Todo mundo sabe o que é pobreza e riqueza, sem necessariamente ser pobre ou rico. Quem nasceu pobre e se tornou rico pode dizer que venceu na vida, o que necessariamente não quer dizer que se tornou mais feliz. Já o que nasceu rico, mas acabou empobrecido fez o caminho contrário, o que não quer dizer necessariamente que se tornou mais infeliz. A frase "dinheiro não traz felicidade" se for dita por um pobre, pode significar a sua desistência na busca pela riqueza; já se for dita por um rico pode mostrar que, apesar de todo luxo, sua vida tem valido pouco.
O início da riqueza humana começou com a Revolução Neolítica, quando a agricultura gerou desigualdades. Civilizações antigas, como Mesopotâmia e Egito, consolidaram essa concentração nas mãos de uma elite. A Revolução Industrial ampliou as desigualdades e criou grandes oportunidades para empresários, mas também aumentou a pobreza entre os trabalhadores ao consolidar um modelo econômico desigual que perdura até hoje. Vejamos então alguns exemplos de como grandes autores trataram esses dois temas na literatura.
Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus
Quarto de Despejo é um diário cru e verdadeiro sobre a vida na favela Canindé, em São Paulo. Com escrita direta e chocante, Carolina Maria de Jesus descreve sua rotina como catadora de papel e conta em detalhes a fome, o preconceito e as lutas diárias para sustentar seus filhos. Publicado em 1960, o livro expõe as dificuldades enfrentadas por pessoas marginalizadas. Sua narrativa revela as cicatrizes da pobreza e a superação de quem sobrevive mesmo excluído da sociedade. Carolina mostra a desigualdade brasileira com uma única e corajosa voz.
O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald
O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, é uma crítica influente ao sonho americano e à superficialidade da sociedade dos anos 1920, nos Estados Unidos. A história é narrada por Nick Carraway, que se muda para Long Island e se torna vizinho do misterioso Jay Gatsby, um milionário envolvido em festas extravagantes e obcecado por reconquistar Daisy Buchanan, seu amor do passado. Por meio de Gatsby, Fitzgerald apresenta temas como ambição, materialismo e ilusão. O romance revela as desilusões ocultas sob o glamour e a riqueza e mostra o vazio emocional e as falhas da busca incessante por sucesso e reconhecimento.
Os Miseráveis - Victor Hugo
Os Miseráveis, de Victor Hugo, é uma das obras mais emblemáticas da literatura mundial, tem como temas justiça, amor, redenção e desigualdade. Situado na França do século XIX, o romance acompanha Jean Valjean, ex-prisioneiro que busca reconstruir sua vida, mas enfrenta o implacável inspetor Javert. Ao longo da narrativa, Hugo retrata a miséria da época, a opressão dos pobres e o sofrimento humano. Cria personagens profundos que refletem a condição humana e as complexidades da moralidade. Os Miseráveis é um retrato épico das lutas sociais e um apelo por compaixão e justiça.
A Fogueira das Vaidades - Tom Wolfe
Sátira mordaz sobre a sociedade estadunidense dos anos 1980, A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, aborda temas como ganância, status social e a busca insaciável pelo poder. O romance segue Sherman McCoy, um ambicioso corretor de Wall Street, cuja vida vira de cabeça para baixo após um acidente de carro em Nova York, envolvendo dois jovens negros. A partir daí, McCoy se vê imerso em um turbilhão de escândalos, manipulações da mídia e interesses políticos. Wolfe critica a arrogância da classe alta e expõe a fragilidade das aparências. É um retrato ácido do excesso e da corrupção da era Reagan.
Fome - Knut Hamsun
Fome, de Knut Hamsun, é um romance psicológico e intenso que acompanha a jornada de um jovem escritor sem nome, lutando para sobreviver nas ruas de Kristiania (atual Oslo), na Noruega. Publicado em 1890, o livro narra as provações do protagonista ao enfrentar a fome extrema, o frio e a alienação social, enquanto tenta manter sua dignidade e sanidade. A fome, na mente humana, revela pensamentos fragmentados e delírios causados pela miséria. Com uma linguagem introspectiva e inovadora para sua época, Fome é uma obra-prima sobre a vulnerabilidade humana e a busca de identidade. Não à toa, premiada com o Nobel de 1920.
Os Buddenbrook - Thomas Mann
Os Buddenbrook, de Thomas Mann, é um romance que narra a decadência de uma família burguesa alemã ao longo de quatro gerações. Ambientado no século XIX, o livro retrata a história dos Buddenbrook, uma respeitável família de comerciantes que enfrenta a perda de sua fortuna e prestígio. Com personagens intensos e complexos, Mann realça os conflitos entre tradição e mudança, materialismo e espiritualidade. A trama destaca a fragilidade da ambição humana e os sacrifícios pessoais em prol do status. Com uma escrita detalhada e profunda, Thomas Mann desvela a efemeridade do sucesso e as transformações da sociedade burguesa.
As Vinhas da Ira - John Steinbeck
As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, é um romance épico sobre a sobrevivência, a luta social e a dignidade humana durante a Grande Depressão dos Estados Unidos nos anos 1930. A obra segue a jornada da família Joad, agricultores pobres que são forçados a deixar suas terras em Oklahoma e migrar para a Califórnia em busca de uma vida melhor. Enfrentando exploração, fome e preconceito, eles se deparam com as duras realidades do sistema econômico. A narrativa de Steinbeck é profundamente humanista ao destacar a resistência e a solidariedade dos trabalhadores oprimidos.
Guerra e Paz – Liev Tolstói
Guerra e Paz, de Liev Tolstói, é a obra monumental que narra a vida na Rússia durante as Guerras Napoleônicas. Entrelaçando histórias de amor, batalhas e conflitos internos, Tolstói escreve a trajetória de personagens como Pierre, Andrei e Natasha, que enfrentam dilemas morais, buscas espirituais e as complexidades da guerra. O romance não só retrata a sociedade russa com profundidade psicológica, mas também questiona o papel da história e do destino nas vidas individuais. Com sua análise sobre a transitoriedade da vida e a essência humana, Guerra e Paz é um marco da literatura universal e da compreensão da natureza humana.
Germinal - Émile Zola
Germinal, de Émile Zola, é um romance marcante sobre a exploração dos trabalhadores e a luta de classes nas minas de carvão no norte da França do século XIX. Étienne Lantier, um jovem desempregado que se junta aos mineradores e testemunha suas condições desumanas de trabalho. Em meio a salários baixos, fome e perigos constantes, os mineiros organizam uma greve para reivindicar melhores condições. Zola retrata com realismo brutal a miséria e a força dos trabalhadores, fazendo de Germinal um apelo poderoso contra as injustiças sociais e um marco na literatura naturalista.
A Cartuxa de Parma - Stendhal
A Cartuxa de Parma, de Stendhal, é um romance que mistura elementos de história, filosofia e romance psicológico. Fabrizio del Dongo, um jovem aristocrata italiano, se envolve com as lutas políticas e as intrigas da época napoleônica. Após um incidente durante uma batalha, ele se refugia em um mosteiro, onde busca uma vida de introspecção e reflexão. Estão presente no romance temas como a busca por liberdade pessoal, o dilema entre o dever e os desejos pessoais, e a tensão entre as expectativas da sociedade e as ambições individuais. Stendhal, com seu estilo irônico e detalhado, critica as convenções sociais e apresenta um estudo complexo sobre o caráter humano e suas escolhas.
Oliver Twist - Charles Dickens
Oliver Twist, de Charles Dickens, é um clássico da literatura que expõe a realidade sombria das classes baixas na Inglaterra vitoriana. O romance conta a história de Oliver, um órfão que enfrenta fome, abusos e exploração desde a infância. Após fugir do orfanato, ele se depara com uma rede de criminosos liderada pelo sinistro Fagin. Oliver representa a inocência que resiste à corrupção. Com isso, Dickens critica duramente as condições das crianças pobres e a indiferença da sociedade. Obra atemporal sobre injustiça e esperança, o livro combina crítica social e narrativa emocionante.
Orgulho e Preconceito - Jane Austen
Um dos romances mais celebrados da literatura inglesa, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, lida com as questões de classe social, casamento e caráter. Inicialmente, a jovem inteligente e independente, Elizabeth Bennet considera Mr. Darcy orgulhoso, mas encantador. Ela despreza Darcy por sua aparente arrogância e classe social elevada, mas, ao longo da trama, descobre que suas primeiras impressões estavam erradas. A obra é uma crítica sutil às normas sociais da época e um estudo sobre a importância do autoconhecimento, do orgulho e do preconceito nas relações humanas.
Vidas Secas - Graciliano Ramos
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é um retrato profundo e comovente sobre a vida de uma família sertaneja em meio à seca e pobreza do Nordeste brasileiro. Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, os filhos e a cachorra Baleia lutam pela sobrevivência em um cenário hostil, marcado pela miséria. O autor utiliza uma linguagem seca e direta que reflete o próprio ambiente árido do sertão. Em suas páginas, a luta pela dignidade, a brutalidade social e o silêncio dos que sofrem estão sempre presentes. Vidas Secas é um clássico da literatura brasileira e um estudo sensível sobre a resistência humana.
A Ilustre Casa de Ramires – Eça de Queirós
A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós, é um romance que narra a história de uma nobre mas decadente família portuguesa e o declínio de uma tradição. O protagonista, Pedro Ramires, um homem que busca restaurar a honra da família, representa o peso da história e das escolhas do passado. A obra mistura elementos de realismo e modernismo, com uma escrita densa e poética. Retrata temas como o amor, a memória, o destino e a luta contra as limitações da sociedade. O autor critica a nobreza, a ilusão de prestígio e a fragilidade das estruturas sociais, um retrato íntimo e melancólico da vida portuguesa֍
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