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Foto do escritorPaulo Pereira de Araujo

Vaticano, Opus Dei, Mussolini e Peregrinos de Aparecida


Origens e Primeiros Séculos do Vaticano


O Vaticano foi construído sobre o local onde São Pedro, apóstolo de Jesus e primeiro Papa, foi martirizado e enterrado. Acredita-se que ele foi crucificado no Circo de Nero, onde hoje se ergue a Basílica de São Pedro. A primeira Basílica foi erguida pelo imperador Constantino no século IV. Durante a Idade Média, os papas se tornaram líderes políticos, envolvendo-se em conflitos e alianças. No século XVI, a Basílica foi reconstruída, e artistas renascentistas como Michelangelo transformaram o Vaticano em um centro artístico e cultural. Em 1929, o Tratado de Latrão reconheceu o Vaticano como estado independente, com o Papa como soberano.


Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei


O Opus Dei, ou Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei, é uma prelazia pessoal da Igreja Católica, composta por leigos e sacerdotes. Fundado por Josemaría Escrivá em 1928, foi oficialmente estabelecido como prelazia pessoal em 1982 pelo Papa João Paulo II. Com mais de 60 mil membros, o Opus Dei tem como objetivo ajudar os fiéis a santificar suas vidas cotidianas por meio da espiritualidade e das virtudes cristãs. Embora enfrente controvérsias por seu caráter reservado, os membros buscam viver sua fé nas atividades diárias, promovendo a caridade e o apostolado pessoal ao respeitar a liberdade e as opiniões alheias.



Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida


A cidade de Aparecida, em São Paulo, é famosa pelo Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o maior templo católico do Brasil e segundo do mundo e, em primeiro, a Basílica de São Pedro. A devoção começou em 1717, quando pescadores encontraram a imagem da Virgem Maria no rio Paraíba do Sul, levada à construção do santuário após relatos de milagres.


Milhões de peregrinos visitam o local, especialmente em 12 de outubro. O atual santuário, iniciado em 1955, com capacidade para 30 mil pessoas, substituiu uma antiga capela de madeira e um santuário colonial. O complexo possui infraestrutura para grandes multidões, incluindo rampas, elevadores, ambulatório, praça de alimentação, lojas, parque de diversões e estacionamento para 2000 ônibus e 3000 carros, com segurança garantida por 200 agentes.

 

Vaticano e Mussolini


O Estado da Cidade do Vaticano foi formalizado pelo Tratado de Latrão, assinado em 1929 entre o Reino da Itália, representado por Benito Mussolini, e a Santa Sé, representada pelo Cardeal Pietro Gasparri. A "Questão Romana" surgiu após a unificação da Itália em 1870, quando Roma foi anexada e os papas se consideraram prisioneiros no Vaticano, recusando-se a reconhecer a autoridade italiana. O Tratado de Latrão resolveu o conflito ao reconhecer o Vaticano como estado soberano e regular as relações entre a Igreja e o Estado italiano, garantindo privilégios à Igreja e compensando-a pelas perdas territoriais devido à unificação italiana.



O que é Prelazia?


Prelazia é uma estrutura eclesiástica da Igreja Católica que designa uma jurisdição liderada por um prelado, não sendo uma diocese tradicional. Ela pode incluir paróquias ou comunidades religiosas. O Opus Dei é o exemplo mais conhecido de prelazia, caracterizando-se como uma prelazia pessoal onde seus membros, espalhados por diferentes dioceses, estão sob a autoridade do prelado do Opus Dei, que pode ser um bispo ou sacerdote.


Peregrinar é Preciso


Peregrinos são pessoas que viajam a locais sagrados motivadas pela fé, buscando uma conexão mais profunda com o sagrado e cumprindo promessas ou rituais. As peregrinações são comuns em várias religiões, como o cristianismo, que inclui destinos como Aparecida do Norte e Santiago de Compostela; o islamismo, com o Hajj a Meca; e o hinduísmo, com o sagrado rio Ganges. O Vaticano aprova e incentiva essas viagens como expressões da fé católica, ao permitir que os fiéis aprofundem sua relação com Deus e busquem as graças. A Igreja reconhece a importância da peregrinação para a renovação espiritual.



O Vaticano e a Segunda Guerra Mundial


Durante a Segunda Guerra Mundial, o Vaticano manteve a neutralidade e ofereceu assistência humanitária. O Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII na década de 1960, trouxe reformas que abriram a Igreja ao diálogo moderno. Papas recentes, como João Paulo II, Bento XVI e Francisco, abordaram questões globais como paz e justiça social. O Tratado de Latrão, assinado em 1929, estabeleceu a soberania do Vaticano, um estado independente de 44 hectares, e encerrou um conflito de quase 60 anos entre a Igreja e o Estado italiano ao reconhecer a independência papal e a fortalecer o regime de Mussolini ao obter o apoio da Igreja.

 

Autoflagelação na Opus Dei


São Josemaría Escrivá enfatizava que as melhores penitências vêm do cotidiano, como sorrir mesmo cansado. O Opus Dei promove a oração e a penitência para santificar a vida diária, incentivando a meditação, a participação na Missa, a confissão frequente e sacrifícios, valorizando a devoção a Nossa Senhora e a imitação de Cristo.


A autoflagelação, ou mortificação corporal, é praticada por alguns membros como forma de disciplinar o corpo e fortalecer a vida espiritual, utilizando métodos como o cilício. Essas práticas, que são voluntárias e discretas, visam a participação nos sofrimentos de Cristo, e são defendidas como métodos tradicionais de crescimento espiritual, desde que feitas com moderação.


Santo Comércio


A relação entre peregrinação e comércio é histórica e gera atividade econômica nas regiões sagradas. Cidades com santuários, como Aparecida do Norte, desenvolvem infraestrutura turística que inclui hotéis e restaurantes. Peregrinos compram artigos religiosos, como imagens e velas para enriquecer sua experiência. Eventos, como o Dia de Nossa Senhora Aparecida, atraem milhões de fiéis e aumenta a demanda por produtos e serviços que  geram empregos temporários. A peregrinação estimula o comércio local e os investimentos em infraestrutura, beneficia tanto visitantes quanto a comunidade e transforma essa prática espiritual em um motor econômico e de desenvolvimento local.

 

A igreja Católica foi Omissa aos Judeus e ao Nazismo?

 

A resposta da Igreja Católica ao Holocausto é debatida. O Papa Pio XII manteve uma postura de neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, condenando a violência e o racismo de forma geral, mas sem se referir explicitamente aos nazistas ou judeus. Embora criticado por não condenar claramente o Holocausto, o Vaticano ajudou secretamente judeus com documentos falsos e abrigo. Em 2020, os arquivos de Pio XII foram abertos para esclarecer as ações da Igreja. A relação da Igreja com o fascismo de Mussolini foi complexa. Embora inicialmente a Igreja apoiasse o regime, surgiram tensões, especialmente após as leis raciais de 1938. Pio XI criticou o racismo, e Pio XII adotou uma postura pragmática.



Comércio ou Exploração da Fé?


Embora seja economicamente importante, o comércio religioso em Aparecida também suscita discussões. Alguns críticos argumentam que, em certos casos, pode haver uma exploração da fé, ao transformar a devoção popular em oportunidade de lucro excessivo. Contudo, muitos veem esse comércio como uma forma legítima de sustentar a economia local, apoiar famílias e fornecer itens importantes para a prática religiosa. No geral, o comércio religioso em Aparecida é bem aceito pelos visitantes, que o enxergam como parte da experiência de peregrinação, mas a linha entre devoção e mercantilização da fé é algo frequentemente debatido.


A Relação do Opus Dei com o Regime Franquista


O Opus Dei tem enfrentado críticas ao longo de sua história, sendo visto como "a força mais controversa da Igreja Católica". O jornalista John Allen Jr. destaca a necessidade de contextualizar a relação do Opus Dei com o regime franquista na Espanha, já que Escrivá não se posicionou claramente sobre Franco, e alguns membros ocuparam cargos em governos franquistas.


Escrivá e seus sucessores negam o elitismo e ressaltam a diversidade entre os quase 100 mil membros. Críticas incluem alegações de secretismo, recrutamento controverso e apoio a regimes autoritários. Defensores do Opus Dei afirmam que a prelatura é injustamente caluniada e que é necessário distinguir o que é "mito" e o que é "realidade".



Consequências Imediatas do Pós-guerra


Em junho de 1944, os aliados entraram em Roma, onde o Papa Pio XII era a figura mais proeminente, devido à queda de prestígio do rei italiano após o fascismo. Havia até discussões sobre aumentar o poder temporal do papado. O Papa concedeu audiências a soldados e líderes aliados com ampla cobertura fotográfica. Durante a guerra, Pio XII não nomeou cardeais, o que resultou em vacâncias importantes como o Secretário de Estado e o Camerlengo.


Em 1946, após anunciar suas intenções no Natal anterior, ele finalmente nomeou 32 cardeais, preenchendo essas posições-chave. A pedido da Pave the Way Foundation (PTWF), em 2010, o Vaticano concordou com a digitalização e publicação online de quase 5.125 documentos do Arquivo Secreto do Vaticano, que vão de março de 1939 a maio de 1945. Alguns sobre a ação da Igreja e do Papa já estão on-line: a comunidade científica está solicitando a investigação de todos esses documentos.

 

Críticas ao Opus Dei


As críticas ao Opus Dei abordam alegações de secretismo, recrutamento controverso, regras rígidas, elitismo, misoginia e apoio a regimes autoritários, como o franquista na Espanha. Defensores da prelatura consideram essas críticas calúnias e afirmam que derivam da oposição aos seus valores em uma sociedade hedonista.


O vaticanista John Allen distingue o "Opus Dei do mito" do "Opus Dei da realidade". O Opus Dei, descrito como "a força mais controversa da Igreja Católica", ganhou atenção após a publicação do livro  O Código da Vinci, de Dan Brown, em 2003. O livro retrata a violência entre membros da Opus Dei. Em setembro de 2021, quarenta e três mulheres da Argentina, Paraguai e Bolívia denunciaram a instituição ao Vaticano, alegando tráfico de pessoas e exploração do trabalho֎

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