Utopia representa uma sociedade perfeita e harmoniosa, enquanto distopia descreve uma sociedade imaginária marcada por sofrimento, opressão e injustiça. O Conto da Aia, de Margaret Atwood, publicado em 1985, é um romance distópico ambientado na República de Gilead, um regime teocrático e totalitário nos antigos Estados Unidos. Nesse regime, não há jornais, livros, filmes ou universidades, e cidadãos considerados criminosos são executados publicamente. A simples menção de palavras proibidas como "liberdade" pode levar à condenação. Quem for pego lendo, perde um dedo da mão; reincidentes perdem a mão inteira.
A estrutura de poder em Gilead é hierárquica e teocrática, com um Comandante-em-Chefe ditatorial, apoiado por forças de segurança chamadas "Os Olhos". As mulheres são completamente oprimidas e sem direitos, divididas em categorias com funções específicas. O regime controla rigidamente a reprodução, atribuindo a fertilidade apenas às Aias. Gilead justifica sua repressão religiosa e sexual como uma "purificação" moral, usando uma interpretação distorcida da religião para manter o controle social.
Offred, a protagonista, é uma Aia cuja única função é procriar. Seu destino, embora vigiado e sem direitos, é melhor que o das "não-mulheres" – aquelas que não podem ter filhos, homossexuais, viúvas e feministas – condenadas a trabalhos forçados em áreas radioativas.
A premiada série O Conto da Aia
A série O Conto da Aia (The Handmaid's Tale), lançada em 2017 e baseada no romance de Margaret Atwood, retrata um futuro distópico na República de Gilead, que substitui os Estados Unidos. Governada por uma teocracia totalitária, Gilead impõe regras draconianas, especialmente contra as mulheres, tratadas como propriedade do Estado e divididas em classes.
Offred (June Osborne), na brilhante interpretação de Elisabeth Moss, é uma mulher separada de sua família e forçada a se tornar uma Aia, destinada a procriar para a elite governante, incluindo o Comandante Fred Waterford. Sob constante vigilância da Tia Lydia, Offred enfrenta rituais mensais de estupro na "Cerimônia" para conceber.
Em meio às brutalidades de Gilead, ela busca reencontrar sua filha, Hannah, e seu marido, Luke, dado como morto. Offred forma alianças com outras Aias, como Moira e Janine, e descobre aliados inesperados, como Nick, o motorista do Comandante.
A tensão entre Offred e Serena Joy, esposa do Comandante, revela as complexidades dentro da elite de Gilead. Offred também descobre uma resistência clandestina chamada "Mayday" e, ao final da temporada, fica grávida e é resgatada por agentes de Mayday, deixando o destino dela em suspense.
Elenco da série O Conto da Aia
Tudo começou com Utopia, de Thomas More
Publicado em 1516, Utopia, do escritor e filósofo britânico Thomas More, mistura ficção e filosofia para criticar a sociedade europeia da época. Usando o relato de Raphael Hythloday, More descreve a ilha fictícia de Utopia, onde a propriedade privada não existe e a riqueza é compartilhada igualmente. A sociedade utopiana valoriza a educação, a tolerância religiosa e a justiça social, contrastando com o cenário opressivo de O Conto da Aia.
Thomas More usa essa narrativa idealizada para questionar a corrupção, a injustiça e a desigualdade na Europa, provocando reflexão sobre como melhorar a sociedade real. Ele criticou as condições sociais, econômicas e políticas da Europa, expondo injustiças como desigualdade social, corrupção e ganância. Ao descrever uma sociedade ideal, More sugere alternativas de organização social e política, propondo ideias inovadoras sobre propriedade coletiva, justiça social, educação e trabalho.
Utopia é um exercício filosófico que investiga a justiça, a felicidade e a boa governança, convidando os leitores a refletirem sobre o que constitui uma sociedade justa. Utilizando ironia e sátira, Thomas More provocou seus leitores a questionarem suas próprias crenças, sugerindo uma crítica à busca de um ideal inatingível e estimulando o debate sobre melhorias sociais e valores humanistas.
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932, é uma distopia que retrata um futuro onde a humanidade vive sob controle tecnológico e psicológico. A sociedade é organizada em castas, com indivíduos condicionados desde o nascimento para funções específicas. A estabilidade é mantida por manipulação genética, condicionamento psicológico e a droga soma, que suprime emoções pessoais.
Bernard Marx questiona essa ordem após conhecer John, o Selvagem, que valoriza liberdade e individualidade. John expõe as falhas da sociedade, causando conflitos culturais e filosóficos. Huxley critica o consumismo, a perda da individualidade e o avanço tecnológico desenfreado.
1984, a angustiante distopia de George Orwell
O livro 1984, de George Orwell, publicado em 1949, retrata um futuro totalitário na superpotência Oceania, governada pelo Partido e seu líder, Big Brother. O rosto do Grande Irmão simboliza o poder absoluto, com o slogan "O Grande Irmão está de olho em você". Telas bidirecionais monitoram e transmitem propaganda oficial. O Partido incentiva a espionagem e denúncias, inclusive de crianças contra os próprios pais.
O Ministério da Verdade reescreve a história e controla informações, enquanto a "Novilíngua" limita o pensamento crítico. Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade, questiona o regime e busca a resistência, envolvendo-se em um romance proibido com Julia.
Filmes baseados em 1984, de George Orwell
Existem duas adaptações cinematográficas baseadas no livro. A primeira, lançada em1956 e a segunda, lançada em 1984, dirigida por Michael Radford e estrelada por John Hurt (Winston Smith), Richard Burton (O'Brien) e Suzanna Hamilton (Julia), adapta fielmente o romance distópico de George Orwell. A história se passa na fictícia Oceania, onde o totalitarismo domina sob o controle do Big Brother. O Estado exerce vigilância constante, propaganda e repressão brutal. Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade alterando registros históricos, começa a questionar a autoridade e busca a verdade.
Winston inicia um romance proibido com Julia, uma colega que também odeia o regime. Eles tentam encontrar liberdade, mas são traídos e capturados pela Polícia do Pensamento. Sob tortura de O'Brien, Winston é forçado a amar o Big Brother, perdendo sua identidade e liberdade de pensamento. O filme se destaca pela cinematografia sombria e atuações poderosas, especialmente de Hurt e Burton. Embora possa parecer lento para alguns, oferece uma representação forte dos perigos do totalitarismo e da erosão das liberdades individuais, instigando reflexão sobre liberdade e resistência.
Conexões entre O Conto da Aia, 1984 e Admirável Mundo Novo
Paralelos são traçados com 1984, de George Orwell, ambos explorando o controle totalitário do governo sobre os cidadãos. Os protagonistas lutam para preservar suas identidades e liberdades contra a vigilância, propaganda e reescrita da história. O Conto da Aia e 1984 contrastam em ideologia, narrativa e objetivos dos regimes. Enquanto 1984 usa uma ditadura socialista com foco na doutrinação ideológica, O Conto da Aia concentra-se em uma teocracia que usa uma interpretação extremista da religião para justificar o poder.
Objetivos dos regimes de O Conto da Aia, Admirável Mundo Novo e 1984
Os regimes em 1984 e na Teocracia de Gilead têm objetivos diferentes: o Partido e Big Brother buscam controle total sobre corpo e mente, enquanto Gilead controla reprodução e moralidade. Ambos são clássicos distópicos que criticam vigilância, autoritarismo, questões de gênero e poder. Admirável Mundo Novo sacrifica liberdade e individualidade pela estabilidade. Utopia, de Thomas More, busca justiça e bem comum. Essas obras refletem sobre a perda da individualidade e liberdade, instigando reflexões sobre sociedade e a natureza humana.
Qual dessas obras está mais próxima do mundo atual?
Admirável Mundo Novo é considerado particularmente mais próximo à realidade contemporânea, com sua visão sobre tecnologia e consumo. As adaptações televisivas mantêm a relevância desses debates sobre direitos humanos e igualdade de gênero, fornecendo insights sobre questões sociais e políticas.
Cérebros e corações por trás das obras utópicas e distópicas
Thomas More, nascido em 1478 em Londres, foi um influente pensador, político e humanista do Renascimento inglês. Graduado em Direito pela Universidade de Oxford, destacou-se como advogado e político, servindo como conselheiro de Henrique VIII. Autor de A História de Ricardo III (1513), foi Lord Chanceler da Inglaterra de 1529 a 1532. More recusou-se a reconhecer Henrique VIII como líder supremo da Igreja da Inglaterra, o que levou à sua execução em 1535. Canonizado pela Igreja Católica em 1935.
Margaret Atwood, nascida em 1939 em Ottawa, é uma renomada escritora canadense, formada em Artes pela Universidade de Toronto e com mestrado em Literatura Inglesa pela Radcliffe College. Reconhecida por sua versatilidade literária, seus romances exploram temas como gênero, identidade, opressão e poder. Obras notáveis incluem
Alias Grace (1996), The Blind Assassin (2000), Oryx and Crake (2003) e The Testaments (2019).
George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 1903 na Índia Britânica. Após estudar no Eton College, serviu na Polícia Imperial Indiana antes de se tornar escritor. Conhecido por obras como 1984 e A Revolução dos Bichos (1945), suas escritas são marcadas pela crítica social e defesa da liberdade individual.
Aldous Huxley, nascido em 1894 na Inglaterra, estudou literatura em Oxford. Autor de obras como O Céu e o Inferno (1956) e A Filosofia Perene (1945), Huxley também foi um influente crítico social, explorando distopias e temas filosóficos em sua vasta obra literária.
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