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Ideias contrárias ao islamismo na Somália

Atualizado: 14 de nov. de 2023



Pontos de vista elogiáveis, mas perigosos


Ayaan Hirsi Ali é ex-muçulmana, ativista, escritora e política. Nasceu em 1969, na Somália, mas tem nacionalidades holandesa e americana. Ayaan é bastante conhecida por sua afirmação de que o Islã é fundamentalmente incompatível com os valores democráticos ocidentais, especialmente aqueles que defendem os direitos das mulheres.


Seu pai, Hirsi Magan Isse, era um membro proeminente da Frente Democrática de Salvação da Somália e uma figura de liderança na Revolução Somali. Assim que ela nasceu, ele foi preso por causa da sua oposição ao governo de Siad Barre, presidente da Somália de 1969 a 1971.


Mutilação genital feminina (MGF)


Apesar de seu pai se opor à mutilação genital feminina, sua avó aproveitou que ele estava preso e mandou um homem realizar o procedimento na neta de cinco anos. De acordo com Hirsi Ali, ela teve a sorte de sua avó não conseguir encontrar uma mulher para fazer o procedimento, pois a mutilação era "muito mais leve" quando realizada por homens. A escritora egípcia Nawal El Saadawi também sofreu essa horrível mutilação com apenas seis anos de idade. Isso foi o que primeiro despertou nela o senso de violência e injustiça presente na sociedade egípcia e muçulmana.

Hirsi Ali propôs, no parlamento holandês, que exames médicos anuais obrigatórios fossem feitos em todas as meninas não circuncidadas que viviam na Holanda e que vieram de países onde a MGF é praticada. Se um médico descobrisse que uma menina holandesa havia sido mutilada, seria necessário um relatório à polícia – com a proteção da criança prevalecendo sobre a privacidade.


Em 2004, ela também criticou a circuncisão masculina , particularmente a praticada por judeus e muçulmanos, que ela considerava ser outra variante de mutilação praticada sem o consentimento do indivíduo.



Educação religiosa nos moldes da Arábia Saudita

Como a Arábia Saudita era responsável pelo financiamento da educação religiosa em vários países, o fundamentalismo religioso influenciava uma grande quantidade de muçulmanos no mundo. Um carismático professor religioso, formado sob essa égide, ingressou na escola onde a adolescente Hirsi Ali estudava. Égide significa proteção, amparo, defesa. Se um ato foi praticado sob a égide de alguém, quer dizer que ele foi realizado sob a proteção e com total apoio.


Inspirados por esse professor, Hirsi Ali e alguns de seus colegas adotaram as interpretações mais rigorosas da Arábia Saudita e do Islã, em oposição às versões mais brandas na Somália e no Quênia. Naquela época, ela simpatizava com os pontos de vista da Irmandade Muçulmana Islâmica e usava um hijab com seu uniforme escolar.


Pior que isso, em 1989, ela concordou com a fatwa, com a sentença de morte emitida pelo Aiatolá Khomeini, ex-líder religioso do Irã, contra o escritor indiano britânico Salman Rushdie como reação ao retrato do profeta islâmico Maomé no livro Os Versos Satânicos. Rushdie viveu durante 13 anos na clandestinidade e sob proteção policial.


Críticas ao Islã e aos muçulmanos


Hirsi Ali critica o tratamento dado às mulheres nas sociedades islâmicas e as punições por homossexualidade, blasfêmia e adultério. Em seu diário consta que ela foi muçulmana até 28 de maio de 2002.

A partir daí, abandonou o islamismo e reconheceu sua descrença em Deus. A leitura do Manifesto ateísta do filósofo da Universidade de Leiden, Herman Philipse, ajudou a convencê-la a desistir da religião.


Ela ficou chocada com os ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, comandados pela Al-Qaeda. Depois de ouvir as fitas de vídeo de Osama bin Laden citando "palavras de justificação", ela passou a considerar o Alcorão como apenas mais um livro.


Começou, então, a formular sua crítica ao Islã e à cultura islâmica, em artigos publicados sobre esses tópicos, em programas de notícias de televisão e em fóruns de debate público. No seu livro De zoontjesfabriek (A Fábrica do Filho), de 2002, ela discute suas ideias contrárias ao islamismo. Daí em diante, começou a receber ameaças de morte.

A morte do cineasta Theo van Gogh

Em 2004, ela trabalhou com o cineasta Theo van Gogh para criar Submission, um curta-metragem chocante e incendiário que retratava a opressão das mulheres sob a lei islâmica fundamentalista e criticava o próprio cânone islâmico. Hirsi Ali escreveu o roteiro e participou da dublagem. Justapostas com passagens do Alcorão, havia cenas de atrizes retratando mulheres muçulmanas sofrendo abusos. Uma atriz aparentemente nua vestida com uma burca semitransparente foi mostrada com textos do Alcorão escritos em sua pele.


O lançamento do filme provocou indignação entre muitos muçulmanos holandeses. Principalmente em Mohammed Bouyeri, um islamista marroquino holandês de 26 anos e membro da organização terrorista muçulmana Hofstad Group. Bouyeri assassinou Van Gogh em uma rua de Amsterdã, em 2 de novembro de 2004. Baleado e esfaqueado, o cineasta já estava morto quando o assassino cortou sua garganta com uma grande faca e tentou decapitá-lo. Uma carta, presa ao corpo de Van Gogh pedia a morte de Hirsi Ali.


O serviço secreto holandês imediatamente elevou o nível de segurança que fornecia a ela. O assassino foi condenado à prisão perpétua, sem liberdade condicional. Apesar de lamentar a morte de Van Gogh, ela disse que estava orgulhosa do trabalho deles.


Em janeiro de 2003, Hirsi Ali disse ao jornal holandês Trouw: Maomé é visto pelos nossos padrões ocidentais, um pervertido e um tirano, pois se casou, aos 53 anos, com Aisha, que tinha seis anos na época em que casamento foi consumado. Mais tarde, ela disse: "Talvez eu devesse ter dito um pedófilo. Muçulmanos entraram com um processo de discriminação religiosa contra ela naquele ano. O tribunal civil de Haia absolveu Hirsi Ali de todas as acusações, mas disse que ela "poderia ter feito uma escolha melhor de palavras".



Serviços de proteção holandeses

Auxiliada pelos serviços de segurança do governo, Hirsi Ali foi transferida para vários locais na Holanda. Eles também custearam sua estadia nos Estados Unidos por vários meses. Em 2007, foi criada a Fundação para a Liberdade de Expressão, um grupo privado, para ajudar a financiar a proteção de Ayaan Hirsi Ali e de outros dissidentes muçulmanos.


Em março de 2006 ela co-assinou uma carta intitulada MANIFESTO: Juntos enfrentando o novo totalitarismo. ​​Entre os onze outros signatários estava Salman Rushdie - justamente contra quem a adolescente muçulmana havia apoiado a fatwa. A carta foi publicada em resposta aos protestos no mundo islâmico em torno da controvérsia dos cartuns Jyllands-Posten Muhammad ou crise dos cartuns de Muhammad, na Dinamarca.


Desavenças com o feminismo ocidental


Hirsi Ali criticou as feministas ocidentais por elas evitarem a questão da subjugação das mulheres no mundo muçulmano e destacou Germaine Greer, acadêmica e escritora australiana, reconhecida internacionalmente como uma das mais importantes feministas do século XX, por argumentar que a MGF precisa ser considerada uma "identidade cultural" que as mulheres ocidentais não entendem.


Carreira política na Holanda


Em 1992, ela se casou – contra sua vontade – com um primo distante. Enquanto estava a caminho para se juntar a ele no Canadá, ela fugiu para a Holanda, na tentativa de escapar do casamento arranjado. Uma vez lá, ela pediu asilo político e obteve uma autorização de residência no prazo de três ou quatro semanas após a sua chegada. Durante o processo, ela mudou seu nome de Ayaan Hirsi Ali para Ayaan Hirsi Magane, sobrenome inicial do avô paterno.


Na Holanda, Hirsi Ali estudou ciência política na Universidade Estadual de Leiden e se formou em mestrado no ano 2000. Depois de formada, ela tornou-se membro do Wiardi Beckman Stichting (WBS), um think tank do PvdA - Partij van de Arbeid (Partido Trabalhista de centro-esquerda). Think tank é um grupo de especialistas reunidos, geralmente por um governo, para desenvolver ideias sobre um determinado assunto e fazer sugestões de ação.


Ayaan também trabalhou para o PvdA - Partij van de Arbeid (Partido Trabalhista de centro-esquerda) como pesquisadora sobre questões de imigração. Enquanto estava no partido, ela desenvolveu uma reputação de crítica afiada tanto do Islã quanto das políticas do governo holandês em relação à imigração e à integração de imigrantes na sociedade holandesa, especialmente muçulmanos.


Afirmou que as leis holandesas eram excessivamente flexíveis com os imigrantes, permitindo a formação de enclaves muçulmanos “atrasados”, cujas práticas representavam uma ameaça à estabilidade do país.


Em 2006, como deputada, Hirsi Ali apoiou a decisão dos tribunais holandeses de revogar o subsídio partidário a um partido político cristão protestante conservador, o Partido Político Reformado (SGP), que não concedia plenos direitos de filiação às mulheres e retinha direitos de voto passivo de mulheres membros. Hirsi considerava que qualquer partido político que discriminasse mulheres ou homossexuais deveria ser privado de financiamento.


Fim da carreira política e promoção do seu primeiro livro

Hirsi Ali deixou o parlamento em 2006 após um anúncio do ministro da imigração de que sua cidadania holandesa era ilegítima por conta de declarações falsas que ela havia feito em seus pedidos de asilo e cidadania.


Ela recebeu a informação do ministro holandês da Justiça, Hirsch Ballin, de que, a partir de 1º de outubro de 2007, o governo holandês não pagaria mais por sua segurança no exterior. Enquanto o debate sobre sua situação se acirrava na Holanda, ela viajou para os Estados Unidos em 2006 para promover seu primeiro livro, The Caged Virgin (A Virgem Enjaulada), publicado originalmente em holandês, em 2004. O livro é uma crítica ao fracasso dos países ocidentais em reconhecer e agir sobre a opressão das mulheres nas sociedades muçulmanas.



Mudança para os Estados Unidos


Em 17 de abril de 2007, a comunidade muçulmana de Johnstown, Pensilvânia, protestou contra a sua palestra programada para o campus local da Universidade de Pittsburgh. O imã de Pittsburgh, Fouad El Bayly, teria dito que a ativista merecia a sentença de morte, mas deveria ser julgada em um país islâmico.


Em 25 de setembro de 2007, Hirsi Ali recebeu seu cartão de residente permanente dos Estados Unidos (green card). Em Washington, ela foi recebida como membro residente pelo AEI - American Enterprise Institute para Pesquisa de Políticas Públicas, um think tank conservador.


Em 2011, Hirsi Ali casou-se com o historiador britânico Niall Ferguson e migrou para os Estados Unidos, após as controvérsias sobre a sua cidadania holandesa. Em 2013, ela se tornou cidadã americana.


Obras literárias de Ayaan Hirsi Ali


Cinco anos depois de sua chegada aos Estados Unidos, ela publicou dois livros, Herege: Por que o Islã precisa de uma reforma agora (2015) e Prey: Immigration, Islam, and the Erosion of Women’s Rights (2021). Esses livros abordam essas questões por meio de relatos pungentes dos abusos e adversidades que ela experimentou como muçulmana somali, apóstata e crítica internacionalmente proeminente do Islã. Como seus livros anteriores, Infidel (2007) e Nomad (2010), eles se tornaram best-sellers.


Prêmios e críticas desfavoráveis


Em 2005, Hirsi Ali foi nomeada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ela também recebeu vários prêmios, incluindo um prêmio de liberdade de expressão do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, o Prêmio de Democracia do Partido Liberal Sueco, e o Prêmio Coragem Moral por compromisso com a resolução de conflitos, ética, e cidadania mundial. Em 2007, ela criou a Fundação Ayaan Hirsi Ali (AHA), com sede na Filadélfia, para ajudar a proteger as mulheres no Ocidente contra o islamismo militante.



Em janeiro de 2006, ela foi reconhecida como Europeia do Ano pela revista americana Reader's Digest. Em seu discurso, ela pediu ações para impedir que o Irã desenvolva armas nucleares . Disse também que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad deveria aceitar sua palavra ao querer organizar uma conferência para investigar evidências objetivas do Holocausto. Antes de ir para a Europa, ela declarou que nunca tinha ouvido falar do Holocausto. Esse é o caso de milhões de pessoas no Oriente Médio. Tal conferência deveria ser capaz de convencer muitas pessoas a não negarem o genocídio contra os judeus.


Seus críticos a acusam de ter construído sua carreira política na islamofobia e questionam suas credenciais acadêmicas "para falar com autoridade sobre o Islã e o mundo árabe". Suas obras foram acusadas por eles de usar o neo-orientalismo e de ser uma encenação do discurso colonial da "missão civilizadora".

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