Witold Pilecki: O Herói Desconhecido que Enfrentou Auschwitz
- Paulo Pereira de Araujo

- 24 de nov.
- 3 min de leitura

O Voluntário de Auschwitz que o Mundo Demorou a Reconhecer
Há quem diga que coragem é agir apesar do medo. Eu, aos setenta anos bem vividos (e um pouco amassados), digo que coragem também é uma teimosia infinita, uma recusa quase infantil de aceitar que o mundo é esse lugar meio torto. Witold Pilecki era exatamente esse tipo de teimoso. Daqueles que a Senhora Soledá olha com respeito. E olha que ela é difícil de se impressionar.
A história dele começa como a de tantos outros poloneses esmagados pelo nazismo, mas logo desvia pra um território em que só entra quem tem nervos de aço ou uma fé absoluta no dever. Pilecki, veja só, se ofereceu pra ser preso e mandado pra Auschwitz.
Enquanto eu aqui reclamo quando o Botox me acorda às cinco da manhã pra passear, o sujeito decidiu entrar voluntariamente no pior lugar da Terra. Sempre me pergunto: que espécie de ser humano faz isso? A resposta é simples: um ser humano raro.
No meio daquele horror que nem os pesadelos mais sombrios conseguem reproduzir, ele resolveu trabalhar. Não descansar, não enlouquecer, não desistir: trabalhar.
Ele fundou a Związek Organizacji Wojskowej (ZOW), a União de Organizações Militares. Esta rede de resistência, formada por prisioneiros, tinha três objetivos principais: manter o moral, distribuir alimentos e roupas roubados, e, crucialmente, coletar informações detalhadas sobre as atrocidades alemãs.
Com a ZOW, ele cuidou dos outros como pôde, distribuiu pequenas esperanças e grandes riscos. E, principalmente, escreveu. Escreveu como quem sabe que precisa deixar testemunhas pra quando o mundo acordar.

A Missão Impossível que Mudou a Resistência Polonesa
A vida dele, como a de todos no inferno nazista, não foi fácil. Teve os dentes da frente arrancados por espancamento quando se recusou a segurar uma placa na boca. De seus bilhetes, relatórios e sussurros nasceu o que mais tarde chamaram de Relatório Witold.
Ele contava tudo: o gás Zyklon B, os fornos, a rotina que não deveria existir. Mandou isso pra fora, e adivinhe? Poucos acreditaram. A humanidade tem esse talento estranho de virar o rosto justamente quando deveria abrir os olhos.
Quando percebeu que sua presença no campo já era perigosa demais, Pilecki decidiu outra loucura: fugir de Auschwitz. E fugiu! Eu, no máximo, fujo de uma consulta médica. Ele escapou do campo pra contar o que viu. E contou. Em seguida, entrou de cabeça na Revolta de Varsóvia, porque, aparentemente, o homem tinha alergia a momentos de calmaria.
Depois da guerra, quando os nazistas foram substituídos pelos soviéticos, Pilecki continuou sendo... Pilecki. Lutou de novo! E aí veio o desfecho que me dá um certo embrulho no estômago: em 1948, o regime comunista polonês o executou num porão. Quando li isso pela primeira vez, ouvi a Senhora Derradeira pigarrear ao meu lado; ela conhece esses porões, esses silêncios, esses desaparecimentos.
E aqui entra a parte que eu mais gosto: não conseguiram apagá-lo. A memória de Witold Pilecki escapou pelos cantos, soprou nas frestas, encontrou quem a carregasse adiante. É isso que me anima: saber que certas vidas, mesmo cercadas pela Senhora Derradeira, se recusam a desaparecer.
E, cá entre nós, quando penso em heróis da Segunda Guerra Mundial, não penso em capas ou filmes. Penso em homens como Pilecki: cansados, famintos, com medo e ainda assim capazes de escolher o caminho mais difícil.
Se eu tivesse metade dessa firmeza, talvez até a Senhora Soledá me tratasse com mais delicadeza. Mas tudo bem. Hoje eu escrevo sobre ele, e isso, de algum modo, também me faz respirar melhor.
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