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  • Foto do escritorPaulo Pereira de Araujo

Orelhas sangrando, de Van Gogh a Donald Trump

Atualizado: 20 de set.


Ultimamente, tenho reparado nas orelhas das pessoas. Parece que elas crescem com a idade. As minhas ainda não deram sinais de crescimento, mas estou alerta. O que me levou a pensar nas orelhas foi o atentado contra Donald Trump. A corrida à Casa Branca está sonolenta, a sonolência própria de dois candidatos idosos. Isso não é ofensivo, tenho 68 anos e sei bem o que é ser idoso. Finalmente Joe Biden desistiu de uma campanha perdida a tempo de ceder seu lugar a outro candidato democrata. Vida que segue Biden.


Voltando à orelha de Trump, o jovem atirador Thomas Matthew Crooks, do alto de um telhado mirou em Trump e só acertou na orelha. Provavelmente, se a intenção era acertar a orelha trumpista, não teria conseguido. Thomas não teve tempo de conferir, foi abatido logo em seguida. Seria esta a única vez que um atentado termina em orelha sangrando? Não.



Grigori Rasputin, russo místico e influente na corte do czar Nicolau II, sofreu um atentado em 1916, resultando em um tiro na orelha dele, semelhante ao de Trump. Rasputin sobreviveu, mas foi posteriormente assassinado em circunstâncias misteriosas. O príncipe Félix Yusupov e co-conspiradores tentaram envenená-lo, mas falharam.


Yusupov atirou várias vezes em Rasputin. Mesmo ferido, ele fugiu do palácio, mas foi fatalmente atingido por vários tiros disparados por outros conspiradores. Seu corpo foi jogado no rio Neva, parcialmente congelado. Foi resgatado dias depois com sinais de que ele estava vivo ao ser jogado no rio e que, portanto, a causa da morte foi o afogamento. Não seria um simples tirozinho na orelha que daria fim a Rasputin.


Orelhas Sendo Orelhas


As orelhas são órgãos responsáveis pela audição e equilíbrio, compostas por três partes: externa, média e interna. A orelha externa capta ondas sonoras e as direciona pelo canal auditivo até o tímpano, na orelha média. Ossículos auditivos (martelo, bigorna e estribo) amplificam e transmitem vibrações para a orelha interna, onde a cóclea converte vibrações em sinais nervosos. O vestíbulo e os canais semicirculares detectam a posição e movimento da cabeça, enviando informações ao cérebro.


Automutilação da Orelha


Em dezembro de 1888, Vincent van Gogh cortou parte de sua orelha esquerda. Há várias teorias sobre o motivo exato que o levou a fazer isso.  A mais aceita é que ele estava passando por um episódio severo de crise mental. Durante grande parte da vida Van Gogh sofreu de problemas de saúde mental. Esse incidente ocorreu durante um período de grande tensão emocional e psicológica.


Uma das teorias é que o ato foi resultado de uma briga com seu amigo e colega artista Paul Gauguin, com quem ele estava compartilhando uma casa em Arles, França. Após a briga, Van Gogh teria ficado extremamente perturbado e, em um momento de desespero, cortou a própria orelha. Outra teoria sugere que ele fez isso como uma reação à notícia de que seu irmão Theo, com quem ele tinha um vínculo emocional muito forte, iria se casar, o que poderia ter causado um sentimento de abandono. Motivos à parte, o incidente é amplamente reconhecido como um reflexo da luta de Van Gogh contra sua saúde mental, que também influenciou muitas de suas obras mais famosas.


A orelha Mordida de Holyfield


Em 28 de junho de 1997, o pugilista Mike Tyson mordeu a orelha de Evander Holyfield numa luta de boxe. Foi durante o terceiro round da revanche entre Tyson e Holyfield. A luta ficou conhecida como "The Bite Fight" (A Luta da Mordida). Durante o combate, Tyson mordeu Holyfield duas vezes na orelha direita, arrancando um pedaço da cartilagem na primeira mordida. Como resultado, Tyson foi desqualificado da luta e perdeu sua licença de boxe, além de receber uma multa pesada.


Freud Não, Carl Jung Explica


Carl Jung, um dos fundadores da psicologia analítica, provavelmente analisaria os eventos relacionados às orelhas de Van Gogh, Rasputin, Holyfield e Trump por uma lente simbólica e arquetípica. Esta seria uma possível análise junguiana dessas manifestações entre várias orelhas, separadas no tempo e no espaço:


Orelhas como Símbolo – orelhas são simbolicamente associadas à capacidade de ouvir e compreender o mundo ao redor.


Ferimento nas orelhas – um ferimento na orelha pode simbolizar uma ruptura na capacidade de ouvir ou de ser ouvido e indica um conflito interno ou externo relacionado à comunicação e à percepção.


Van Gogh cortou parte da própria orelha, ato que Jung poderia ver como símbolo de profundo conflito interno e o desejo de ser compreendido. Pode representar uma tentativa de sacrifício para chamar atenção para sua dor interna ou um gesto de desespero em busca de conexão e entendimento. Jung poderia interpretar o ato de Van Gogh como uma manifestação extrema do processo de individuação, onde o inconsciente irrompe de maneira violenta devido à luta para integrar aspectos reprimidos da psique.

 

Evander Holyfield e Mike Tyson – o  incidente em que Mike Tyson morde a orelha de Evander Holyfield poderia ser visto como uma expressão de agressão primitiva e uma violação da integridade física e psicológica de Holyfield. Para Jung, o fato poderia interpretado como um arquétipo do guerreiro, a orelha mordida simbolizaria uma tentativa de desestabilizar e desumanizar o oponente, interrompendo sua capacidade de "ouvir" ou "compreender" a luta de uma maneira justa.



Simbologia da orelha de Trump – como já mencionado, a orelha é um símbolo de audição. O tiro na orelha de Trump poderia simbolizar um ataque à sua capacidade de ouvir e se conectar com os eleitores.


Jung poderia interpretar o ferimento de Trump como símbolo de um ataque direto à capacidade auditiva de Trump e uma ruptura na comunicação entre líderes e a sociedade, indicando uma necessidade de reavaliar como as mensagens são transmitidas e recebidas.

 

Contexto Psicológico e Morte do Atirador


Idade – Thomas Matthew tinha vinte anos; isso pode sugerir que ele estava em um estágio crucial de desenvolvimento psicológico, possivelmente enfrentando crises de identidade, conflito de valores e busca por significado.

 

Projeção e sombra – Jung veria o ato de Thomas como uma projeção de sua própria sombra, os aspectos reprimidos e não reconhecidos de sua psique. Atos de violência podem ser manifestações de conflitos internos e ressentimentos que não foram adequadamente integrados.

 

Desespero e busca por significado – a  tentativa de assassinato pode ser vista como um grito desesperado por significado ou uma tentativa de se afirmar de maneira drástica em um mundo onde ele se sente impotente ou alienado.

 

Arquétipo do rebelde – o ataque a uma figura de autoridade como Donald Trump poderia ser interpretado dentro do arquétipo do rebelde ou do revolucionário, uma expressão de desafio contra a ordem estabelecida e as figuras de poder.

 

Conflito coletivo e pessoal – talvez Jung pudesse ver o ato de Thomas como uma manifestação de um conflito maior e coletivo que se reflete na psique individual. A tensão social, política e cultural pode ter sido internalizada por Thomas, o que resultou em um ato extremo de violência.

 

A morte de Thomas Matthew poderia ser vista simbolicamente como um sacrifício, talvez refletindo o preço da rebelião e da luta contra o poder. Poderia também ser interpretada como a culminação de sua jornada psicológica, onde a destruição externa é uma manifestação de sua autodestruição interna. Sua morte também pode ser vista como o resultado inevitável de um conflito interno não resolvido, onde a violência interna se exterioriza de maneira trágica.



Provável Conclusão Junguiana


Carl Jung provavelmente veria o ato de Thomas Matthew Crooks como uma manifestação complexa de conflitos internos e coletivos, refletindo tensões não apenas na psique do indivíduo, mas também na sociedade. O ataque a uma figura de autoridade e o ferimento na orelha de Trump como símbolos de um conflito mais profundo entre o indivíduo e o coletivo e uma ruptura na comunicação e compreensão entre os líderes e o povo. O atentado poderia ser visto como um reflexo das tensões e conflitos coletivos que precisam ser abordados e compreendidos para promover uma integração e uma maior harmonia individual e social. Tais eventos são oportunidades para introspecção e crescimento e podem sugeir a necessidade de uma maior compreensão e integração dos aspectos sombrios tanto do indivíduo quanto da sociedade.


Jung analisaria esses eventos como manifestações simbólicas de conflitos internos e externos. Cada ferimento na orelha poderia ser interpretado como uma expressão do estado psicológico e do contexto de vida dos indivíduos envolvidos. Em Van Gogh, seria um símbolo de sofrimento e uma tentativa desesperada de comunicar sua dor. As mordidas na orelha de Holyfield seria um arquétipo de conflito e agressão, uma luta pelo poder e pela dominação. Em Trump, um ataque à capacidade de ouvir e de se comunicar com o público, possivelmente refletindo tensões e vulnerabilidades em sua posição de liderança֎ 


E você, o que acha? Teve orelhas demais na história? Deixe seu comentário, minha orelha não vai queimar por causa disso.


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