista do Alasca

Atualizado: 27 de fev.


Florence Barrett Willoughby, também conhecida como Florence Barrett, filha de um capitão de barco fluvial, foi uma romancista best-seller que escreveu obras de ficção romântica e não-ficção, de 1920 a 1940. Duas de suas obras foram adaptadas para o cinema. Ela mesma comenta em seu livro Gentlemen Unafraid (Senhores sem medo - 1928), que foi literalmente criada nas águas do Alasca.


Não se sabe ao certo o ano em que ela nasceu, mas nos censos de 1910 e 1920 ela registra sua data de nascimento como maio de 1886, em Wisconsin, Estados Unidos. Seu pedido de previdência social foi registrado em 28 de maio de 1891.


Algumas de suas primeiras experiências na região são contadas em seu primeiro romance, Where the Sun Swings North (Onde o sol oscila para o norte - 1922). Ela amava tanto o Alasca, sua terra, história e sua gente que todos os seus romances, exceto um, se passa nesse lugar de natureza exuberante e desafiadora. Muitos de seus protagonistas masculinos são, como seu pai, capitães de barcos fluviais. Todas as suas protagonistas femininas compartilham seu amor pelo país. Além de romances, ela escreveu contos, livros de viagens e esboços de personagens de importantes pioneiros da região.



Em sua época, Florence foi aclamada como "a primeira verdadeira romancista do Alasca". Suas obras de ficção romântica e não-ficção encantaram a imprensa nacional durante as décadas de 1920 e 1930. Willoughby viveu muitos anos no Alasca, muito mais tempo do que qualquer um de seus contemporâneos ainda famosos, como Robert Service e Jack London.


Ela era apaixonada pelo norte, mas o norte que ela amou e descreveu vividamente não era o lugar agreste e perenemente congelado onde outros autores ambientavam suas histórias.


Trabalhadora, inteligente e teimosamente idealista, Willoughby abriu caminho para o sucesso no que pode ser visto como um mundo duplamente masculino: ela era ao mesmo tempo uma autora de best-sellers e aceita como natural do Alasca.


Quero dizer ao mundo inteiro como esta terra é linda”, disse ela a uma audiência de rádio nacional em 1932, “uma terra de coragem brilhante e de vida alegre, onde todos se divertiam muito”.



Que país é esse?


O Alasca se tornou habitado há 10.000 anos antes de Cristo. Naquela época, os migrantes seguiam rebanhos de animais através de uma ponte natural terrestre que se estendia da Sibéria, na Rússia, ao leste do Alasca. Desses grupos de migrantes, os athabaskans, unangan (aleuts), inuit, yupiit (yupik), tlingit e haida permaneceram no território.


Em 1728, uma expedição encomendada pelo czar Pedro I da Rússia e liderada pelo marinheiro dinamarquês, com nacionalidade russa, Vitus Jonassen Bering, determinou que a nova terra não estava ligada ao continente russo, o que não era verdade. Como estavam sob um forte nevoeiro, eles não conseguiram avistar a América do Norte na outra ponta da ponte. O nome Estreito de Bering foi dado em homenagem ao navegador dinamarquês, responsável pela primeira navegação sobre o canal.


Bering voltou a ser eleito para liderar uma segunda expedição a Kamchatka, desta vez pela imperatriz russa Ana Ivanovna (1693-1740), cujos objetivos eram explorar uma parte de Sibéria, as costas russas do norte e as rotas marítimas entre Okhotsk, América do Norte e Japão. Bering voltou à região de Kamchatka em 1735. Com ajuda dos artesãos locais construiu dois navios: o Sviatoi Piotr (São Pedro) e o Sviatoi Pavel (São Paulo), com que partiu em 1740.


Ele liderou uma expedição à América do Norte em 1741. Uma tempestade separou os dois barcos e Bering acabou na costa sul do Alasca, no mar de Bering, desembarcando perto da ilha Kayak. O segundo barco, capitaneado por Aleksei Chirikov, desembarcou no arquipélago Alexander, no sudeste do Alasca.


As duras condições da região obrigaram Bering a regressar. Ele adoeceu e ao não poder governar seu navio, teve que refugiar-se nas ilhas Komandorskiye Ostrova, a sudoeste do mar de Bering. Em 19 de dezembro de 1741 Vitus Bering morreu na ilha de Bering, juntamente com vinte oito membros da sua tripulação.



Entre os resultados tangíveis da expedição destacam-se a precisa cartografia da costa norte e nordeste da Rússia, a refutação da lenda sobre lendários habitantes do Pacífico norte, a realização de um estudo etnográfico, histórico e biológico da Sibéria e Kamchatka e a confirmação da ponte natural do Estreito de Bering.


Reconhecimento das suas expedições


Muitos acidentes geográficos da zona por si explorada têm hoje o seu nome, como o Estreito de Bering, a Ilha de Bering, o Mar de Bering e a ponte natural de Beringia. A teoria mais aceita da ocupação da América, via Estreito de Bering, foi proposta em 1590 pelo historiador e jesuíta espanhol José de Acosto (1540-1600), no livro História Natural e Moral das Índias, de 1590.


Muitos pesquisadores confirmam que foi por meio da travessia do Estreito de Bering que os primeiros seres humanos chegaram à América há dezoito mil anos, formando os povos nativos desse continente. O homem teria chegado à América através dos 85 km do Estreito de Bering, localizado entre o extremo leste do continente asiático e o extremo oeste do continente americano. Naquela época, o nível do mar era tão baixo que os dois territórios ficavam ligados por um tipo de ponte terrestre. Hoje, quase toda a região está coberta de água e não é mais possível se deslocar por ali a pé.


O povoamento do continente americano, no entanto, continua um mistério. A Cultura Clóvis, que leva o nome do sítio arqueológico no Novo México, Estados Unidos, onde foram encontrados, na década de 1920, artefatos produzidos há 11.500 anos, levou à construção do modelo Clóvis-primeiro, segundo o qual, uma única leva de indivíduos que cruzou o Estreito de Bering, teria iniciado o povoamento do continente americano.


Nos últimos anos, a teoria tem enfrentado grandes resistências, após as descobertas de povoamentos possivelmente anteriores. Um estudo publicado na revista Science, em 23 de fevereiro de 2007, descartou a teoria da Cultura Clóvis. Análises das amostras de diversos sítios Clóvis feitas nos Laboratórios Stafford, no Colorado, concluíram que datavam de 10.800 a 11.050 anos e nos 11.500 estimados na década de 1920.


A revisão leva a uma conclusão de que a Cultura Clóvis pode ter durado apenas dois séculos. Seria impossível que, em tão pouco tempo, que seus representantes tivessem se espalhado pelo continente. Os resultados da pesquisa é que registros como os de Monte Verde, no Chile, passam a anteceder aos mais antigos da Cultura Clóvis em pelo menos mil anos.



O primeiro assentamento europeu foi estabelecido em 1784 pelos russos na Baía dos Três Santos, perto da atual Kodiak. Muitos unangan foram mortos pelos recém-chegados comerciantes de peles russos, sobrecarregados na caça de focas e vários deles por doenças trazidas pelos russos.


Kodiak foi a capital do Alasca até 1806, quando a Companhia Russo-Americana mudou sua sede para Sitka, onde havia abundância de lontras marinhas. As peles de lontra marinha levadas para a Rússia abriram um rico comércio de peles entre a Europa, a Ásia e a costa norte-americana do Pacífico durante o século seguinte.


O gestor-chefe das operações da empresa, Aleksandr Baranov, era um administrador agressivo. Seu primeiro esforço para estabelecer um assentamento em Old Harbour, perto de Sitka, foi destruído pelos tlingit. A sua segunda tentativa, em 1804, em Novo-Arkhangelsk (“Novo Arcanjo”; agora Sitka), ocorreu na Batalha de Sitka, o único grande conflito armado entre nativos do Alasca e europeus.


Um período de competição acirrada entre os comerciantes de peles foi resolvido em 1824, quando a Rússia concluiu tratados separados com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha que estabeleceram fronteiras e regulamentações comerciais. A Companhia Russo-Americana continuou a governar o Alasca até a compra da região pelos Estados Unidos, em 1867.



Possessão dos Estados Unidos


A quase extinção da lontra marinha e as consequências políticas da Guerra da Crimeia (1853-56) foram fatores que contribuíram para a Rússia vender o Alasca aos Estados Unidos. O secretário de Estado dos EUA, William H. Seward, liderou a compra do território. Depois de muita oposição pública, a proposta formal de Seward de US$ 7,2 milhões foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, e a bandeira americana foi hasteada em Sitka em 18 de outubro de 1867. A compra do Alasca foi inicialmente referida como Loucura de Seward por críticos que estavam convencidos de que a terra não tinha nada a oferecer.


O Alasca foi governado por comandantes militares do Departamento de Guerra dos Estados Unidos até 1877. Uma fábrica de conservas de salmão construída em 1878 foi o início do que se tornou a maior indústria de salmão do mundo. Em 1884, o Congresso estabeleceu o Alasca como um distrito judicial, foram criados tribunais distritais federais além de um sistema escolar.


O ouro foi descoberto no rio Stikine (1861), em Juneau (1880) e em Fortymile Creek (1886). A corrida do ouro conscientizou os americanos do potencial econômico da terra anteriormente negligenciada. As grandes minas de ouro de rocha dura no Panhandle foram desenvolvidas e o cobre foi descoberto em McCarthy (1898). A dragagem de ouro no vale do rio Tanana começou em 1903 e continuou até 1967.



 A criação de um estado


Em 1946, os habitantes do Alasca votaram a favor da criação de um Estado e adotaram uma constituição em 1956. A aprovação pelo Congresso do projeto de lei sobre a criação de um Estado no Alasca (1958) foi seguida pela entrada formal na união (1959).


As descobertas de petróleo e gás natural na Península de Kenai e a perfuração offshore em Cook Inlet na década de 1950 criaram uma indústria que na década de 1970 ocupava o primeiro lugar na produção mineral do estado. No início da década de 1960, grandes fábricas de celulose foram construídas em Ketchikan e Sitka, principalmente para atender o mercado japonês. Essas usinas foram fechadas na década de 1990 devido a restrições à exploração madeireira.


Em 1969, um grupo de empresas petrolíferas pagou ao estado quase um bilhão de dólares em receitas petrolíferas, mas o gasoduto proposto através da Cordilheira oriental de Brooks, planícies interiores e cordilheiras do sul até Valdez criou controvérsias acaloradas entre a indústria, o governo e os conservacionistas.


Em 1989, o petroleiro Exxon Valdez saiu do curso em Prince William Sound, causando o derramamento de petróleo mais desastroso da história da América do Norte e infligindo enormes danos à ecologia marinha e à economia local da região. Foi realizado um enorme esforço de limpeza, mas apenas cerca de um sétimo do petróleo foi recuperado. A questão foi resolvida quando a empresa petrolífera Exxon concordou em pagar um acordo de 900 milhões de dólares aos governos federal e do Alasca.


A vida no Alaska


Viver no Alasca, apesar de todas as dificuldades, é uma experiência verdadeiramente única e incrível, diferente de qualquer outro lugar dos Estados Unidos. Esse estado vasto e acidentado oferece aos residentes uma conexão incomparável com a natureza, com paisagens deslumbrantes que vão desde imponentes cadeias de montanhas até litorais imaculados.


A edição de julho-agosto de 2019 da Alaskan History Magazine apresenta um artigo sobre Barrett Willoughby, como a primeira romancista feminina de sucesso comercial do Alasca. Suas histórias românticas, ambientadas em várias partes do país, foram publicadas em série nas revistas mais populares da época, e dois de seus livros, Rocking Moon e Spawn of the North, foram adaptados para o cinema.


A biógrafa Nancy Warren Farrell escreveu em Barrett Willoughby, Alaska’s Forgotten Lady (University of Alaska Press, 1994):


Os romances de Willoughby eram aventuras românticas. E aí existia uma das chaves para a personalidade de Willoughby e sua escrita. Se uma palavra descrevesse Barrett Willoughby como pessoa e como escritor, seria “romance”. Foi a perspectiva romântica que a incentivou, que a manteve entusiasmada com o futuro. Sua jornada na vida foi como uma viagem de navio a vapor para o norte: ‘Um vento quente e mágico do Alasca que me enche de expectativa e me faz ter certeza de que à frente – próximo à próxima curva – está algo que sempre desejei. Não sei exatamente o que é, mas é lindo; e contém juventude e vivacidade – e aquela vontade dourada e indescritível do fogo-fátuo – Romance.’”


Obras


Where the Sun Swings North (Quando o sol oscila para o Norte - 1922) - primeiro romance escrito por Florence Barrett Willoughby. Este conto de aventura é um relato ficcional da experiência da vida real da família de Barrett que ficou presa na Ilha Middleton, no Golfo do Alasca, por dez meses, de 1896 a 1897, quando a escritora tinha provavelmente dez anos. Apesar da pouca provisão, eles tinham uma intensa vontade de viver.


O enredo ficcional é centrado em duas irmãs, Jean e Ellen. Depois de dar ao marido de Ellen informações falsas sobre a presença de ouro em uma ilha deserta, o malvado e lascivo Paul Kilbuck, os abandona, não retornando com as provisões de inverno que havia prometido. Ele dá a Ellen, a quem deseja seduzir, um pombo-correio, que ela deverá soltar quando ela decidir que quer ficar com ele. Enquanto isso, seu contador bêbado, Gregg Harlan, tenta avisar a família, mas também se torna um náufrago. Graças à coleta de alimentos, todos sobrevivem ao inverno; Harlan se apaixona por Jean e ela descobre um rico veio de ouro. Kilbuck recebe a sobremesa justa.


"É tão verdadeiro para o país sobre o qual está escrito que até mesmo um nativo do Alasca pode lê-lo e apreciá-lo." - The Pathfinder, maio de 1922.


"Respira o verdadeiro espírito do Alasca. É interessante e limpo, como o grande ar livre em Northland." - Sitka Tribune, dezembro de 1922. 



Rocking Moon, o filme - 1926 - drama mudo americano dirigido por George Melford e estrelado por Lilyan Tashman e John Bowers. Lançado pela Producers Distributing Corporation. Conforme descrito em uma crítica de uma revista de cinema, Sasha Larianoff administra uma fazenda de raposas azuis em Rocking Moon Island, auxiliada por Gary Tynan. Ela espera pagar uma hipoteca do comerciante Nick Nash com as receitas da temporada. As raposas de Sasha desaparecem e Gary também. Nash, que deseja Sasha, diz a ela que Gary a enganou. No entanto, Gary foi preso por invasores da fazenda. Ele escapa e encontra uma caverna que contém as peles de raposa desaparecidas. Gary vence Nash, que acaba por ser o líder dos bandidos, em uma luta terrível e conquista o amor de Sasha.


The Trail Eater (O Comedor de Trilhas - 1929) - vagamente baseado nas aventuras de Scotty Allen, que Willoughby já havia descrito no ano anterior em Gentlemen Unafraid. Traça a tentativa agitada e bem-sucedida de Kerry Wayne para vencer o All-Alaska Sweepstakes, uma corrida de trenó puxado por cães de 400 milhas, de Nome ao Mar Ártico e vice-versa, e, aliás, o coração de Barbee Neilan, a corajosa ex-noiva de seu principal oponente.


Spawn of the North (Geração do Norte - 1932) -  refere-se tanto ao salmão quanto à primeira geração dos habitantes do Alasca. Dian Turlon, filha de um rei das conservas, voltou ao Alasca para férias nostálgicas antes de se casar com um "sulista". Depois de muitas aventuras e poucas férias, ela descobre que o Norte vigoroso é preferível ao Sul materialista e que ela tem oportunidades no Alasca de independência, aventura e realização que ela nunca poderia ter "lá fora".


Sondra O'Moore (1939) - alterna entre os dias de aventura marítima do avô de Sondra, Dynamite Danny, e o Alasca contemporâneo. Jean, um dos pretendentes de Sondra, tenta avisá-la de que o outro está ilicitamente envolvido com os imperialistas japoneses. Sondra é sequestrada, Jean a resgata e todos os protagonistas se reconciliam.


Willoughby escreve potboilers (caldeiras) do Alasca fervilhando de e aventuras em ritmo acelerado, geralmente em alto mar. Ela também celebra o Alasca - a terra, o estilo de vida, as tradições - tanto que todos os seus protagonistas ali nascidos são ferozmente leais à terra e todos os seus protagonistas externos sucumbem à atração pelo ambiente.




Mulheres destemidas


O mais interessante no seu trabalho são os retratos de mulheres quase míticas do Alasca. Todas as suas heroínas são fisicamente destemidas; elas navegam em barcos, andam a cavalo e conduzem trenós puxados por cães de maneira soberba. Elas são intensamente interessadas no trabalho, seja na pesca ou na mineração, e ocasionalmente dirigem seus próprios negócios (Rocking Moon) ou assumem o controle do pai (Spawn of the North). E sempre se casam com os homens que possuem os mesmos atributos físicos e interesses. Willoughby criou a "Filha do Alasca" ideal - independente, autossuficiente, inteligente e dedicada à sua terra natal.


Outros trabalhos


Sitka, Portal to Romance (1930).

Sitka: To Know Alaska One Must First Know Sitka (Sitka: para conhecer o Alasca é preciso primeiro conhecer Sitka - 1930).

Alaskans All (1933).

River House (1936).

Alaska Holiday (1940).

The Golden Totem (1945).

Pioneer of Alaska Skies: The Story of Ben Eielson (with E. W. Chandler, 1959).


Florence Barrett foi casada três vezes, primerio com Oliver L. Willoughby, em 1907, listada no censo de 1910, morando em Cordova. Em 19 de outubro de 1927 no condado de Coconino, AZ, ela se casou com Robert Henry Prosser. Ele contraiu meningite enquanto visitava a família na Pensilvânia e morreu em junho de 1928. Finalmente, ela se casou com Larry O'Connor em 17 de julho de 1935 em Reno NV e pediu o divórcio em 20 de julho de 1942.



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