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Uma das primeiras escritoras profissionais da Rússia

Atualizado: 14 de nov. de 2023


Анна Петровна Бунина

Uma das primeiras escritoras russas a viver exclusivamente do trabalho literário


Anna Petrovna Bunina foi uma das primeiras escritoras russas a viver exclusivamente do trabalho literário, ou seja, a primeira escritora profissional da Rússia. Poetisa e tradutora, era apelidada por seus contemporâneos de Safo Russa (em parte em razão de sua paixão pela poesia antiga, cujo estilo Bunina com frequência imitava), Décima Musa e Corina do Norte.

Para intelectuais e instrutores mundo afora, a literatura russa sempre foi uma peça central de intenso estudo e debate. Porém, o nome de Anna Petrovna raramente é listado entre os grandes nomes literários russos, não porque ela não mereça um reconhecimento elevado. O fato de ela ser parente de Ivan Bunin, ganhador do Prêmio Nobel em 1933, não ajudou muito.

No entanto, ela merece ser celebrada com a mesma aclamação de seus pares mais destacados. Disciplinada, resiliente, inteligente, prática e talentosa, Bunina finalmente prevaleceu em seu trabalho literário contra todas as probabilidades.

Em uma época em que a sociedade tinha preferência pelos dramas apaixonados da ópera e do teatro, o escapismo prolongado dos romances ou as ousadias de escritores como Lord Byron, nome influente no romantismo britânico, Bunina se destacou exercendo seu ofício por meio da poesia e da vida considerada produtiva e mansa.

As circunstâncias em que ela nasceu moldaram a sua vida adulta. Sua mãe morreu durante o parto, deixando o bebê na aldeia de Urusovo, localizada em Ryazan, distrito rural a 200 km a sudeste de Moscou. Pouco habitada, a aldeia proporcionava espaço, solidão e beleza natural para o florescimento de uma mente imaginativa como a sua.



Anna foi criada pela tia, mas morou também com outros parentes, pulando de casa em casa. Para a época, seu nível educacional na leitura, na escrita e nas quatro operações aritméticas era considerado mais que o suficiente para uma moça. Por ser menina, não podia de exercer nenhum tipo de profissão.

Embora houvesse exceções, seus cuidadores não consideravam a educação uma prioridade. Anna bordava muito bem e tecia rendas, mas se quisesse aprender idiomas estrangeiros, música ou canto, teria de mudar para as capitais. Apesar disso, ela começou a escrever poesia aos treze anos. Sua primeira obra publicada foi o fragmento em prosa Liubov (Amor), na revista Ippokrena, 1799, n. 4.


Imersão nos estudos em São Petersburgo


O pai de Anna Petrovna faleceu em 1802 e deixou como herança uma renda de 600 rublos. Não era muito, mas a livrava de morar nas casas dos outros e de ser tratada como “parente pobre”. No mesmo ano ela foi visitar o irmão, um oficial da marinha, em São Petersburgo, o grande centro cultural da Rússia. Com os recursos deixados pelo pai, ela resolveu morar na capital, em um apartamento na Ilha de Vassiliev.

Em São Petersburgo, ela estabeleceu a coisa mais próxima que uma mulher da época poderia ter de uma experiência universitária. Montou uma casa, contratou uma série de professores particulares e iniciou um regime rigoroso de estudos. Estudou física, matemática, francês, alemão, inglês e, principalmente, literatura russa. Com isso, adquiriu um estilo de escrita muito mais sofisticado.



Dívidas e primeiros poemas

Em menos de dois anos o custo de vida de São Petersburgo, consumiu a herança de Bunina. Ela foi contraindo dívidas e não conseguia pagá-las. Para ajudá-la, seu irmão a apresentou aos literatos da cidade, a quem Anna mostrou suas obras.

Seus primeiros poemas começaram a sair na imprensa em 1806. Em 1809, ela publicou sua primeira antologia poética Neopytnaia muza (Musa inexperiente). A obra obteve ótima recepção do público e foi apresentada à imperatriz Elizavieta Alekseieva que, empolgada, concedeu a Anna uma pensão anual de quatrocentos rublos.

A antologia também ganhou a aprovação dos mestres da literatura russa, incluindo Derjavin, Dmitriev, Krylov, criadores do grupo literário Conferência dos amantes da palavra russa (Беседа любителей русского слова). Em 1811, durante a conferência do grupo literário, Krylov leu em voz alta o poema heroico-cômico de Anna Bunina Padenie Faetona (Queda de Phaeton), baseado em um dos enredos da obra Metamorfoses, de Ovídio.

Esses escritores a nomearam membro honorária do grupo. Infelizmente, isso foi um gesto vazio pois, para a sociedade conservadora da época, uma mulher se apresentar em um palco público, fosse como atriz, cantora de ópera ou mesmo como apresentadora de discursos políticos, tornava-a desprendida moralmente. Ainda mais para uma mulher respeitável e que estava sendo financiada pela família real.

Em 1814, reagindo aos terríveis acontecimentos, ela ofereceu ao imperador o hino Pesn Aleksandru Velikomu (Canção de Alexandre, o Grande), Pobediteliu Napoleona i vosstanoviteliu tsarstv (Canção ao grandioso Alexandre, vitorioso sobre Napoleão e restaurador de reinos).

Estilo das suas obras

Denominada por muitos de Safo Russa, a poetisa deixou tantos poemas de meditações filosóficas e hinos em louvor aos "feitos dos maridos" mortos na Batalha de Borodino, quanto poesia lírica pessoal, íntima e carregada de sentimento.



Ela se inspirava nos poetas gregos e romanos, principalmente em Safo e Ovídio, escrevendo meditações filosóficas e hinos de louvor aos heróis mortos em campos de batalhas, como o poema em homenagem ao Capitão Rostislav Ivanovitch Zakharov.

Ela também escrevia poemas líricos pessoais, íntimos e carregados de sentimento, que levaram seu nome para a posteridade. O poeta e escritor Evgueni Evtushenko (1932 – 2017) dedicou-lhe o poema Anna Primeira (Анна Первая), em que ressalta o pioneirismo da poetisa no front feminino da literatura russa – mesmo que Anna não tenha sido, de fato, a primeira escritora russa e sim a primeira a fazer sucesso.

Anna é reconhecida por ter usado temas e estilos mais diversos e uma faixa métrica mais ampla em suas obras do que as primeiras poetisas russas. Seus poemas incluem observações originais e marcantes sobre as experiências das mulheres, especialmente seus conflitos com os homens. Isso não impediu que elementos proeminentes da sociedade literária russa da época fizessem ataques a ela e a seus escritos, limitando sua influência sobre futuros poetas.

Uma orquestrada campanha de difamação

O declínio acentuado de Bunina entre a elite literária da época, pode ser atribuído em grande parte a uma maldosa campanha de difamação conduzida por Alexander Pushkin e pela conservadora Sociedade Arzamas. Embora os romances e peças de Pushkin sejam marcos notáveis ​​da literatura russa, como pessoa, ele foi desprezível ao zombar cruelmente de Bunina em correspondências a amigos.

A crítica minuciosa ao conjunto das obras de Bunina, considerada por ele como trivial e muito simples, levou à queda em desgraça da poetisa. O estilo, que ela trabalhara tanto para desenvolver, não estava mais na moda.

Previsivelmente, Anna também foi ridicularizada por nunca ter se casado. A dedicação aos estudos havia sido seu grande amor e seu motivo para enfrentar a vida com tanta força. Egoístas e misóginos, esses homens não entendiam – ou não queriam entender – as provações de mulheres que desejavam viver e se realizar como eles.



Carreira e Principais Publicações

Em 1808, Anna fez uma tradução abreviada de As Regras da poesia de Charles Batteux e uma tradução em versos da primeira parte de Arte Poética de Nicolas Boileau (1808-1809; concluída em 1821). Em 1812, ela publicou o segundo volume da sua antologia poética Neopytnaia muza (Musa inexperiente).

Em 1819, ela já tinha estabelecido uma reputação como escritora séria e reverenciada. Com seu charme inteligente, astúcia forte, rimas elegantes e temas feministas, despertou o interesse da culta imperatriz viúva Maria Fedorovna, que providenciou para que Bunina recebesse uma pensão pequena, mas muito necessária.

Isso, para Anna, foi uma dádiva de Deus pois a maior parte de sua herança havia sido drenada para pagar os salários de seus tutores e suas próprias despesas. Um estilo de vida quase boêmio na movimentada metrópole de São Petersburgo não saiu barato, mesmo com o orçamento cuidadoso e gostos simples de Bunina.

Enquanto isso, Anna se socializava com o fascinante círculo literário do almirante e escritor Alexander Shishkov, seu patrono e apoiador, e o colega poeta Gavrila Derzhavin.

Obras literárias

Traduções do francês

Regras da poesia – de Charles Batteux.

Arte poética – de Nicolas Boileau.

Poemas e prosa

Poemas safísticos

Imitação da poetisa de Lesbos

Noites rurais

Canção a Aleksandr

O grande, vitorioso sobre Napoleão e restaurador de reinos

Câncer, pensão vitalícia e período de sofrimento

Em 1815, ela descobriu que tinha câncer de mama. Os melhores médicos a trataram. O imperador pessoalmente acompanhava o seu estado. Foi decidido que a levariam à Inglaterra, famosa, pela competência dos seus médicos. Infelizmente, os tratamentos experimentais não trouxeram muito alívio. Ela permaneceu na Inglaterra até 1817. Quando voltou à Rússia, concederam-lhe uma pensão vitalícia.



Anna passou os últimos cinco anos de sua vida entre Moscou e a vila de Ryajsk. Nesse período, até deitar era desconfortável para ela. Portanto, ela passava a maior parte do tempo de joelhos. Dizem que ela leu muito a Bíblia em suas últimas semanas. Um de seus últimos poemas, To the Loved Ones (К ближным), fala sobre esse período de sofrimento.


Segundo o testemunho de contemporâneos, suas cartas (que não foram preservadas) lembravam as Cartas de um viajante russo de Nikolai Karamzin, pela profundidade e nitidez das observações e pelo tom sentimental geral.


Anna Petrovna Bunina morreu em 16 de dezembro de 1829, e foi enterrada na aldeia de Urusovo, localizada em Ryazan. Um monumento foi erguido sobre seu túmulo por seu afilhado, neto de sua irmã Maria, o viajante Pyotr Petrovitch Semyonov-Tian-Shansky e sua sobrinha Nadezhda Ivanovna Bunina.


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